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Incerteza em uma Cuba sem Fidel

A Cuba deixada por Fidel aos 90 anos não é a mesma que foi dirigida por ele ao longo de quase cinco décadas

Por Da Redação 27 nov 2016, 14h19

Quando Fidel Castro governava, o acesso à internet e o trabalho privado em Cuba eram muito limitados. E, para uma americana como Corinne Dionne, professora de 34 anos, era difícil viajar para a ilha “proibida”. “Acho que Fidel é o passado e Raúl é melhor, mas muita gente não sabe o que vai acontecer no futuro”, disse Dionne.

O líder da Revolução Cubana, que morreu na madrugada de sábado aos 90 anos, dirigiu com mão de ferro a ilha que hoje se abre com cautela à internet, à atividade privada e a uma relação “de iguais” com os Estados Unidos, seu adversário da Guerra Fria. A Cuba deixada por Fidel aos 90 anos não é a mesma que foi dirigida por ele ao longo de quase cinco décadas, até que uma crise intestinal o obrigou a delegar o poder a seu irmão Raúl em 2006. Fidel já não comandava, mas para muitos cubanos nada acontecia sem seu consentimento.

Apegado ao socialismo e ao regime de partido único, seu irmão Rául flexibilizou o desgastado modelo de corte soviético, e restabeleceu relações diplomáticas com Washington, no governo de Barack Obama, que será substituído pelo imprevisível Donald Trump. Obama, que visitou Havana em março, ampliou as opções de viagem dos americanos à ilha e adotou outas medidas para suavizar o embargo vigente desde 1962.

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Incerteza

Dionne passeia por Cuba graças aos laços renovados entre Havana e Washington, enquanto Javier Madera, um estudante de engenharia de 24 anos, trabalha por conta própria em um loja de decoração de cerâmica amparado na abertura econômica. Ao mesmo tempo, o casal Indiana Valdés e Maykel Duquesne, que trabalha em um banco estatal, se comunica com seus familiares nos Estados Unidos de um dos 200 pontos de wi-fi, inexistentes na era de Fidel.

Em 2005, não havia mais de 165.000 trabalhadores liberais. Atualmente, esse número chega a meio milhão dentro de uma força de trabalho de cinco milhões de cubanos. Tudo isso simboliza as mudanças experimentadas por Cuba sem Fidel no comando, mas influenciando nos bastidores.

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Agora que o líder histórico morreu, e que Raúl, de 85 anos, está a pouco mais de um ano de sua anunciada aposentadoria do governo, a incerteza ganha forma, sobretudo enquanto os Estados Unidos aguardam a posse de Trump, que descreveu Fidel como um “ditador brutal”.

“Fidel era o protetor da ilha, estava em tudo. Não sei se haverá mudanças. Não sei o que dizer”, disse Valdés. A ponto de chorar, a mulher de 43 anos lembra os “muitos anos” que viveu sob o governo dos Castro. Sem Fidel o socialismo em Cuba continuará? Valdés olha para o mundo e ergue os ombros: “Não sei”.

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A quilômetros dali, a professora Dionne, que chegou há oito dias em Havana com 40 alunos, relata os telefonemas de pânico que recebeu dos pais após a morte de Fidel Castro. “Eles têm medo porque acham que haverá manifestações, marchas e protestos. Minha diretora queria que não saíssemos de noite e que adiantássemos a viagem de volta”, contou. Mas além do medo sem motivo, Dionne ressalta as dúvidas. “Enquanto me perguntam de Trump, eu lhes pergunto sobre a ausência de Fidel. O futuro é desconhecido”.

Vazio

Neste final de semana a capital cubana está diferente. Não há grupos de música nas esquinas, e o rum é vendido em poucos lugares como parte do luto nacional de nove dias, que acabará em 4 de dezembro com o enterro das cinzas de Fidel em Santiago de Cuba, no oriente da ilha.

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Em uma Havana estranhamente silenciosa, Armando Lobaina, de 50 anos, convidava com desânimo os turistas a pegar seu táxi. Como muitos, Lobaina confessa que chorou pela morte do pai da Revolução cubana. “Sem Fidel se sente um vazio”, disse.

Agora sem ele, espera que Raúl e seu futuro sucessor não acelerem as medidas para evitar um colapso do sistema socialista ao qual Lobaina atribui “coisas boas”, como a saúde e a educação gratuitas.

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“Fidel achava que não se podia confiar nem um pouquinho nos americanos. Raúl parece que confiou, mas o que Fidel plantou é difícil que se perca”, argumentou.

Ainda assim Lobaina tem dúvidas. “As coisas estão mudando passo a passo, e a coisa não pode se precipitar porque há pessoas que não gostam de mudanças. Tudo dependerá agora dos que estão em cima”, diz em referência à cúpula do Partido Comunista cubano.

(com Agence France-Presse)

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