O fundador do Wikileaks, Julian Assange, quebrou o silêncio para explicar nesta sexta-feira que se refugiou na embaixada do Equador em Londres para “chamar a atenção” para o suposto complô dos Estados Unidos contra ele e pelo fato de seu país, a Austrália, tê-lo abandonado.
“Esperamos que isto o que eu estou fazendo simplesmente chame a atenção para os problemas subjacentes”, declarou Assange por telefone à rádio australiana ABC, a partir da embaixada, onde está refugiado desde a tarde de terça-feira.
Ele espera escapar de uma extradição para a Suécia, onde deve responder por um caso de estupro e de agressão sexual contra duas mulheres.
Ele afirma ser vítima de uma conspiração dos Estados Unidos por causa da divulgação pelo Wikileaks de milhares de documentos confidenciais diplomáticos americanos.
Sua preocupação é que na Suécia possa, segundo ele, ser condenado à pena de morte por espionagem.
Assange disse que escolheu a embaixada do Equador, em vez de seu próprio país, porque acredita que a Austrália não fez nada para protegê-lo, algo desmentido por Canberra. “Na verdade, eu enfrentei uma verdadeira declaração de abandono”, julgou.
De acordo com pessoas próximas, Assange está determinado a permanecer na embaixada enquanto Quito não responder ao seu pedido de asilo político.
“Ele permanecerá até o caso ser resolvido. Isso pode levar horas, dias, não sabemos”, explicou o porta-voz do Wikileaks, Kristinn Hrafnsson, aos jornalistas reunidos em frente à embaixada.
Mas o australiano mantém o “bom humor”, assegurou após encontrá-lo.
De acordo com o porta-voz, as autoridades equatorianas “esperam que Reino Unido, Estados Unidos e Suécia forneçam informações”.
O vice-ministro equatoriano das Relações Exteriores, Marco Albuja, anunciou que uma decisão será tomada dentro de 24 horas sobre o pedido do fundador do Wikileaks.
Mas o presidente Rafael Correa foi um pouco mais evasivo. “Temos de ver se Assange corre risco de morte (…) devemos analisar se ele teve direito a um julgamento justo”, disse o presidente esquerdista à AFP.
“Ele expôs seus motivos, vamos verificar” com “uma seriedade absoluta”, acrescentou. A decisão será tomada “pelo governo soberano do Equador”.
A polícia manteve-se muito discreta perto do prédio onde Assange está escondido. Apenas alguns poucos policiais eram visíveis nas proximidades.
Enquanto estiver na embaixada, o fundador do Wikileaks estará em um território diplomático e, portanto, fora do alcance das forças de segurança. Mas ele poderá ser preso assim que sair, já que a Scotland Yard afirmou que ele violou as regras de sua liberdade condicional. Esse regime impõe toque de recolher entre as 22h00 e 08h00.
“Eu presumo que, se o asilo político não for concedido, ele deixará a embaixada e será preso”, comentou Kristinn Hrafnsson.
Em prisão domiciliar desde a sua detenção em Londres, no final de 2010, Assange esgotou em 18 meses todos os recursos legais no Reino Unido.
O Equador se ofereceu para acolhê-lo em novembro de 2010.
O pedido de asilo de Assange ao presidente Rafael Correa, criticado por ONGs por violações da liberdade de imprensa em seu país, é a oportunidade de melhorar sua imagem.
Para Assange, a perspectiva de extradição parece inevitável depois da rejeição, em 14 de junho, pela Suprema Corte britânica de seu último pedido para reconsiderar o caso.
A mais alta instância judicial do país indicou na ocasião que o processo de extradição seria aplicável a partir de 28 de junho. Assange ainda tem a possibilidade de recurso no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em Estrasburgo (nordeste da França).