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Como a Venezuela se tornou a terra das conspirações

Retórica governista constantemente diz que o que se vê nas ruas não é a verdade

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 jul 2017, 19h42 - Publicado em 10 jul 2017, 14h52

Desde 2004, o sociólogo Hugo Pérez Hernáiz investiga as teorias conspiratórias na Venezuela. Em seu blog Venezuela Conspiracy Theories Monitor, criado em 2015, ele registra todas os planos aventados para explicar fatos políticos. Segue entrevista que ele deu para VEJA, por telefone:

 

Existe alguma chance de o piloto de helicóptero e ator Oscar Pérez ter sido mandado pelo presidente Nicolás Maduro para simular um golpe de Estado?

Tanto o governo quanto a oposição formularam teorias da conspiração para explicar esse evento. Para Maduro, o que está por trás desse piloto é a CIA, o imperialismo, os Estados Unidos, a burguesia. Para a oposição, foi uma tentativa de criar um fato e assim reprimir ainda mais a população. Para mim, o que pode ter acontecido é que esse sujeito atuou de forma solitária, muito possivelmente com um pequeno grupo por trás. Talvez seja simplesmente uma pessoa que atuou por meios próprios.

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Por que há tantas teorias conspiratórias na Venezuela atualmente?

A todo momento surgem coisas novas. Na Venezuela, a retórica conspiratória é algo muito do nosso cotidiano. Nos últimos anos, isso tem se fortalecido por causa da polarização. É curioso. Qualquer evento que aconteça é interpretado de maneira conspiratória. Quanto mais radicais são os discursos políticos e mais populistas, mais fortes são as teorias da conspiração. Esses discursos sempre implicam a necessidade da existência de um inimigo forte, ao qual é preciso derrotar. Assim é mais fácil para eles ganhar apoio.

Mas nisso a Venezuela é muito diferente de outros países da América Latina?

Na Venezuela, o governo estimula esse comportamento ao dizer que aquilo que se vê não é de fato a realidade. O argumento é o de que o povo não tem condições de conhecer a verdade porque há uma conspiração por trás das coisas. A meta, no final das contas, é obscurecer as imagens das ruas. Mas a realidade é fácil de ver: existem protestos, muita gente descontente, um governo que não quer eleições e que faz o possível para que isso não aconteça.

Essas teorias conspiratórias podem diminuir no futuro?

É muito difícil isso acontecer porque elas são parte da retórica oficial. Esse governo se construiu sobre uma grande teoria da conspiração baseada em uma retórica anti-imperialista, muito latino-americana. Não haverá mudança no curto prazo.

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A democracia é o grande antídoto contra as teorias da conspiração

Hugo Pérez Hernáiz

Sempre foi assim?

Na América Latina, tanto na extrema esquerda quanto na extrema direita, sempre existiram teorias da conspiração muito fortes. O que varia é o inimigo que deve ser derrotado. Para a direita, podem ser os judeus, os imigrantes, os muçulmanos, o comunismo. Para a esquerda, o imperialismo americano. A retórica do governo venezuelano, portanto, é simplesmente a expressão das antigas teses de extrema esquerda. Mas vale lembrar que, para alguns ditadores da América Latina, o inimigo pode mudar. Em certo momento, por exemplo, o dominicano Rafael Trujillo tinha como inimigo o comunismo, mas depois o trocou pelo imperialismo americano. Outro que fez isso foi Anastasio Somoza, da Nicarágua. O inimigo externo pode variar ao longo do tempo.

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O senhor já contou quantas denúncias de tentativa de golpe de Estado Nicolás Maduro já criou?

É difícil fazer essa conta porque essas teorias conspiratórias são parte de uma retórica anti-imperialista mais ampla, como se todas fossem parte de uma única grande conspiração.

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Há algum antídoto para evitar as teorias conspiratórias?

Os discursos democráticos moderados não procuram um grande inimigo. São retóricas mais complexas, não tão fáceis. A democracia é o grande antídoto contra as teorias da conspiração.

 

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