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Eleições no Reino Unido: o fracasso da estratégia de May

Ao convocar eleições antecipadas, a primeira-ministra britânica esperava uma vitória esmagadora que fortalecesse seu governo

Por Verônica Sesti, de Londres
Atualizado em 6 jun 2017, 20h47 - Publicado em 6 jun 2017, 20h26

Logo após a primeira-ministra da InglaterraTheresa May, anunciar a convocação de eleições antecipadas, no final de abril, as pesquisas apontavam os conservadores com uma vantagem de 25 pontos nas intenções de voto. Parecia que nada poderia atrapalhar a estratégia da premiê, que buscava com a eleição fortalecer seu governo e eleger uma maioria esmagadora de conservadores, com pouca oposição trabalhista que pudesse opinar em suas futuras negociações do Brexit. Agora, às vésperas do pleito e apenas um ponto à frente dos trabalhistas, de acordo com a última pesquisas de intenção de voto da Survation, fica claro que a estratégia fracassou. Conseguir uma vitória não será tão fácil quanto era imaginado e a premiê pode mesmo perder a maioria no Parlamento.

Os conservadores apostaram na figura de liderança e estabilidade de May e em seu comprometimento com uma saída rígida do bloco europeu, mas se esqueceram de arquitetar boas políticas para outros temas, como a saúde publica e a segurança. “O partido deixou de pensar nas demais políticas como a educação, a defesa e o Serviço Nacional de Saúde (NHS), pois achou que ninguém se importaria – afinal, o foco e a prioridade dos eleitores nestas eleições seria obter um governo forte e estável que implementasse um Brexit de forma limpa e rápida”,  diz o britânico Jean-Paul Salter, professor na universidade King’s College London. “Eles foram bem sucedidos em mostrar de forma clara e eficaz a sua versão do Brexit, mas erraram em todas as outras questões. Foram precipitados e assumiram que seria uma eleição curta e direta ao ponto, uma eleição somente sobre o Brexit e sobre liderança. Então, quando eles começaram a ser desafiados sobre políticas de educação, saúde, infraestrutura, impostos e todo o resto, se queimaram feio”, completa.

As mudanças de posicionamento constantes da atual primeira-ministra, como quando teve que recuar da polêmica proposta que ficou conhecida como Dementia Tax, que cobraria tratamento de saúde de idosos de classes mais altas com doenças crônicas, e episódios de desentendimento no partido quanto à eficácia do plano de contenção da imigração, que promete diminuir drasticamente a entrada de estrangeiros no país nos próximos cinco anos, abalaram a popularidade dos conservadores.

May sofreu ainda as consequências de optar por uma estratégia de campanha segura. Ao se ausentar de debates com os demais líderes partidários, passou a ser vista por adversários e eleitores como uma candidata covarde e despreparada.

Entretanto, a queda dos conservadores não é fruto apenas das falhas do partido. É preciso dar crédito ao candidato do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, e suas conquistas nas últimas semanas.  Corbyn deslocou a ideologia e propostas de sua legenda mais à esquerda, almejando atrair a população com menor participação política – sobretudo os jovens. Ao contrário de May, o trabalhista não arquitetou um plano sólido sobre a saída do bloco europeu, mas empenhou-se na criação de políticas populistas para as demais questões, e mostrou ótimo empenho em debates e entrevistas.

“Os trabalhistas vêm ganhando boas batalhas contra os conservadores em temas como o NHS, o bem estar social e impostos”, afirmou Salter. “Mas há uma diferença entre ganhar pontos em propostas isoladas e coordenar uma campanha organizada capaz de ganhar uma eleição. Eu não acho que eles conseguiram fazer isso. Sua grande vitória será, talvez, conquistar alguns assentos a mais no Parlamento e minimizar a maioria dos conservadores”, diz.

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Imagem arranhada

O terceiro ataque terrorista na Inglaterra somente este ano, que deixou sete mortos em Londres, no sábado, pode também abalar o apoio a May. A premiê foi acusada de comprometer a segurança do país ao executar cortes na polícia e no serviço secreto nos últimos dois anos, quando ocupou posições de liderança em Westminster.

Pesquisas apontam que, comparado ao início da campanha, 38% dos eleitores têm hoje uma impressão pior da primeira ministra. No caso de Corbyn, os números apontam na direção contrária: 40% têm uma opinião mais positiva do candidato.

Tudo indica que mesmo assim o Partido Conservador sairá ganhador, mas as eleições certamente abalaram a imagem de May, que terá muito menos força e apoio do que tinha pouco mais de um mês atrás.

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