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Caro, pé-frio e inseguro: Itaquerão vira um fardo do Corinthians

Acidentes, naming rights, eliminações, Lava Jato...como o sonho da casa própria (de mais de R$ 1 bilhão) se tornou um pesadelo para o Corinthians

Por Da redação
Atualizado em 2 nov 2016, 16h38 - Publicado em 2 nov 2016, 10h13

“A Arena Corinthians foi um presente para Lula”, teria dito o patriarca da Odebrecht durante recente investigação da Operação Lava Jato. O possível mimo ao ex-presidente, fanático torcedor alvinegro, no entanto, já se transformou em um legítimo presente de grego para o Corinthians. O estádio é lindo, moderno e, ao longo de seus primeiros dois anos esteve quase sempre cheio. Mas quando a bola deixa de rolar e as contas chegam, o velho sonho da casa própria dos corintianos se transforma no pior dos pesadelos da diretoria do Corinthians. O estádio foi entregue a tempo de abrir a Copa do Mundo de 2014, mas acidentes foram registrados, parcerias foram desfeitas, os tais ‘naming rights’ viraram lenda e o Itaquerão passou cada vez mais a frequentar as páginas policiais. A última má notícia foi o risco de um deslizamento de terra ocorrer no estacionamento do estádio e invadir a avenida Radial Leste.

Relembre todos os percalços dos dois anos e meio da casa alvinegra:

Custos altíssimos

Os valores e as contas relacionadas ao estádio do Corinthians envolvem altas cifras e nebulosas transações que o clube se comprometeu a pagar. Orçado inicialmente em 820 milhões de reais em 2011 – previa um financiamento de 400 milhões de reais junto ao BNDES e outros 420 milhões em créditos cedidos pela Prefeitura de São Paulo, os chamados Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs) – o Itaquerão pode chegar a custar cerca de 1,64 bilhão de reais até 2028, prazo final para a quitação da dívida. Até o meio do ano, nem 10% do montante total havia sido pago pelo clube. A venda dos CIDs não deslanchou: até o início de 2016, o Corinthians recebeu apenas cerca de 20 milhões de reais do total de crédito cedido pela Prefeitura.

Acidente, mortes e interdição pré-Copa

O primeiro grande abalo sofrido no Itaquerão aconteceu em 27 de novembro de 2013, a cinco semanas do prazo previsto para a entrega do estádio. Um guindaste tombou e derrubou parte da cobertura metálica do estádio, danificando especialmente o painel de led da entrada. Laudos posteriores concluíram que um afundamento do solo ao redor do estádio causou o acidente, que matou dois operários – Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, e Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44 – e atrasou bastante as obras, causando pânico nos organizadores da Copa do Mundo. As obras foram interditadas por alguns dias, e uma terceira morte foi registrada, quando o operário Fabio Hamilton da Cruz, de 23 anos, caiu durante a montagem das arquibancadas provisórias.

Peça da cobertura do Itaquerão desaba no começo da tarde desta quarta-feira (27), em São Paulo
Peça da cobertura do Itaquerão desabou no fim de 2013, matando dois operários (Ivan Pacheco/VEJA/VEJA/VEJA/VEJA)

Frustração na abertura

Prevista para dezembro de 2013, a inauguração do Itaquerão aconteceu em 1º de maio, com uma partida entre operários da construtora. A estreia oficial foi uma grande festa, mas terminou frustada pelo mau tempo e, sobretudo, pelo resultado. Em 18 de maio de 2014, sob chuva, os cerca de 36.000 torcedores acompanharam a derrota por 1 a 0 para o Figueirense, pelo Brasileirão. O primeiro gol da arena foi marcado pelo meia Giovanni Augusto que, coincidentemente, hoje veste a camisa do Corinthians. Em junho, mesmo aos trancos e barrancos e com obras inacabadas, o Itaquerão recebeu a abertura da Copa do Mundo, na vitória por 3 a 1 do Brasil sobre a Croácia. 

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Jogadores do Figueirense comemoram gol do meia Giovanni Augusto, o primeiro em partidas oficiais no Itaquerão, na vitória do time catarinense sobre o Corinthians
Jogadores do Figueirense comemoram gol do meia Giovanni Augusto, o primeiro do Itaquerão (Heitor Feitosa/Veja.com/VEJA)

A novela ‘naming rights’

A venda do direito de batizar o estádio deveria ajudar a quitar a dívida bilionária do projeto, mas até agora só trouxe dor de cabeça. Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, atual deputado federal (PT-SP) e grande idealizador da obra na zona leste, garantiu desde o início das obras que encontraria um grande parceiro. Falou-se até em 400 milhões de reais da Ambev. No entanto, até hoje os ‘naming rights’ não saíram do papel.  Recentemente, Andrés afirmou que as negociações esbarram em uma questão política: as investigações da Lava Jato em cima de contratos da Odebretch, que estariam afetando o humor das empresas e investidores. O Corinthians já admite negociar por uma quantia bastante inferior àquela sonhada no início do projeto.

Corinthians x Prefeitura

No início de 2015, o Corinthians começou a admitir as dificuldades para pagar as dívidas do estádio. Enquanto buscava os tão sonhados “naming rights”, o clube cobrava da Prefeitura de São Paulo a liberação dos Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs). O presidente Roberto de Andrade revelou “dificuldades para compreender a parceria”, assinada ainda na gestão de Gilberto Kassab, e pediu explicações ao prefeito Fernando Haddad (PT). O clube reclamou especificamente dos altos juros e passou a enfrentar dificuldades financeiras – passou a atrasar salários dos atletas e teve que vender nomes de peso do elenco como Paolo Guerrero e Emerson Sheik. Mesmo com todas as dificuldades, foi campeão brasileiro, o que, de certa forma, encobriu os problemas nos bastidores.

O presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo del Nero, o presidente do Corinthians Andrés Sanchez, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab,e o governador de São Paulo, Alberto Goldman, durante apresentação oficial do projeto para a construção do estádio
Apresentação oficial do projeto para a construção do estádio teve cartolas e políticos (AE/VEJA)

Corinthians x Odebrecht

No dia 1º de outubro de 2015, o que deveria ser uma celebração revelou o mal-estar entre o clube e a construtora do estádio. A Odebrecht anunciou que suas atividades nas obras do Itaquerão estavam encerradas. O fato pegou os dirigentes do clube de surpresa, pois diversas obras previstas no plano original não foram executadas – como o memorial de troféus no prédio oeste, o paisagismo e o projeto visual no entorno do estádio, e a instalação completa do painel de LED na fachada leste. A construtora alegou que as obras já haviam atingido o valor máximo acordado de 985 milhões de reais e que, por isso, os trabalhos estavam encerrados. No mesmo período, as torcidas organizadas do clube cobravam da diretoria a abertura das contas do estádio.

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Maldição do mata-mata

Jogar em casa é, sem dúvidas, um trunfo para o Corinthians, que em dois anos e meio só perdeu seis vezes em Itaquera – para   Figueirense, Palmeiras (duas vezes), Guaraní, Santos e Fluminense. No entanto, mesmo com o ótimo retrospecto, o time acumula traumas em seus domínios: foram cinco dolorosas eliminações em mata-matas. A primeira foi no clássico contra o Palmeiras na semifinal do Paulistão de 2015, perdendo nos pênaltis. Um mês depois, a equipe caiu nas oitavas da Libertadores para o modesto Guaraní ,do Paraguai, e ainda em 2015 o Corinthians seria eliminado novamente no Itaquerão pelo Santos, nas oitavas da Copa do Brasil. Em 2016, o “carma” não mudou: novamente na semifinal do Campeonato Paulista, os alvinegros foram derrotados pelo surpreendente Audax nos pênaltis. A última das desilusões em casa foi nas oitavas da Libertadores, em maio, quando o Corinthians não conseguiu a classificação diante do Nacional, do Uruguai.

Jogadores do Palmeiras comemoram com o goleiro Fernando Prass, o herói da classificação sobre o Corinthians
Goleiro Fernando Prass, o carrasco cotintiano na semifinal do Paulistão de 2015 (Heitor Feitosa/VEJA.com)

Desabamento

Por sorte, o que poderia ter sido uma tragédia não passou de um susto. Em fevereiro deste ano, uma parte do teto no nível 5 do setor oeste do Itaquerão desabou, num momento em que não havia ninguém no local. Nesta terça-feira, o jornal Folha de São Paulo divulgou imagens assustadoras do ocorrido: uma grande parte do forro de gesso e madeira desprendeu-se da laje de concreto e poderia ter causado graves danos se tivesse ocorrido em um dia de jogo.

Imagens divulgadas pela 'Folha' mostram teto desabando no Itaquerão
Imagens divulgadas pela ‘Folha’ mostram teto desabando no Itaquerão (Reprodução)

Até o arquiteto

Em outubro deste ano, já com o elenco campeão brasileiro desfeito e até as arquibancadas do estádio bem mais vazias do que de costume, o Corinthians viu até o arquiteto do estádio cobrar o clube na Justiça. O jornal Folha de S. Paulo informou que Anibal Coutinho recorreu aos tribunais para cobrar uma dívida de 11,1 milhões de reais com o clube. O processo se refere a um empréstimo feito por Coutinho para ajudar a quitar salários atrasados, 13º e férias dos jogadores do Corinthians no ano passado, em dívida que envolve diretamente a Odebrecht.

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‘Nova Mariana’?

Nesta terça-feira, a Folha revelou que uma auditoria interna do Corinthians investiga o risco de haver um deslizamento de terra na área externa da arena. Segundo Juca Kfouri, o autor da matéria, há risco de que um vazamento de água no estacionamento do estádio cause um enorme deslizamento de terra que atingiria a Radial Leste, uma das principais vias na zona leste da capital paulista. O jornalista relatou que os frequentadores do estádio correm risco de vida e contou ter ouvido de um dos responsáveis pela obra que pode haver uma “nova Mariana”, em referência ao acidente na barragem construída pela mineradora Samarco na cidade mineira, em 2015. O clube disse desconhecer os riscos e disse que qualquer irregularidade é de responsabilidade da Odebrecht.

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