China prende ativistas temendo onda de manifestações
Manifestantes da ex-colônia britânica aproveitaram o Dia da Pátria chinês para intensificar os apelos por democracia. Situação é tensa, mas sem violência
Dezenas de ativistas foram detidos na China por expressar apoio às manifestações pró-democracia que acontecem em Hong Kong, informou nesta quarta-feira um grupo de defesa dos direitos humanos, sem revelar um número específico. As detenções acontecem em um momento em que as autoridades comunistas de Pequim tentam minimizar a dimensão dos protestos na ex-colônia britânica. Líderes do Partido Comunista da China em Pequim temem que os clamores por democracia possam se espalhar pelo país, e vêm censurando agressivamente as notícias e os comentários nas mídias sociais sobre as manifestações em Hong Kong. Os protestos na ex-colônia britânica são os piores desde que a China reassumiu seu governo, em 1997.
“Vários cidadãos chineses sofreram represálias por expressar apoio às mobilizações de Hong Kong”, denunciou o grupo China Human Rights Defenders (CHRD, Defensores dos Direitos Humanos na China, em tradução literal), com sede no exterior. Entre os detidos está o ativista Wang Long, que foi preso na segunda-feira pela polícia de Shenzhen, no sul do país, por “criar distúrbios” depois de ter divulgado mensagens de apoio às manifestações, segundo o CHRD.
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O status de Hong Kong
Ex-colônia britânica, Hong Kong passou a ser uma região administrativa especial (RAE) da China em 1997, ano em que o enclave foi devolvido. Pelo acordo entre britânicos e chineses, Hong Kong goza de um elevado grau de autonomia local, liberdade de expressão e liberdade econômica. Também preserva elementos do sistema judicial ocidental. Essas condições devem ser mantidas pelo menos até 2047.
Um grupo de pelo menos vinte cidadãos foi detido na terça-feira em Guangzhu, cidade do sul do país próxima de Hong Kong, após um evento em um parque para expressar apoio aos ativistas pró-democracia. Os cidadãos da China continental não têm os mesmos direitos que os da região semiautônoma de Hong Kong. Os manifestantes da ex-colônia britânica, que temem um crescente domínio de Pequim, exigem sufrágio universal e liberdade política. Eles rejeitam que nas eleições de 2017 as autoridades chinesas mantenham o controle sobre os candidatos a chefe de governo local.
Hong Kong – Na ex-colônia britânica os protestos se intensificaram em razão da data que marca a fundação do Estado comunista chinês, em 1º de outubro de 1949. Os manifestantes aproveitaram o feriado nacional mais importante na China para criticarem a forma como Pequim conduz os assuntos políticos em Hong Kong. Apesar da chuva, milhares de manifestantes encheram as ruas da cidade no início desta quarta, aumentando a pressão sobre o governo pró-Pequim, que classificou a ação como ilegal e prometeu levar adiante as comemorações do Dia da Pátria chinês.
No sexto dia da campanha em massa para ocupar setores da cidade e expressar o apoio por um sistema político democrático, houve poucos sinais de que o ímpeto esteja diminuindo, reportam as redes CNN e BBC. Também há um clima de temor de que a polícia use a força para afastar as multidões que paralisaram grandes avenidas do importante centro financeiro asiático e afetaram os negócios de bancos, seguradoras e outras empresas. Nem os trovões, os raios e a chuva pesada fizeram naufragar a determinação dos manifestantes, que se abrigaram debaixo de passagens cobertas enquanto policiais com capa de chuva e chapéu observavam passivamente nas proximidades.
Os líderes estudantis haviam dado um ultimato para que d executivo-chefe do território, Leung Chun-ying, se pronunciasse e se dirigisse às multidões antes da meia-noite de terça-feira, ameaçando ocupar mais instalações do governo e estradas públicas se ele não o fizesse. Leung não aceitou a intimação, e disse que Pequim não irá ceder diante dos protestos e que a polícia de Hong Kong conseguirá manter a segurança sem a ajuda dos soldados do Exército de Liberação do Povo da China.
Durante o final de semana, o batalhão de choque usou gás lacrimogêneo, spray de pimenta e cassetetes para tentar apaziguar o tumulto, mas desde então as tensões diminuíram, já que os dois lados pareceram preparados para vencer pela teimosia, pelo menos até o momento. Mas nas primeiras horas da manhã, centenas de manifestantes já se reuniam em torno das lojas de artigos de luxo e montavam barricadas improvisadas antecipando possíveis atritos. Como na maior parte das regiões de Hong Kong, a presença policial era pequena.
(Com agência France-Presse)