Ao proibir as organizadas, federação só joga para a torcida
Medida pode ser derrubada facilmente - e, ainda que resista, não será capaz de resolver o problema da selvageria dos torcedores. Saiba o que deveria ser feito
Além de melhorar a inteligência das forças de segurança e de proteger os pontos onde os torcedores podem se encontrar, as autoridades do estado precisam abandonar os paliativos e mudar de foco
Alarmada com a repercussão da batalha campal entre torcedores de Corinthians e Palmeiras numa avenida de São Paulo, no domingo, a Federação Paulista de Futebol (FPF) anunciou na segunda-feira a proibição à presença das torcidas organizadas Gaviões da Fiel e Mancha Alviverde nos estádios, uma tentativa de dar alguma resposta à opinião pública. De acordo com a entidade, o veto ficará em vigor “até que sejam apurados os fatos e os responsáveis punidos nos termos da legislação em vigor”. A própria justificativa da FPF já dá sinais de que a medida não resolverá o problema – afinal, o texto abre as portas para o retorno das organizadas aos campos tão logo os envolvidos na briga de domingo estejam presos. Ainda que seja mantido por mais tempo, o veto às organizadas nos estádios não passa de uma reação inócua para tentar convencer a opinião pública de que algo está sendo feito. Isso porque os integrantes das organizadas continuarão frequentando os estádios – mas com uniformes do Corinthians e do Palmeiras no lugar dos camisas da Gaviões e da Mancha. Além disso, o problema, há muitos anos, já não está mais nos estádios paulistas, e sim nas próprias ruas da cidade, onde os integrantes das organizadas costumam marcar suas brigas. Ou seja: nos fins de semana de clássicos, pessoas que nada têm a ver com a partida – e que estão a quilômetros e quilômetros de distância dos estádios – estão sujeitas a entrar no fogo cruzado da guerra dos torcedores.
A revolução inglesa
A tragédia de Heysel (veja as imagens no vídeo acima), motivou uma transformação radical nos estádios da Inglaterra. No blog do Acervo Digital, saiba como foi o desastre provocado pelos hooligans e o que aconteceu depois.
Os criminosos das torcidas usam a internet para combinar os locais de suas pancadarias – e a Polícia Militar, que monitora essa comunicação, já mapeou os lugares preferidos dos briguentos. O palco do confronto de domingo, a Avenida Inajar de Souza, na Zona Norte da capital paulista, é ponto conhecido para as pancadarias agendadas pela internet. A Mancha, que teve dois torcedores mortos e outros dois baleados, afirma ter sido “vítima de uma emboscada” – mas a torcida já participou de dezenas de combates marcados com facções rivais em vários pontos da cidade. A PM estava presente na região, mas com poucos homens e viaturas. Além de melhorar a inteligência de suas forças de segurança e de proteger melhor os pontos onde os torcedores podem se encontrar, as autoridades do estado precisam abandonar os paliativos e mudar de foco, concentrando seus esforços em medidas mais ambiciosas (e de efeitos permanentes). É consenso entre os especialistas que a melhor receita para combater a brutalidade das gangues de torcedores foi criada na Inglaterra, nos anos 1980, depois de uma série de tragédias nos estádios. Os hooligans não desapareceram do país, é claro, mas a política de segurança adotada pelos ingleses foi capaz de contê-los. Hoje, os fins de semana de futebol na Inglaterra são sinônimo de fortíssima presença policial e muito rigor no acompanhamento das torcidas – e, graças a tudo isso, são sinônimo também de estádios lotados de torcedores civilizados, acompanhados de suas mulheres e filhos, seguros de que não serão envolvidos em uma guerra durante uma simples partida de futebol. A seguir, algumas providências tomadas na Inglaterra e outras cobradas pelos especialistas brasileiros – um roteiro do que deve ser feito para oferecer a mesma segurança aos torcedores no país.