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Filhos de Monstros: quem são e como vivem os filhos dos ditadores

Autor fala sobre o destino dos descendentes de alguns dos mais perigosos e odiados ditadores dos séculos XX e XXI

Por Julia Braun
Atualizado em 9 mar 2017, 12h00 - Publicado em 3 jan 2016, 09h51

O ferroviário Jean-Marie Loret, que viveu na França durante o século XX, afirmava ser filho ilegítimo de um dos homens mais odiados do planeta, Adolf Hitler. Além da peculiar semelhança física, Loret usava uma história contada por sua mãe como prova do parentesco. Segundo ele, sua mãe teve um caso com o ditador alemão durante a I Guerra Mundial, quando Hitler era apenas um soldado raso. Apesar da recusa de muitos historiadores em aceitar a versão de Loret, o francês se dizia muito orgulhoso de seu pai.

Depois de alguns anos usando o pseudônimo Romano Full, o pianista de jazz, pintor e cineasta decidiu que seu verdadeiro sobrenome poderia lhe conceder fama maior: Mussolini. Casado com a irmã da atriz Sophia Loren, o filho do fascista italiano costumava defender seu pai, tentando transformar sua imagem de déspota violento em um político benevolente. Em outro caso, a filha de Fidel Castro, Alina Fernandez, fugiu de Cuba em 1993 usando documentos falsos e pediu asilo nos Estados Unidos. Ela tornou-se uma obstinada crítica do governo cubano e escreveu uma autobiografia descrevendo a vida com seu pai e as mudanças em Cuba nos últimos anos.

Crescer e ser educado por homens poderosos e cruéis como Benito Mussolini, Fidel Castro e Josef Stalin marca a vida de uma criança. Alguns dos filhos dos mais poderosos e tirânicos homens da história ficaram ao lado de seus pais durante os anos de domínio. Outros se voltaram contra seu império e denunciaram seus atos de crueldade. Os sucessores muitas vezes se mostraram tão bárbaros quanto seus mentores.

Em seu livro Children of Monsters (Filhos de Monstros, em tradução livre), publicado nos Estados Unidos, o jornalista americano Jay Nordlinger tentou investigar o que aconteceu com os descendentes dos mais cruéis ditadores dos séculos XX e XXI. Em entrevista ao site de VEJA, o autor fala sobre a possibilidade de crianças criadas por tiranos se tornarem adultos comuns, a selvageria de ditadores que massacravam vítimas na frente de seus filhos e o destino daqueles que quebraram laços familiares por causa da conduta de seus pais.

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Após toda sua pesquisa, o senhor acredita que filhos de ditadores podem crescer e se tornar pessoas normais? É muito difícil, mas possível. Vários dos filhos de Hideki Tojo [general e primeiro-ministro durante a II Guerra, fiel aliado de Hitler], do Japão, se tornaram pessoas normais. Assim como a filha de Francisco Franco [ditador espanhol entre 1938 e 1973], Carmen. Um dos filhos do ditador romeno Nicolae Ceausescu [1965 – 1989] é físico e também leva uma vida normal. Até mesmo a filha de Pol Pot [ditador cambojano entre 1963 e 1981] leva hoje uma vida normal.

Alguns desses filhos e filhas se tornaram ainda mais cruéis que seus pais? Talvez igualmente cruéis. Os sucessores costumam se tornar pessoas tão bárbaras quanto seus pais. Os dois Kim [Kim Jong-il e Kim Jong-un] na Coreia do Norte, por exemplo, e Bashar Assad [filho do também ditador Hafez Assad], na Síria. Um dos filhos de Nicolae Ceausescu, Nicu, era um jovem terrível também, que matava e estuprava à vontade sem que ninguém o impedisse. Mobutu Sese Seko, ditador do Zaire [1965 – 1997], tinha um filho tão cruel que seu apelido era Saddam Hussein [ditador iraquiano entre 1979 e 2003]. Ele matava sem piedade qualquer um considerado desleal ao regime de seu pai.

Quando os filhos dos ditadores deixam de ser inocentes e para se tornarem parceiros nos crimes? Existe uma idade certa para que o “instinto de ditador” floresça? Eles devem tomar uma decisão quando se tornam adolescentes, antes dos 20 anos. Devem se perguntar se querem ser leais a seus pais e fazer parte do culto que os envolve. É natural que os filhos amem seus pais, mas se torna bem complicado quando seu pai é um ditador cruel.

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O ex-ditador de Uganda, Idi Amin, costumava massacrar prisioneiros na frente de seus muitos filhos. Quais outros ditadores não poupavam seus filhos de seus atos de crueldade? Muitas dessas crianças cresceram em meio à brutalidade e consideram isso algo natural. Foi o que aconteceu com os dois filhos homens de Saddam Hussein e com Bashar Assad, que via toda a matança acontecer. O filho de François Duvalier, ditador do Haiti entre 1957 e 1971 – que recebeu o apelido de Baby Doc, em referência ao seu pai, Papa Doc – também foi educado com crueldade. Muitas dessas crianças cresceram com tanto poder e privilégios que sentem que podem fazer o que quiserem, inclusive cometer assassinatos impunemente.

Uma das filhas de Fidel Castro, Alina Fernandez, foi contra as ações de seu pai e fugiu para os Estados Unidos. Que outros filhos de ditadores também se rebelaram contra seus pais? Lana Peters, após a morte de seu pai, Josef Stalin [ditador russo entre 1922 e 1953], também fugiu para os Estados Unidos. Quando era criança, tinha uma relação muito boa com Stalin, mas quando completou 16 anos, se tornou rebelde como outros adolescentes. Seu pai então virou as costas para ela pelo resto de sua vida. A partir daí, Lana teve uma vida muito conturbada, se converteu para o cristianismo e desertou para os Estados Unidos. Mas na maioria das vezes, esses filhos e filhas sabem que é melhor não desafiar seus pais.

Seu livro também conta a história das filhas mulheres de Mussolini e Saddam Hussein, que tiveram seus maridos assassinados por seus próprios pais. Isso é algo frequente na história? Na verdade, é algo raro. Mas aconteceu com o marido de Edda Mussolini e com dois genros de Saddam Hussein. Os maridos das filhas de Saddam temiam que seus cunhados os matassem, para atestarem seu poder. Eles fugiram para a Jordânia e meio ano depois voltaram para o Iraque sob a promessa de que estariam seguros. Mas Saddam os matou imediatamente.

Kim Jong-un não é o filho mais velho de seu pai, Kim Jong-il. Dois dos irmãos mais velhos de Kim Jong-un falharam em suceder seu pai. O mais velho, Kim Jong-nam, havia sido apontado como o sucessor natural, mas tentou entrar no Japão usando um passaporte falso e foi preso. O outro irmão, Kim Jong-chul, foi descartado na linha de sucessão porque seu pai o considerava “muito feminino”. O senhor conhece alguma outra história sobre ditadores que tiveram problemas para escolher seu sucessor? O primeiro Kim, Kim Il-sung, também teve de fazer uma escolha sobre qual filho seria seu sucessor. E ele escolheu Kim Jong-il. É verdade que Jong-il era o filho mais velho, mas havia outros filhos que lutavam pela sucessão também. Hafez Assad escolheu seu filho mais velho, mas ele foi morto em um acidente de carro, então teve de ser Bashar, o segundo filho. Papa Doc teve de escolher entre sua filha mais velha e seu único filho homem. Ele decidiu que não poderia escolher uma mulher, então nomeou seu filho, Jean-Claude Duvalier, que tinha apenas 19 anos e era completamente incapaz de liderar. Muamar Kadafi [ditado da Líbia entre 1969 e 2011] também teria que tomar uma decisão entre quatro de seus filhos, mas ele foi deposto e morto antes que isso pudesse acontecer.

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