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Nem imigração, nem terrorismo: corrupção é o tema da eleição francesa

Dos quatro candidatos com chances reais de vitória, três são suspeitos de corrupção

Por Gabriel Brust, de Paris
Atualizado em 10 dez 2018, 09h27 - Publicado em 21 abr 2017, 16h18

Na França que vai às urnas neste domingo, a pauta mudou. A imigração, principal tema da campanha de 2012, e o terrorismo – assunto onipresente desde os ataques de 2015 –, saíram de cena. A corrupção domina as manchetes e debates entre os partidos devido a uma situação inédita: pela primeira vez, o país terá na disputa um candidato formalmente investigado pela Justiça. E o congresso acaba de aprovar uma lei facilitando a vida dos criminosos de colarinho branco.

“A corrupção no meio político aumentou muito na França nos últimos anos e, se deixarmos isso passar, nos tornaremos como certos países que não invejamos” , afirma o escritor e político francês Philippe Pascot, autor de quatro livros sobre o tema, em entrevista a VEJA. Pascot trabalhou lado a lado com o ex-primeiro-ministro socialista Manuel Valls entre 2001 e 2012 na prefeitura de Évry, na região parisiense. Hoje faz parte do movimento apartidário #StopCorruption, que, à semelhança do Ministério Público brasileiro, tenta emplacar na lei francesa uma série de medidas contra a corrupção. Mas durante a campanha, apenas o candidato nanico comunista Philippe Poutou se comprometeu a adotar a proposta.

Para Pascot, esta eleição marca um momento em que “políticos admitem os casos sem ao menos se constranger”: “É uma gente que rouba, mente, e não tem mais escrúpulos, nem remorsos em admitir”. Ele se refere ao caso de François Fillon, representante da centro-direita e candidato do partido de Nicolas Sarkozy, Os Republicanos, que está no centro do caso mais rumoroso. Mas ele não é o único a estar sob suspeita. Dos quatro favoritos na reta final da eleição – Emmanuel Macron, Marine Le Pen, François Fillon e Jean-Luc Mélenchon –, pelo menos três são questionados pela imprensa pela falta de transparência. Apenas o radical de esquerda Mélenchon passa incólume quando o critério é a honestidade, pelo menos por enquanto.

Na largada da campanha, Fillon parecia fadado à vitória: após bater Sarkozy nas prévias da direita, bastaria deixar a lógica do bipartidarismo informal francês seguir seu rumo, o que nas últimas décadas vem garantindo alternância entre Os Republicanos (antes chamado UMP) e a centro-esquerda representada pelo Partido Socialista. Após cinco anos de governo socialista, e com François Hollande desistindo de tentar a reeleição, esta seria a vez da direita. Mas o plano não saiu como o esperado.

Após denúncias do jornal satírico Le Canard Enchaîné, Fillon passou a ser investigado pela Justiça Federal, por peculato e abusos de recursos públicos. A acusação: ter empregado a mulher, Penelope Fillon, entre 1986 e 2013, como sua assistente parlamentar. Ela teria recebido durante este tempo 680.380 euros sem nunca ter realmente exercido a função. Após o furacão, Fillon enfrentou uma debandada de apoio dentro do partido e chegou a cogitar a desistência.

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Conseguiu se segurar, mas o caso, considerado inadmissível por boa parte do eleitorado conservador, abalou sua candidatura talvez de forma irrecuperável: às vésperas da eleição, apresenta índices de intenção de voto muito abaixo do esperado para um candidato do maior partido de direita do país, ficando em terceiro o quarto lugar na disputa, dependendo da sondagem.

Macron e seu salário milionário

Líder nas pesquisas, o ex-ministro da Economia de François Hollande, Emmanuel Macron, é alvo de questionamentos que também partiram do combativo Canard Enchaîné. Segundo a publicação, Macron, ex-funcionário de grandes bancos de investimento, teria faturado 3,3 milhões de euros em salários entre 2009 e 2014, mas declarou 1,2 milhão de patrimônio. O restante, segundo ele, foi investido em um apartamento em Paris, o que seria declarado como “endividamento”. Não há sinais aparentes de fraude, mas partidários de Marine Le Pen aproveitam para destacar o modo de vida supostamente extravagante de um homem que, com apenas 39 anos, “ganhava um salário mínimo por dia.”

Le Pen, no entanto, não pode ir longe demais nas críticas quando o assunto é corrupção. O seu partido, Frente National, é citado em pelo menos seis casos mal explicados. O mais conhecido deles se parece com o de Fillon. Os 22 eurodeputados do partido de extrema-direita empregam pelo menos sessenta assistentes parlamentares, mas 29 deles constariam apenas nas listas dos contra-cheques, sem realmente prestar qualquer serviço na câmara da União Europeia.

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A cereja do bolo veio em fevereiro, quando a Assembleia Nacional francesa aprovou um projeto que determina a prescrição de crimes financeiros, ou “de colarinho branco”, após um prazo de 12 anos. Uma das principais bandeiras do movimento #StopCorruption é revogação imediata desta lei. “Isso surge em plena campanha eleitoral. Não podemos aceitar”, afirma Sylvie Neron, funcionária da indústria de 40 anos de Bordeaux. Ela participou de uma marcha de 140 km entre Orleãs e Paris, no fim de semana anterior à eleição, para denunciar a lei. A manifestação não reuniu mais que duas dezenas de pessoas na Praça da República em Paris. “No caminho, percebemos o pouco apoio popular. Os franceses estão resignados”, lamenta Sylvie.

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