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‘Basquete está perdendo jovens altas para o vôlei’, diz Hortência

Ex-atleta critica organização do esporte no feminino e lamenta a falta de ídolos para atrair novos talentos

Por Thiago Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 ago 2016, 20h01

Ela foi a maior atleta da história do basquete feminino brasileiro e agora ganha a vida com o dom da fala – seja como comentarista da TV Globo ou em palestras motivacionais (que chegam a pagar até 20 000 reais). Hortência Marcari, de 56 anos, é uma das dezenas de ex-atletas que estão no Rio de Janeiro para cobrir os Jogos Olímpicos. Nesta entrevista a VEJA, fala sobre como esportistas devem lidar com críticas, alerta sobre a perda de talentos do basquete para o vôlei e diz por que comemora ter um filho que não escolheu praticar a mesma modalidade que ela. Abaixo os principais trechos da conversa:

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Você hoje é comentarista na Globo. Até que ponto um ex-atleta pode cornetar quem está na ativa? A palavra não é cornetar, mas eu preciso comentar o que eu estou vendo. É melhor não falar nada do que entrar ao vivo e elogiar. O importante é não ser destrutivo.

Mas dá para ser 100% sincero na TV? Eu procuro ser. E sei que tem pessoas que reclamam. Mas não posso falar que o basquete tem chance se acho que não tem, por exemplo. Não adianta jogar mal e mesmo assim dizer que valeu. Valeu nada, jogou mal oras.

Você se incomodava com críticas de comentaristas quando jogava? Procurava não ler. Quando se está em uma Olimpíada o melhor a fazer é se isolar. Hoje, com o telefone e as redes sociais, fica mais difícil. Tira muito o foco. Quem conseguir ficar longe disso, tem mais chances. Atleta tem que estar tranquilo.

Qual foi o problema do basquete feminino nestes Jogos? O problema é a estrutura. Estados Unidos hoje é uma potência porque investe no esporte desde a criancinha. Aqui trocamos de técnico em cima da hora. No futebol nem tanto, mas no basquete e no vôlei treinador faz muita diferença. Ele sozinho pode ganhar ou perder um jogo com substituições, estratégias de defesa e pedidos de tempo.

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Qual a projeção para o futuro do esporte no Brasil? Criança se espelha em vitórias. Muitas quiseram jogar basquete por verem eu, Paula e Janeth jogando. Com o Guga no tênis a mesma coisa, a Rafaela no judô. Várias meninas altas estão preferindo o vôlei ao basquete por causa das vitórias recentes.

Mesmo com a crise econômica, está valendo a pena sediar uma Olimpíada? Quando fomos escolhidos como sede em 2009, pensávamos que seríamos a quinta maior economia hoje. Tudo mudou e não dava para dizer no meio do caminho que “não quero mais sediar”. Ou seja, se falarmos em termos econômicos , não entendo muito. Agora, acho de verdade que o esporte é uma ferramenta de transformação. E que estamos surpreendendo o mundo. A cerimônia de abertura, por exemplo, foi muito classuda. As pessoas estão felizes com os Jogos.

Jogar em casa está ajudando ou atrapalhando os atletas brasileiros? Pra mim não importava jogar em casa ou fora, importante era estar com o ginásio cheio. Tudo fica mais especial. No caso do futebol, acho que a pressão de fato é diferente porque temos este estigma de não termos a medalha de ouro. Estamos acostumados a vitórias.

A conduta de alguns jogadores como Neymar se recusando a dar entrevistas não faz aumentar a antipatia pela seleção? Ele deveria dar entrevistas sempre, concordo. Mas o atleta não é uma máquina. Às vezes ele fica triste com o próprio desempenho. Então para não falar besteira, prefere se preservar.

Não passamos demais a mão na cabeça de alguns jogadores? Se passamos, a culpa não é deles. E outra coisa; futebol joga muito também, o tempo todo tem campeonato. É difícil focar.

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A temporada regular da NBA tem 82 jogos por time, sem contar os playoffs… Mas é uma competição só. Não tem Champions League, campeonatos nacionais etc. E os atletas da NBA ficam quase três meses de férias.

Qual foi o maior sofrimento da sua carreira? Não conseguir me classificar para a Olimpíada de Seul em 1988. Era o meu auge, tinha 27 anos. Deletei da minha cabeça aquela Olimpíada, não quis assistir a nada. Aliás, é o que faço às vezes com meu filho (João Victor Marcari compete no Hipismo). Procuro não entender nada da modalidade dele, nunca sei se ele errou. Quando termina a prova que eu pergunto: “Foi bem?”. Durante não faço ideia.

Vocês conversam sobre esporte? Falamos da parte psicológica só. Pais não tem que se meter, podem atrapalhar muito. Nunca joguei uma bola de basquete para ele brincar, vibrei quando escolheu adestramento. Se meu filho fosse para o basquete haveria cobrança, iam dizer: “Ah, mas ele não joga como a mãe”.

Por que empresas te contratam para dar palestras? É motivacional. Pilhar os caras para aumentar as vendas. Gosto sempre de falar sobre pressão. Imagina o Neymar batendo pênalti com o estádio lotado? “Ah, mas ele ganha muito”, dizem às vezes. Mas isso não tem a ver com pressão.

Você acha que as pessoas tem direito de protestar dentro das arenas dos Jogos? Somos um país livre e democrático. Não pode haver agressividade ou desrespeito ao tênis, à ginástica e à largada da natação que exigem silêncio. Agora estender uma faixa de protesto calado? Não vejo problemas.

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O que achou da punição a parte dos atletas russos por causa do doping? Estava na hora de uma atitude assim. A coisa corria muito solta. Muitas medalhas estão sendo devolvidas. Mas agora, muito tempo depois de serem conquistadas. Não é justo.

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