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EUA: convenção republicana dá início a atividades

Encontro, adiado por causa da tempestade tropical Isaac, oficializa Mitt Romney como o homem que enfrentará Barack Obama nas urnas em novembro

Por Da Redação
28 ago 2012, 13h23

Nesta terça-feira, terão início as atividades da 40ª Convenção Nacional Republicana em Tampa, na Flórida. Apesar de a abertura oficial ter acontecido ontem, o evento foi suspenso por cerca de 24 horas, em razão da tempestade tropical Isaac, que ameaça a região. O encontro, que acontece até quinta-feira, designará oficialmente Mitt Romney como candidato do partido à Presidência e Paul Ryan como seu vice-presidente nas eleições de 6 de novembro, ocasião em que enfrentarão o atual presidente, Barack Obama, e seu vice, Joe Biden.

A convenção do partido republicano está sendo realizada no Tampa Bay Times Forum, um imenso complexo esportivo situado no centro da cidade, e deve reunir cerca de 2.286 delegados e 2.125 suplentes, além de 15.000 jornalistas. Seus organizadores preveem uma ampla participação da população, com a utilização maciça de redes sociais por meio de aplicativos desenvolvidos especialmente para Facebook, Twitter, Google+ e um canal no YouTube, além da cobertura da mídia tradicional.

A cidade de Tampa foi escolhida para sediar o encontro por reunir uma amostra do eleitorado indeciso e contar com um grande número de delegados do Colégio Eleitoral, que são considerados cruciais para a eleição. Para Carol Weissert, professora de ciência política da Universidade Estatal da Flórida, este estado continua sendo “chave” para a eleição presidencial porque é o “maior” entre aqueles que não se decidiram.

Pesquisas – A menos de dois meses da disputa nas urnas, as pesquisas dão ao político republicano, de 65 anos, entre 39 e 47% das intenções de voto em nível nacional, contra 46 a 52% para Obama, de 51 anos, sendo que Romney figura na retaguarda das sondagens em estados que podem decidir a eleição além da Flórida, como Ohio, Virgínia, Iowa, Wisconsin e Michigan, segundo informações do site Real Clear Politics.

Califórnia, Texas e Nova York são os estados que superam ou igualam a Flórida em delegados do colégio eleitoral nos Estados Unidos, onde é preciso conquistar a maioria do total nacional de 538 delegados para ocupar a Casa Branca. Mas entre todas estas localidades, a Flórida é o único estado que não apresenta uma tendência clara do partido que será mais votado por seus eleitores, e sua diversidade demográfica a converte em campo de uma batalha política.

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Weissert destacou que o atual presidente venceu na Flórida em 2008 por uma margem muito estreita, especialmente porque a “participação dos jovens e democratas foi enorme”, e agora ele “precisa fazer isso outra vez para vencer em 2012”.

A Flórida é o destino dourado de milhares de aposentados dos Estados Unidos, capital das gerações mais antigas do exílio cubano, que historicamente votaram nos republicanos, e também sede de novas comunidades hispânicas, especialmente a de Porto Rico, que vota de forma indiferente entre democratas e republicanos. A região conta com uma população de 19 milhões de pessoas. Desses, 17,6% têm mais de 65 anos – acima da média nacional de 13,3%, segundo o censo de 2010 -, 78,5% são brancos, 22,9% são de origem latina e 16,5% são afroamericanos. “Tampa é muito representativa desta diversidade”, disse, por sua vez, Susan McManus, cientista política da Universidade do Sul da Flórida.

“Apesar de seus problemas econômicos e do alto desemprego, a Flórida é um estado rico e um cofre para os candidatos que buscam dinheiro durante a campanha”, disse à agência AFP Larry Sabato, professor de Ciência Política da Universidade da Virgínia. Para ele, a escolha de Tampa era óbvia, pois a cidade conta com uma população de mais de 4 milhões de pessoas. “É muito difícil ver como Romney pode vencer (o pleito) sem ganhar na Flórida. Seus 29 delegados do Colégio Eleitoral, que são os encarregados de selecionar oficialmente o presidente do país, são fundamentais para que vença”, afirmou Sabato.

Romney durante convenção da maior organização afro-americana dos EUA
Romney durante convenção da maior organização afro-americana dos EUA (VEJA)
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Romney – Nascido em Detroit, em 1947, em uma família abastada, ele é filho de um empresário que já governou o estado de Michigan. Romney se casou em 1969 com Karen Romney, com quem teve cinco filhos, que lhe deram 16 netos. Mórmon, já foi missionário da sua igreja, quando batia de porta em porta para converter fiéis. O político é criticado por ter passado a maior parte da sua carreira no setor privado mesmo já tendo atuado como governador de Massachussets. Apesar das críticas, é a sua carreira milionária à frente do fundo de investimento Bain Capital, que o ajuda a bancar os custos com a campanha, conferindo-lhe mais força política. Além disso, ele já tinha uma rede de financiadores e apoiadores que “sobraram” da sua tentativa fracassada de nomeação republicana em 2008.

Em abril deste ano, Romney ficou praticamente sozinho na disputa para representar a legenda republicana nas eleições, após a desistência de Rick Santorum, seu principal rival nas prévias, seguindo sua campanha tranquilamente, apenas com oponentes de pouco peso. Ele, no entanto, teve dificuldades de cativar a parcela mais conservadora do partido por causa de seu passado “liberal”. Desta forma, ele passou a campanha republicana inclinando-se à direita para agradar os radicais insatisfeitos e agora terá de se voltar ao eleitor médio para uma competição mais equilibrada com Obama. Isso, no entanto, não deve ser um problema para Romney, que já demonstrou sua capacidade de se moldar de acordo com as circunstâncias. Em 2011, por exemplo, ele se recusou a assinar um compromisso contra o aborto, colocado em pauta por uma organização radical. Durante sua campanha, no entanto, ele se voltou contra a interrupção da gravidez, dizendo que era “firmemente a favor da vida”. Outra mudança de postura foi em relação à reforma de saúde proposta por Obama – ele promete revogar a medida se for eleito presidente, mas, quando era governador, assinou uma lei de saúde em Massachusetts muito semelhante ao projeto do democrata.

Com sua mandíbula quadrada, olhos brilhantes e cabelo imóvel, ele tem a pose perfeita de presidente americano, mas além de desagradar os mais conservadores, sua riqueza o distancia da classe média e a sua religião levanta críticas em um partido com uma base dominada por cristãos. Gostando ou não, Romney sempre foi o candidato republicano com mais chances de derrotar Obama nas eleições de novembro – e agora ele finalmente será nomeado para isso. O próximo passo do candidato é se reerguer e usar toda a experiência acumulada nas primárias para seduzir os eleitores indecisos.

Hispânicos – Com um déficit de intenções de voto entre a comunidade latina dos Estados Unidos, o Partido Republicano vai se basear no discurso sobre a recuperação econômica e em figuras carismáticas como o senador cubano-americano Marco Rubio para atrair os votos da comunidade hispânica.

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De acordo com uma pesquisa divulgada na última quarta-feira pela imprensa americana, 28% dos eleitores hispânicos votariam no candidato republicano, contra os 63% que optariam pelo atual presidente. Por outro lado, a popularidade de Rubio vem crescendo no país desde sua entrada no Capitólio, em 2011: 42% dos eleitores americanos têm uma opinião favorável em relação ao senador, enquanto 31% têm uma opinião contrária, segundo uma pesquisa de junho do instituto Rasmussen Reports. Por isso, o carismático hispânico de 41 anos deve ser o responsável por apresentar Romney como candidato do partido à Presidência dos EUA em sua nomeação oficial, segundo fontes da organização.

Para o diretor-executivo da Associação Latina para os Princípios Conservadores, Alfonso Aguilar, a Convenção Republicana demonstrará que se trata de “um partido aberto aos latinos e que está buscando líderes hispânicos para postos importantes em nível nacional”.

Desta forma, também devem estar presentes no evento Susana Martinez, governadora do Novo México, a primeira mulher de origem hispânica a ostentar um cargo deste nível, Luis Fortuño, governador de Porto Rico, Brian Sandoval, governador de Nevada, além do candidato republicano ao senado, Ted Cruz. Filho de um cubando, este último se tornou nas últimas semanas na figura que concilia as origens hispânicas com os valores do movimento ultraconservador do Tea Party. Sua aparição em Tampa demonstra segundo Ortega, que o Partido Republicano “está absorvendo elementos” do movimento conservador “e sua ideia de que os candidatos têm que responder ao povo e não à classe dirigente”. Para atrair o eleitorado latino, Aguilar acredita que “é importante que existam figuras hispânicas na liderança nacional, mas isso não é suficiente”.

Neste sentido, os analistas acham que este ano os republicanos podem conseguir mais apoio entre os hispânicos através de sua mensagem, porque se falará muito de desemprego e de economia. “Os republicanos podem explorar o fato de que o presidente Obama não cumpriu a promessa de melhorar a economia”, afirmou o porta-voz da Heritage Foundation.

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Segundo o instituto de pesquisas Gallup, 20% dos hispânicos acreditam que o tema mais importante destas eleições é o desemprego, 17% o crescimento econômico, 11% as desigualdades econômicas e 7% o déficit federal. A outros 20% de latinos lhes preocupa, acima de tudo, a questão da imigração. Este, segundo os analistas conservadores, é o tema mais espinhoso para Romney, embora Aguilar acredite que o republicano está se aproximando de um “tom mais conciliador”. Assim sendo, os republicanos estão se focando em ganhar o voto hispânico na Flórida, onde os debates sobre imigração não preocupam a maioria dos latinos, porque não dependem de vistos (os porto-riquenhos) ou têm um status especial (os cubanos).

A ativista conservadora e política Sarah Palin discursa durante o lançamento do “Tea Party Express”, uma iniciativa para eleger conservadores para a Câmara e Senado. Reno, 18 de outubro de 2010 (VEJA)

Tea Party – Pela primeira vez desde sua aparição em 2009, em plena crise financeira nos Estados Unidos, o Tea Party, movimento civil que luta por uma menor intervenção do governo na economia, poderá medir sua força em uma convenção do partido. O movimento ultraconservador chega à convenção com mais peso e mais aliados-chave na cúpula da formação, como o candidato à vice-presidência, Paul Ryan, que não esconde sua simpatia com o grupo e compartilha com eles a visão econômica de reduzir a despesa social para diminuir o déficit. Também quer acabar com políticas que considera do modelo “socialista à europeia”, como a reforma da saúde aprovada pela Casa Branca, que em sua opinião vai quebrar o país.

Figuras da velha guarda republicana, como o candidato presidencial de 2008 e senador, John McCain, são inimigos declarados do movimento, que já impôs parte de sua agenda em temas como o aborto, a educação, a sexualidade ou a economia. O Tea Party tem também divergências com o próprio Romney, que o grupo considera progressista demais, apesar de não parecer querer criar escândalos nem pôr em risco as possibilidades do candidato chegar à Casa Branca

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A prova desse cuidado é a pressa com que o Tea Party Express, o maior comitê de ação política vinculado ao grupo, pediu ao congressista Todd Akin que abandonasse sua campanha de senador, apesar do polêmico político conservador ser uma de suas apostas. Akin levantou uma tempestade política ao afirmar que uma mulher que sofreu estupro tem mecanismos naturais para não engravidar, por isso o aborto não seria justificado.

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As declarações do congressista republicano Todd Akin (à esq.) foram criticadas tanto pelo presidente Barack Obama quanto pelo candidato republicano Mitt Romney
As declarações do congressista republicano Todd Akin (à esq.) foram criticadas tanto pelo presidente Barack Obama quanto pelo candidato republicano Mitt Romney (VEJA)

Aborto – O comitê de plataforma do Partido Republicano dos Estados Unidos, que decide uma postura comum antes da convenção da formação na próxima semana, reafirmou na semana passada sua posição contrária ao aborto, sem especificar exceções como em caso de abuso. A plataforma, dirigida pelo governador da Virgínia, Bob McDonnell, pactuou uma postura conjunta que “reivindica a santidade da vida humana e afirma que o feto tem o direito individual fundamental à vida”. O comitê persegue, além disso, uma emenda constitucional para proibir este direito, rejeitando várias propostas de maior flexibilidade não só perante a interrupção da gravidez, mas também diante das uniões entre pessoas do mesmo sexo.

O tema aborto em caso de abuso sexual veio à tona nesta semana nos EUA depois que o congressista republicano Todd Akin deu declarações dizendo que um “estupro real” raramente causa gravidez, já que o corpo rejeita a concepção, a seu ver, de forma natural.

Grupos do partido pediram que sejam considerados todos os pontos de vista em “saúde reprodutiva e liberdade de casamento”, em referência às uniões entre pessoas do mesmo sexo, outro tema que não teve avanço pela oposição mais conservadora. Quatro grupos dentro do Partido Republicano, entre eles um de católicos e outro de mulheres judias, pediram que as opiniões não fossem restritas por “pontos de vista fechados e baseados na fé”. “Os republicanos de boa fé não a utilizam para discriminar”, opinou Ann Stone, da Republicans for Choice, que pediu uma maior tolerância nas decisões relacionadas a aborto ou contracepção e solicitou que deixem que as mulheres tomem esse tipo de decisão.

Uma das delegadas da convenção republicana em Tampa, Barbara Fenton, de 31 anos, disse que na sua geração “a homossexualidade já não é o maior problema do mundo” e pediu uma mudança a respeito das opiniões sobre uniões de pessoas do mesmo sexo, já que o partido corre o risco de ficar defasado com os avanços da sociedade. No entanto, o casamento homossexual é visto pelo partido como algo errado, já que para esse tema foram impostas posturas dos mais conservadores que defendem “o casamento tradicional” como peça essencial de uma sociedade.

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