Franceses começam a votar e militantes disputam voto a voto
Na reta final da campanha eleitoral francesa mais concorrida da história, militantes passaram a semana disputando o voto dos parisienses mais pobres
Josephine Staro tem 24 anos e vota na direita. Oriane Dioux tem 27, e quer a esquerda no poder. Na reta final da campanha eleitoral francesa mais concorrida da história, elas passaram a semana disputando lado a lado o voto dos parisienses mais pobres, em grande parte imigrantes, no norte da capital. A França metropolitana só vai às urnas amanhã, mas a votação começou neste sábado pelas ilhas de Saint-Pierre e Miquelon, território ultramarino localizado na costa do Canadá.
Outros seis departamentos franceses espalhados pelo mundo dão a largada no pleito ainda hoje. Josephine, estudante e auto empreendedora, e Oriane, jornalista científica freelancer, acordaram cedo quase todos os dias da semana final da campanha para distribuir panfletos na saída da estação de metrô Max Dormoy, no bairro de La Chapelle, um dos mais populosos e de menor renda per capita da capital francesa.
Campanhas eleitorais na França estão longe de apresentar a poluição visual verificada no Brasil – não há bandeiras nas ruas, adesivos nos carros ou nas janelas das casas. Não há comitês de campanha abertos ao público, “bandeiraço”, carreata nem propaganda eleitoral na TV. Quem caminha pelas ruas, em geral, só sabe que há uma eleição por causa dos cartazes com o rosto de cada um dos candidatos fixados em frente aos locais votação algumas semanas antes da eleição.
Mas o fato inédito de que pelo menos quatro candidatos podem chegar ao segundo turno mudou levemente este cenário. Os pouquíssimos pontos percentuais que separam Emmanuel Macon, Marine Le Pen, François Fillon e Jean-Luc Mélenchon nas pesquisas levaram militantes a distribuir panfletos e fazer a tradicional campanha “corpo a corpo” nas saídas do metrô ao longo de toda semana. A impressão é de que cada voto poderá contar no dia da eleição.
Em uma região de perfil popular e que tradicionalmente vota na esquerda, Josephine encontrou menor receptividade ao tentar convencer os passantes a votar por François Fillon, que carrega a fama de elitista. Ela não tem dúvida de que o candidato conservador, que está em terceiro nas pesquisas, pode ser uma boa opção também para os mais pobres: “Ele propõe uma reforma da previdência que trará mais igualdade nas aposentadorias, além de mais igualdade também nas ajudas sociais oferecidas pelo governo. Quando tivermos estas duas coisas, seremos um país mais livre”, acredita Josephine, celebrando as reformas liberais que são o centro do projeto de Fillon.
Para Oriane, a proposta do candidato radical de esquerda Jean-Luc Mélanchon de promulgar uma 6ª constituição francesa é o que favorecerá mais a população de baixa renda e os imigrantes que ela tentava convencer na saída do metrô. “Também acredito na ambição ecológica dele, com sua ideia de passar para uma energia 100% renovável, além da renegociação do acordo da União Europeia, que Hollande prometeu e não fez”, completa.
A falta de militantes de Emmanuel Macron e de Marine Le Pen disputando o voto da região mais pobre de Paris não chega a surpreender. No caso de Macron, líder nas pesquisas, parecem faltar militantes. Liderando um movimento fundado há apenas um ano, o En Marche!, Macron parece mobilizar a classe média de centro que tradicionalmente não milita ou se engaja em campanhas políticas.
Já o eleitorado de Marine Le Pen passa bem longe do bairro de La Chapelle, bairro povoado pelos imigrantes africanos e seus descendentes franceses que o Front National tanto combate. A campanha corpo a corpo de Marine tem força nos rincões da França profunda, de vilarejos e zonas rurais onde, ironicamente, a presença de imigrantes é quase uma miragem.