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França dividida: terreno fértil para Macron

O candidato independente diz que seu movimento não é “nem de direita nem de esquerda", assim como 34% dos eleitores franceses

Por Gabriel Brust, de Paris
Atualizado em 20 abr 2017, 17h56 - Publicado em 20 abr 2017, 17h38

Os eleitores franceses que se dizem moderados, ou “de centro”, representam 34% do total, perdendo apenas – e por pouco – para os direitistas, que são 36,3%. Embora socialistas e comunistas tenham pelo menos quatro candidatos nesta eleição, apenas 22,5% dos franceses hoje se consideram de esquerda. É precisamente neste cenário que o candidato do movimento En Marche!, Emmanuel Macron, soube se inserir, em uma tentativa de trazer para a França o modelo escandinavo que alguns chamam de “flexi-seguridade” social.

Os franceses não têm dificuldade em se auto rotular politicamente: no levantamento realizado pela Fundação Jean Jaurès em parceria com dois institutos de pesquisa, apenas 7% dos entrevistados não souberam ou quiseram se posicionar.

Em uma situação inversa ao que acontece no Brasil – onde quase todos os partidos se dizem de centro –, na França historicamente faltam candidatos moderados. Posicionados claramente à esquerda ou à direita – seja radical ou moderada –, eles deixam de contemplar pelo menos um terço dos eleitores que se dizem de centro.

Na liderança das pesquisas deste primeiro turno com 24% das intenções de voto – tendo ultrapassado Marine Le Pen no último mês de campanha –, Emmanuel Macron e seu movimento se dizem “nem de direita nem de esquerda” A direita, embora maioria entre a população, na eleição está dividida entre Marine Le Pen, e François Fillon. Mas engana-se quem pensa que eles poderiam somar forças: as diferenças ideológicas entre a extrema-direita e a direita “republicana”, como chamam na França, são irreconciliáveis. Enquanto Fillon se propõe a ser uma Margareth Thatcher do século XXI, liberalizando a economia, Le Pen sonha com uma França fechada e protecionista.

Dos cinco candidatos que largaram com alguma chance de chegar ao segundo turno, dois estão à direita (Le Pen e Fillon) e dois à esquerda (Benoît Hamon e Jean-Luc Mélenchon). Sobrou a vasta planície de centro para Macron. Gilles Finchelstein, diretor da Fundação Jean Jaurès, diz que o candidato do movimento Em Marche! está no lugar certo na hora certa. “O lugar certo, quer dizer o centro, onde se encontram os franceses. A hora certa, quer dizer este momento em que os partidos tradicionais, de forma surpreendente, abandonam o espaço central”, explica Finchelstein na conclusão da pesquisa.

Modelo escandinavo

Mas o que é ser “nem de esquerda, nem de direita” para Emmanuel Macron? A proposta para reformar o seguro desemprego é uma boa ilustração desta posição social-liberal, que propõe ao mesmo tempo flexibilizar o mercado de trabalho para continuar a distribuir renda através das imensas políticas de bem-estar social francesas.

Por um lado, Macron propõe um seguro-desemprego ainda mais generoso que o atual, estendido a trabalhadores independentes e até mesmo a quem pedir demissão. Por outro, quer uma fiscalização rigorosa que hoje não existe, em que o segurado deixa de receber os benefícios caso recuse um número determinado de ofertas de trabalho.

O modelo, claramente inspirado nos países escandinavos, é definido por alguns como flexi-seguridade, e tem na França o economista Philippe Aghion como um de seus principais teóricos. Aghion, que esteve no governo Hollande, agora apoia Macron e deve compor sua equipe de governo. De resto, as propostas do jovem candidato de 39 anos estão mais para o lado da direita liberal do que da esquerda: extinção do imposto sobre habitação para 80% dos franceses, redução no imposto para empresas e demissão de 120.000 funcionários públicos.

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Há, no entanto, pelo menos duas pedras no caminho de Emmanuel Macron. Primeiro, que a eleição não está ganha. Longe disso. A campanha está marcada por uma forte mobilidade eleitoral, com quedas e ascensões rápidas, e a quantidade de abstenções poderá ter um papel importante no dia do voto.

Segundo, que nada garante que Macron não será um governo Hollande II, no sentido de que terá dificuldade para aprovar reformas. Incluindo a inclinação social-liberal, tudo na candidatura do En Marche! se parece com o governo anterior que, sem apoio do próprio partido, entrou para a história como uma das administrações mais medíocres da 5a República francesa.

Emmanuel Macron quer reformar um país que “de tempos em tempos até faz uma revolução, mas nunca reformas”, como dizia o filósofo liberal Raymond Aron (1905-1983), autor do célebre “O Ópio dos Intelectuais”.

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