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Guga 20 anos: nas oitavas, uma batalha com dois dias de duração

Em mais uma pedreira, desta vez contra o ucraniano Medvedev, Guga esteve a ponto de perder o controle, mas se recuperou graças a uma ajuda espiritual

Por Alexandre Salvador e Mateus Silva Alves
Atualizado em 30 jul 2020, 20h44 - Publicado em 1 jun 2017, 11h49

Quem olhasse apenas o retrospecto daquela partida em 1º de junho de 1997, daria como certa a vitória do ucraniano Andrei Medvedev sobre o brasileiro Gustavo Kuerten. Além da diferença de posições no ranking mundial, o desempenho recente nos torneios de saibro que antecediam Roland Garros era favorável ao primeiro: Medvedev acabara de conquistar o prestigiado ATP de Hamburgo, no qual Guga foi eliminado logo na primeira rodada. Além disso, o “Urso”, apelido dado ao ucraniano por sua altura avantajada (1,93m), já tinha chegado à semifinal do Aberto da França, em 1993.

Mas como dissemos nos capítulos anteriores desta série, Guga já não era o mesmo tenista que chegou a Paris em posição intermediária do ranking mundial. O brasileiro acabara de mandar para casa o quinto melhor tenista do planeta na ocasião, o austríaco Thomas Muster. Ou seja, a vitória era possível, mas não seria fácil. Depois de um embate de quatro sets que durou até o último raio de sol passar pela capital francesa, Kuerten e Medvedev tiveram que esperar até o dia seguinte para concluir a contenda e definir que avançaria até as quartas-de-final. Para sorte do brasileiro, a noite de (pouco) sono deu o vigor necessário para encerrar a disputa em 3 sets a 2, dando mais um passo rumo à improvável final de Roland Garros.

O Jogo – Guga entrou no jogo para valer com o placar já em 1 set a zero para Medvedev. Quem estava na quadra aquele dia em Paris pôde perceber que, apesar do saque do brasileiro ser potente, a devolução do “Urso” era ainda mais venenosa. Por isso, Guga teve que tirar a mão no primeiro serviço e trabalhar mais em cada ponto.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=JvtC9PO9hOs%5D

Logo no segundo set, estava claro que Guga estava em fase iluminada, com golpes de direita violentos e precisos. Depois de quebrar duas vezes o saque de Medvedev, o brasileiro fechou a parcial em 6/1 e empatou o jogo. No terceiro, novo baile do catarinense, dessa vez por 6/2.

Ouça os detalhes do jogo, na voz do técnico Larri Passos:

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O quarto set, porém, foi o oposto dos dois anteriores. Guga até teve uma chance de quebra logo no início, mas viu um Medvedev usar todas suas armas para evitar a desvantagem. Isso acabou desconcentrando o brasileiro, que passou a reclamar verbalmente em quadra, e o tornou presa fácil para o “Urso”: vitória de Medvedev no quarto por 6/1.

Já eram 21h em Paris – na primavera europeia, o sol se põe bem mais tarde – quando os dois tenistas iniciaram o quinto e decisivo set. Depois de disputarem quatro duros games, o árbitro do jogo decidiu interromper a disputa pela baixa visibilidade em quadra. Empatados em 2 a 2 no set e no jogo, Guga e Medvedev teriam que esperar o dia seguinte para saber quem avançaria às quartas.

Com a palavra, o campeão:

Foi uma noite horrorosa. Como é que dava para dormir numa situação daquelas? Fiquei na cama pipocando, inquieto pra caramba, virando para cá e para lá. Dormir pouco me ajudou. Levantei cheio de adrenalina. No aquecimento com Larri, eu estava em ponto de bala, era só finalizar. Entrei em quadra fervendo, pronto para liquida a partida antes que Medvedev tivesse tempo de despertar.

Trecho extraído da autobiografia Guga – Um Brasileiro (Sextante)

E foi assim mesmo que Guga entrou, arrasador. Logo o empate já fora desfeito e o brasileiro estava vencendo por 4 a 2 o quinto set. Com a mesma velocidade, Medvedev devolveu a quebra e confirmou seu serviço sem que o catarinense marcasse um ponto sequer. Placar em 4 a 4, Guga com o saque. Desestabilizado, o brasileiro se viu à beira do abismo: sacava em 0/40, com três chances de quebra para Medvedev.

Com a palavra, o campeão:

Até hoje acho que o que veio a seguir teve a mão do pai (Aldo, morto quando Guga era garoto). Fiz tudo errado, mas ele deu um jeito de consertar e me salvou do pior. Eu estava tão indignado comigo mesmo que mandei tudo às favas.

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– Quer saber? Que se dane! – falei alto.

Saquei sem mirar, com o máximo da minha raiva e toda a minha força. Medvedev respondeu e, quando a bola voltou, dei uma pancada maior ainda, sem me preocupar com a direção. Foi um golpe tão desgovernado que a bola poderia ter ido até para fora do estádio, mas, para minha surpresa, caiu na linha.

Trecho extraído da autobiografia Guga – Um Brasileiro (Sextante)

Com a “mãozinha” de Aldo Kuerten, Guga sobreviveu às três chances de quebra do ucraniano e venceu o game. Mais dois games de confirmação de serviço e Medvedev sacava agora em 5/6. Foi a vez do “Urso” ficar acoado, com 15/40 contra. No terceiro match point a favor do brasileiro, touché! Bola para fora de Medvedev e a vitória para Guga, agora a três partidas do título de Roland Garros.

Que fim levou? – O “Urso” Medvedev não venceu mais nenhum torneio ATP depois de 1997 – o último foi o torneio de Hamburgo, semanas antes do início de Roland Garros. Mas isso não significa que o ucraniano deixou de ser uma pedra no sapato dos tenistas brasileiros. No Aberto da França de 1999, Medvedev foi algoz não somente de Guga, mas também de Fernando Meligeni, o Fininho. Depois de despachar o catarinense nas quartas por 3 sets a zero, o “Urso” enfrentaria na semifinal Meligeni, que fazia até então sua melhor participação em um Grand Slam. Apesar de toda luta, característica indelével de Fininho, o brasileiro não foi páreo para o ucraniano: derrota por 3 sets a 1. Na final, porém, a vingança. Medvedev encarou o americano Andre Agassi e, apesar de estar vencendo por 2 sets a zero, sofreu a virada e perdeu o troféu. O “Urso” jogou até o ano de 2001 antes de pendurar a raquete.

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