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Em Berlim, a bicicleta voltou a ser chique

Na capital alemã, para cada mil habitantes há 720 bicicletas e apenas 320 carros. Todos os anos são investidos 5,5 milhões de euros na segurança das ciclovias

Por Luciana Rangel, de Berlim
10 jun 2012, 08h02

A moda na Alemanha no momento é a “Porsche das bicicletas”, a Koga-Miyata Spyker Aeroblade. Com guidão de titânio, rodas de carbono e alumínio e um banco de couro, pesa sete quilos e 12.000 euros

No começo do século, os sininhos das bicicletas faziam parte da trilha sonora permanente de Berlim. Na década de 1950, a proliferação dos automóveis relegou as ‘magrelas’ às crianças e aos pobres. Com o planejamento da cidade e do tráfego em outro rumo, pedalar saiu de moda, além de não ser algo lá muito seguro. A queda do Muro de Berlim em 1989 acabou ajudando a derrubar o preconceito e a pavimentar um novo caminho para os ciclistas e toda forma de transporte mais saudável e ecologicamente correto. O resultado é que, nos dias de hoje, pedalar tornou-se “chique”, e a bicicleta foi incorporada pelas políticas públicas, que dão preferência a um transporte que, em troca, ajuda a cidade a ser mais limpa, silenciosa e menos engarrafada. No momento em que políticas sustentáveis são discutidas no mundo todo, com destaque para a Rio+20, no Rio de Janeiro, nos dias 20, 21 e 22 deste mês, o exemplo de Berlim parece inspirador.

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A proporção de bicicletas e habitantes hoje é bastante favorável em Berlim. Para cada mil habitantes há 720 bicicletas e apenas 320 carros. Ou seja, os 3,5 millhões de habitantes movimentam 2,5 milhões de bicicletas. A cidade se preparou para que isso fosse progressivamente se tornando uma tendência. Mais de mil quilômetros de ciclovias atravessam a cidade e, recentemente, passaram a ser investidos 5,5 milhões de euros todos os anos na manutenção e no saneamento das ruas de Berlim, para permitir que os ciclistas pedalem com segurança e conforto.

Em Berlim, expansão das ciclovias estimula o respeito ao ciclista
Em Berlim, expansão das ciclovias estimula o respeito ao ciclista (VEJA)

Segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do estado do Berlim, Christian Gaebler, o objetivo é investir nos próximos anos cerca de 17 milhões de euros por ano. O governo berlinense quer chegar em 2025 com 18% a 20% de todas as ruas da cidade com ciclovias. Segundo o ADFC (Associacao alemã de ciclistas), atualmente são 15% de vias próprias para os ciclistas – até meados dos anos 1990, as ciclovias estavam em apenas 6% dos caminhos da cidade, muito mais que qualquer cidade brasileira.

A mudança em favor dos ciclistas é um processo de ‘um pedal empurra o outro’. E apoiar publicamente as bicicletas tornou-se interessante para os políticos e gestores públicos. “É saudável, prática e não é cara”, resume Gaebler.

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De 2000 a 2011 mais de 25 quilômetros de ciclovias foram construídas e mais de 102 quilômetros foram riscados. A expansão impulsiona um mercado de peças, roupas, acessórios e, claro, bicicletas. Os pedidos são maiores do que os estoques das lojas. E alguns modelos não estão disponíveis para pronta entrega. No ano passado, foram vendidas na Alemanha 4 milhões de bicicletas – 2% a mais que em 2010.

O que os alemães estão dispostos a investir para pedalar também mostra que a moda é um mercado em crescimento. Em 2008 a média de investimento em uma bicicleta era 387 euros. Atualmente a média é de 495 euros, mas a variação de preços é imensa, e é possível escolher entre 1.600 modelos diferentes.

A moda na Alemanha no momento é a “Porsche das bicicletas”, a Koga-Miyata Spyker Aeroblade. Com guidão de titânio, rodas de carbono e alumínio e um banco de couro, pesa sete quilos e 12.000 euros.

Outro modelo bastante original que circula comumente pela cidade é a Christiania, utilizada pela escritora Frauke Niemeyer e seus filhos Roberta e Carlo. Trata-se de uma bicicleta dinamarquesa de três rodas, que custa de 2.000 a 5.000 euros e tem um “compartimento” na frente da bicicleta com proteção contra chuva e neve e cintos de segurança para as crianças. Em seu livro “Um ano no Rio de Janeiro”, a autora relata sua surpresa em perceber que a maioria das pessoas encara a bicicleta como meio de lazer e não como transporte na cidade da Rio+20. “Fiquei impressionada. No Rio, quem não anda de metrô ou ônibus, prefere andar de táxi ou de carro. A bicicleta para os cariocas é um aparelho de ginástica”, compara.

Psicólogo e especialista em tráfego, Klaus-Peter Kalwitzki observa que o aumento do número de ciclistas provocou uma mudança no comportamento de pedestres e motoristas. E, na disputa por espaço nas ruas, os ciclistas têm preferido avançar sobre os automóveis: “Há raros acidentes entre bicicletas e pedestres, e são mais comuns as colisões com automóveis”, explica.

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Entre os percalços para os ciclistas berlinenses há ainda um produto do mercado paralelo que a proliferação de bicicletas e consumidores gerou: o de produtos roubados. Um “medidor” de roubos indica que a cada minuto e meio é roubada uma bicicleta na Alemanha – ou mais de 130 mil só este ano.

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