Japão não descarta possibilidade de retomar energia nuclear dois anos após Fukushima
Shinzo Abe ainda não revelou com clareza qual será sua política energética para o futuro, mas ofereceu pistas: 'Reativaremos os reatores nucleares quando confirmarmos que eles são seguros'
Dois anos depois do tsunami que atingiu Fukushima, o Japão passou do blecaute atômico ao planejamento da reativação de suas usinas, apesar dos protestos dos movimentos antinucleares. Com apenas dois de seus mais de 50 reatores nucleares operacionais, o novo governo japonês do conservador Shinzo Abe, ainda não revelou com clareza qual será sua política energética para o futuro, mas ofereceu pistas sobre sua posição. ‘Reativaremos os reatores nucleares quando confirmarmos que eles são seguros’, anunciou no início do mês de março.
Galeria de imagens — Japão continua reconstrução dois anos após tragédia
No caso de não reativar nenhum reator antes de setembro, o Japão voltará presumivelmente ao blecaute nuclear completo, como ocorreu entre maio e junho de 2012 pela primeira vez em 42 anos. Há também a necessidade de controlar o aumento do custo das importações de hidrocarbonetos que alimentam as centrais térmicas após o fechamento das nucleares, que antes do acidente forneciam 30% do abastecimento total do país. Neste sentido, apenas em 2012 as importações de hidrocarbonetos aumentaram 10,4% até cerca de 24 trilhões de ienes (R$ 500 bilhões), o que arrastou o Japão até seu maior déficit comercial histórico.
No entanto, apesar da contundência dos números, especialistas questionam a necessidade de retomar a energia nuclear no país. ‘O Japão não precisa de energia nuclear. É a opção mais cara de gerar eletricidade que existe’, afirmou Kenichi Oshima, professor de economia ambiental e política energética da Universidade Ritsumeikan, em Kioto. ‘Abe quer retomar as usinas nucleares, mas a opinião pública mostra que a maioria quer eliminá-las. Acho que, inclusive para Abe, será difícil.’
Até o momento, a maior central elétrica do Japão recebeu cerca de 3 trilhões de ienes (R$ 60 bilhões) do governo para cobrir os custos do acidente, e o contribuinte também arcou com aumento de 10% nas tarifas. Além disso, as operadoras elétricas japonesas terão que investir pelo menos 1,1 trilhões de ienes (R$ 23 bilhões) para implementar os novos padrões de segurança exigidos pelas agências reguladoras.
Manifestações –– Dezenas de milhares de pessoas protestaram neste domingo no Japão para exigir um abandono rápido da energia nuclear do país, na véspera do segundo aniversário da catástrofe de Fukushima. Em Tóquio, os manifestantes se reuniram em um grande parque do centro da cidade para ouvir shows ou discursos sonorizados graças à energia solar. Depois, marcharam em direção ao Parlamento, passando pelo bairro dos ministérios, para entregar aos deputados uma petição na qual exigem do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, no poder desde as legislativas de dezembro, o desmantelamento das centrais nucleares do país. “Sayonara (adeus), energia nuclear”, proclamava um cartaz.
Estas manifestações ocorrem um dia antes do segundo aniversário do terremoto e do tsunami de 11 de março de 2011, que deixaram cerca de 19.000 mortos na região de Tohoku (nordeste) e provocaram um acidente nuclear da central de Fukushima Daiichi. Esta catástrofe nuclear provocou a emissão de radiações massivas e obrigou 160.000 pessoas a abandonarem suas casas. Foi o pior desastre para o setor desde o de Chernobyl (Ucrânia), em 1986.
(Com as agências EFE e AFP)