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Chapecó, dia 1: onda de afeto aumenta esperança na cidade

Um dia depois da tragédia, luto na charmosa cidade catarinense vai, aos poucos, dando lugar à esperança. O verde da Chapecoense está em toda parte

Por Luiz Felipe Castro, de Chapecó
Atualizado em 30 nov 2016, 14h15 - Publicado em 30 nov 2016, 12h49

O céu amanheceu limpo e o clima agradável em Chapecó. A charmosa cidade do oeste catarinense viu sua população de pouco mais de 200.000 habitantes receber um imenso reforço de jornalistas nesta quarta-feira, um dia depois da maior tragédia do esporte nacional. No centro, o comércio parecia funcionar normalmente, mas os rostos evidenciavam o abatimento de uma noite mal dormida. O verde estava por toda parte: comerciantes vestiram suas camisas da Chapecoense – o orgulho da cidade e time mais querido do mundo neste histórico e trágico 29 de novembro – e decoraram suas lojas com bandeiras e flores. A quatro quarteirões dali, na Arena Condá, dezenas, centenas de torcedores não arredaram pé do estádio e enviam suas orações às 71 vítimas do acidente na Colômbia. O luto, porém, aos poucos, vai dando lugar à esperança. E a onda de solidariedade toma conta da cidade.

Clima de tristeza na cidade de Chapecó-SC
Solidariedade se espalhou pelos comércios (Luiz Castro/VEJA.com)

“Podemos conversar um minuto?” E o aposentado Armindo Pereira se dispõe: “Podemos falar quantas horas você quiser, garoto”, responde o grisalho senhor, que caminhava pelo centro. A simpatia é marca da população local. “A Chapecoense começou do nada, e hoje, que tinha tudo, acontece uma tragédia dessas. Tá louco, rapaz, é muito triste”, fala Pereira, sotaque acentuado, de 77 anos  (34 a mais que o clube, fundado em 1973). Frequentador do estádio e “ex-torcedor” do Internacional – “desde que a Chape foi fundada, só tenho um time” –, diz ter renovado a fé depois da tormenta de terça-feira. “Devagarzinho, vamos construir tudo de novo.”

Na arquibancada da Arena Condá – que durante a noite estará lotada para homenagear o grupo que enfrentaria o Atlético Nacional, em Medellín, na final da Copa Sul-Americana –, Leonardo Alves dos Santos, também tentava se reerguer. “Soube às quatro da manhã, não queria acreditar, não consegui dormir. Passei o dia na arena”, conta o jovem de 16 anos. O integrante da torcida organizada da Chapecoense disse ter ficado emocionado com as declarações de afeto de clubes e atletas do mundo todo. “Achei muito lindo, fiquei feliz demais. Falam muita da rivalidade no futebol, mas desta vez todo mundo se uniu pela Chapecoense. Isso dá esperança, um ânimo novo.”

Na divisa com o Rio Grande do Sul, Chapecó tem forte influência gaúcha, nos trajes, sotaques e culinária. Mas a imensa maioria dos torcedores diz que Grêmio e Inter perderam força. “Há anos, a Chape prevalece, todos torcem por ela”, garante Ciro Gadonski, de 21 anos, que trabalha em uma loja de material esportivo, com destaque à Chape na vitrine.

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Clima de tristeza na cidade de Chapecó-SC
Sorveteiro Celso Aguiar, devidamente trajado, destaca a simpatia dos atletas que se foram (Luiz Castro/VEJA.com)

Pelas ruas da pacata cidade, o assunto era um só. “O menino teve a perna amputada”; “parece que foi falha do piloto”; e “chorei durante os noticiários de tevê” foram os temas nas pequenas reuniões. A proximidade dos moradores com os jogadores deixou o ambiente ainda mais pesado.

“Eles vinham tomar sorvete aqui, o técnico Caio Júnior passou aqui semana passada. Gente boa, batemos um papo. A cidade está abalada, não tem muito o que fazer. Nunca tinha visto uma comoção tão grande, nem na morte do Ayrton Senna. E acho que vai piorar, conforme os corpos forem chegando”, disse Celso Aguiar, de 36 anos, dono de uma sorveteria, claro,  com a camisa da Chape.

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Apenas uma pessoa não quis falar. Na verdade, não conseguiu. Aos prantos, sentado na arquibancada, o senhor desatou a chorar e pediu desculpas. Não havia como se expressar diante de tanta dor.

Antônio Lorenzi, de 49 anos,  responsável pela manutenção do gramado e funcionário do clube há seis anos, também sofreu para desatar o nó na garganta, mas ressaltou a “humildade dos jogadores que contagiava todos” e já se permitiu pensar em 2017. “Não podemos parar, temos de seguir em frente. Os próximos jogadores e dirigentes que virão vão conseguir levantar o clube novamente. Hoje acordamos com mais esperança.”

Clima de tristeza na cidade de Chapecó-SC
Flores foram jogadas no gramado da Arena Condá, em Chapecó (Luiz Castro/VEJA.com)
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