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Itália: a prefeita que o mundo admira, mas a população rejeitou

Giusi Nicolini recebeu o Prêmio da Paz da Unesco e se tornou um símbolo mundial do acolhimento a refugiados, mas não conseguiu ser reeleita em Lampedusa

Por Angela Nunes Atualizado em 11 jul 2017, 16h03 - Publicado em 10 jul 2017, 17h57

No período em que esteve à frente da prefeitura de Lampedusa, uma pequena ilha da Itália, Giusi Nicolini ganhou projeção mundial e se tornou um símbolo do acolhimento a refugiados. No final de 2016, foi escolhida como uma das quatro mulheres que representam a “excelência” em seu país e acompanhou o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi a um jantar na Casa Branca com o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em abril deste ano, Nicolini recebeu o prestigioso prêmio Prêmio da Paz da Unesco. O reconhecimento internacional por ter “salvado a vida” e “acolhido com dignidade” inúmeros imigrantes, no entanto, não foi suficiente para que Nicolini conquistasse os votos necessários para se reeleger.

A agora ex-prefeita ocupava o cargo desde 2012, mas ficou em terceiro lugar nas eleições de junho, com apenas 908 votos dos cerca de 6.500 habitantes da cidade. Salvatore Martello, que recebeu 1.566 votos, elegeu-se novamente, quinze anos depois de deixar a prefeitura. A módica diferença de pouco mais de 600 votos é emblemática. Ilha mais ao sul do Itália, Lampedusa é uma importante porta de entrada para a Europa no Mediterrâneo. O país, que por sua localização geográfica e políticas humanitárias recebeu, apenas neste ano, mais de 85 mil imigrantes e refugiados, luta para lidar com crise migratória sem grande apoio dos vizinhos do bloco europeu.

Para o prefeito eleito, no entanto, a derrota de Nicolini não representaria uma rejeição da população aos refugiados, muitos deles acolhidos pelos cidadãos em suas próprias casas, mas um descontentamento com as prioridades da ex-governante.  “Não foi uma surpresa para nós que ela perdeu”, disse Salvatore Martello ao jornal The Guardian. Proprietário de um hotel e pescador, Martello foi prefeito da cidade entre 1993 e 2001. Durante a campanha, chegou a dizer que “não aguenta ver os migrantes pululando em todos os lugares”. Apesar disso, garante que a ilha continuará sendo acolhedora, mas que seu foco deve se concentrar em melhorar a vida das pessoas locais. “Nos anos em que foi prefeita, Nicolini criou uma imagem da ilha no exterior e priorizou a situação dos imigrantes, esquecendo seu povo”, disse.

De acordo com o The Guardian, a ilha italiana enfrenta problemas críticos na saúde, emprego e abastecimento de água. As instalações hospitalares locais atendem apenas problemas simples – não há nem mesmo uma maternidade – e pessoas que precisam de cuidados mais complexo precisam voar até a Sicília para receber atendimento.

A despeito da desaprovação local, Giusi Nicolini recebeu do ex-primeiro-ministro italiano o incentivo para seguir em frente. “Ele me disse para não me deixar abater e continuar com o trabalho. Eu respondi que eu vou fazer uma pequena pausa e continuarei com mais energia do que antes”, disse Nicolini ao jornal La República.

Além da mensagem particular para a ex-prefeita, Matteo Renzi postou um reconhecimento público em sua conta no Facebook. “Eu gostaria de agradecer a Giusi Nicolini. Nos últimos anos, ela tem sido um ponto de referência para muitos, na Itália e na Europa, envolvidos em um desafio cultural difícil: mostrar que os valores não cedem ao medo”, escreveu.  “Na política você pode ganhar, você pode perder. Mas a qualidade das relações humanas – se autêntica – nunca perde. Giusi, obrigado pelo seu esforço de tantos anos”, completou o ex-primeiro-ministro.

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