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Opinião: Aldo nocauteia Dana e o show fabricado pelo UFC

Com aposentadoria, brasileiro se nega a ser o palhaço do circo montado pela organização. Privilégios ao falastrão McGregor ultrapassam limite do aceitável

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 out 2016, 10h20 - Publicado em 28 set 2016, 13h18

A imagem que abre este texto ilustra perfeitamente o lamentável cenário do UFC : o presidente Dana White – vestido com a camisa da Irlanda (!) – se diverte com as farpas trocadas por José Aldo e Conor McGregor na promoção da disputa de cinturão dos penas,  vencida pelo irlandês em dezembro do ano passado. O falastrão McGregor se transformou no novo rei do Ultimate, não por seus resultados – que são bons –, mas por ser o atleta mais “vendável”.  José Aldo, porém, não aceitou ser o bobo da corte. E, com sua aposentadoria anunciada nesta quarta-feira, deu um golpe perfeito em Dana White e nos promotores do UFC. O MMA, que tanto lutou para ser visto como um esporte e não um show de violência, não deveria se render tanto ao mercado publicitário, como pretendem White e os novos chefes chineses da principal organização da modalidade.

A escalação de Conor McGregor para a luta principal – disputa de cinturão dos leves contra o americano Eddie Alvarez – do badaladíssimo UFC 205, que acontece no Madison Square Garden, em Nova York, em 12 de novembro, é um completo absurdo em termos esportivos. Mas deverá alcançar o efeito esperado, que é bater o recorde de vendas de pay-per-view. Diante de uma evidente crise de identidade do UFC, depois das quedas de estrelas como Anderson Silva, Jon Jones e Ronda Rousey, McGregor se tornou a única opção para Dana, irmãos Fertitta e companhia. Isso, porém, não justifica o desrespeito com José Aldo, que defendeu sete vezes seu título no UFC e tem uma história digna de ídolo mundial – contada, inclusive, no ótimo longa Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo. 

Cabe recordar a trajetória do carismático e controverso McGregor. Com um cartel atual de 20 vitórias e três derrotas no MMA, ele se tornou campeão dos penas ao nocautear Aldo, em 13 segundos, no UFC 194. Tudo levava a crer que haveria uma revanche imediata, devido ao histórico vencedor de Aldo, e claro, por causa da animosidade criada entre os lutadores. No entanto, McGregor quis se aventurar em outras categorias e foi justamente isso que o transformou no queridinho dos chefes.

Realizar “superlutas”, entre campeões de categorias diferentes, era um sonho antigo de Dana, mas a possibilidade sempre esbarrava nas negativas dos atletas. Mas McGregor, quem melhor sabe jogar o jogo do mercado, topou enfrentar o brasileiro Rafael dos Anjos, então campeão dos leves, e isso mudou tudo – e deixou Aldo para escanteio. Em cima da hora, Rafael foi cortado por lesão e, mais uma vez, McGregor ganhou pontos ao topar tudo por dinheiro: aceitou subir mais uma categoria e enfrentar o americano Nate Diaz, pelo peso-médio. Foi derrotado de forma constrangedora (chegou a levar vários tapas na cara), mas não se abateu. Pediu revanche, foi atendido, e venceu Diaz em agosto, um mês depois de Aldo bater o americano Frankie Edgar e conquistar o cinturão interino dos penas.

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Neste meio tempo, entre uma fanfarronice e outra nas redes sociais, McGregor chegou a anunciar sua aposentadoria, simulando um rompimento com Dana por não ter participado de um evento publicitário. De tão descarada, a encenação não enganou ninguém e, claro, McGregor seguiu lutando – e faturando. José Aldo, que nunca fez o tipo marqueteiro, acreditava que finalmente teria a chance de revanche, mas foi surpreendido nesta semana com a vergonhosa decisão do UFC.

Dando a McGregor a chance de lutar contra Alvarez , Dana White contrariou a si mesmo (antes disse desejar a revanche) e “enterrou” a categoria dos penas em 2016, já que o irlandês, detentor do título, realizará três lutas em categorias diferentes no ano. O cartola ainda tentou amenizar o desconforto ao dizer que McGregor terá que abrir mão de um dos cinturões caso vença Alvarez, um enorme desrespeito com todos os atletas que sonham com glórias no Ultimate.

Nas redes sociais, porém, os fãs, especialmente os americanos, aplaudem a decisão do UFC, já que esta era a luta que “todos gostariam de ver”. É claro, o UFC pode fazer o que fez – é até natural, depois de ter sido comprado por 4 bilhões de dólares pelo grupo chinês WME-IMG, que agora quer fazer valer o investimento. A questão é se o UFC deveria tomar essa atitude, sobretudo levando em conta que o Brasil segue sendo um mercado importante para o MMA. 

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Outro brasileiro tem sido vítima da condenável estratégia de marketing do UFC. Apesar de seus impressionantes resultados, o capixaba Ronaldo Jacaré ainda não recebeu uma chance de lutar pelo cinturão peso-médio. O veterano e popular americano Dan Henderson foi o último escolhido como desafiante do campeão, o britânico Michael Bisping, em duelo que acontecerá no UFC 204, em Manchester, na Inglaterra, em 8 de outubro.

Apesar da ausência de grandes ídolos nacionais (Anderson Silva, Vitor Belfort, Júnior Cigano, entre outros, estão mais perto da aposentadoria do que das disputas de cinturões), o Brasil segue tendo grande relevância para o Ultimate – o sucesso do UFC 198, na Arena da Baixada, em Curitiba, é prova disso. No entanto, o desrespeito a José Aldo e Ronaldo Jacaré mancha ainda mais a imagem do UFC no país e enoja todos aqueles que colocam os méritos esportivos à frente de interesses comerciais. Não é o caso de Dana White, que agora terá que se esforçar para convencer o lutador de Manaus a reconsiderar sua aposentadoria.

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