Sócrates havia confirmado a sua presença no lançamento do curta-metragem ‘Ser Campeão é Detalhe: Democracia Corinthiana’, evento que ocorreu na noite desta quinta-feira, no Museu do Futebol, em São Paulo. Quem estava lá não se esqueceu do Doutor, falecido na madrugada do último domingo, mesmo dia em que o Corinthians se sagrou campeão brasileiro.
Diante de um bom público, o documentário (que tem Sócrates como um dos principais entrevistados) foi exibido em três sessões gratuitas. Seus antigos companheiros de Democracia Corintiana, como os ex-jogadores Zenon e Juninho Fonseca, o ex-técnico Mário Travaglini e os então dirigentes Waldemar Pires, Adílson Monteiro Alves e Sérgio Scarpelli, juntaram-se a torcedores e não disfarçaram a emoção com as lembranças do Doutor.
Sociólogo que foi diretor de futebol e ajudou Sócrates a viabilizar a Democracia Corintiana, Adílson Monteiro Alves ficou com os olhos marejados antes mesmo de entrar no auditório. ‘Ouvi o Casagrande dizendo que, antes da morte do Sócrates, conseguiu dizer para ele que o amava. Ele está aliviado por isso. Eu não consegui. Foi uma pena. A gente não acreditava que aconteceria’, lamentou.
Adílson é pai de Duílio Monteiro Alves, atual diretor adjunto de futebol do Corinthians. Seu filho também se emocionou com a perda de Sócrates: ‘Ele foi meu grande ídolo no Corinthians. Quando garoto, sempre entrei em campo de mãos dadas com o Sócrates. São muitas lembranças. Ele era um cara inteligente, com posições firmes, batalhador’.Sócrates tinha posições firmes a ponto de ser contrário à administração do Corinthians, da qual Duílio faz parte. O ídolo se recusou a ser homenageado pela diretoria do presidente Andrés Sanchez meses antes de falecer. ‘Mas é normal ter posições divergentes. Faz parte da democracia. Não tem nada a ver’, comentou o diretor adjunto de futebol.
Duílio não assistiu à exibição gratuita de ‘Ser Campeão é Detalhe: Democracia Corinthiana’, ao contrário de seu pai e de outros convidados. O curta-metragem é um projeto elaborado como conclusão do curso de Midialogia da Unicamp e sua produção foi possibilitada pelo apoio da DNA Filmes. O próprio filme se destaca como democrático, já que conta com um diretor corintiano, Gustavo Leitão, e um palmeirense, Caetano Biasi.
A Democracia Corintiana iniciou com a eleição do empresário Waldemar Pires para presidente, em abril de 1981. Ele nomeou Adílson Monteiro Alves como seu diretor de futebol. Inexperiente como cartola, o novo dirigente deu voz a jogadores politizados, como Sócrates, Wladimir e Casagrande. Tudo no Corinthians, desde horários de trabalho a contratações, passou a ser decidido pelo voto – com participação do roupeiro ao presidente. Algumas decisões causavam polêmica, como dispensar os atletas casados das concentrações. ‘A vinda do Leão também desagradou. Dava vontade de dar uma tijolada no cara, de tão nojento que era’, sorriu Zenon.
Para saber mais sobre a história do movimento, basta assistir a ‘Ser Campeão é Detalhe: Democracia Corinthiana’. O documentário estará disponível no site https://www.sercampeaoedetalhe.com.br a partir desta quinta-feira. ‘Influenciados pelo ideal democrático, nada mais justo que disponibilizarmos o filme para todos. Foi uma obra feita para uma nação, que não é só corintiana, mas formada por todos que defendem a democracia como direito’, discursou o produtor Rubens Passaro.