Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

André Brasil: ‘Era o último a ser escolhido no futebol’

O nadador André Brasil tem sete medalhas de ouro em Jogos Paralímpicos

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 set 2016, 11h12 - Publicado em 7 set 2016, 11h12

A natação foi a modalidade que mais rendeu medalhas ao Brasil na última Paralimpíada: catorze das 43 conquistadas em Londres 2012. André Brasil ganhou cinco delas (três de ouro), e ainda tem outros quatro ouros de Pequim 2008 no currículo. O nadador de 32 anos, nascido e criado na Zona Norte do Rio de Janeiro, será uma das estrelas do evento no Rio. De volta dos Estados Unidos, onde rea­li­zou a maior parte de sua preparação, André abre um sorriso ao contar que várias provas da natação nos Jogos do Rio estão com entradas esgotadas. “É uma competição tão grandiosa quanto a Olimpíada. As pessoas começam a entender que não é um evento social. É um evento esportivo com atletas de elite.”
A cabeça raspada das outras Paralimpíadas deu lugar a um visual de galã, com cabelo comprido e barba. Consagrado, André Brasil esbanja confiança. “Eu nunca me vi diferente, por exemplo, do Cesar Cielo, do Thiago Pereira, dos ícones da natação brasileira. Acho que esses Jogos no Brasil vêm para mudar a imagem de que o esporte paralímpico é de segunda linha.”

André, porém, já foi bem menos seguro. Ainda bebê, os médicos o diagnosticaram com poliomielite (paralisia infantil). Ele só escapou da cadeira de rodas porque passou por sete cirurgias na infância e praticou muito esporte. Sua perna esquerda é menor e mais fina que a direita – calça 36 num pé e 43 no outro. Ele nada na categoria S10, aquela com menor grau de defi­ciên­cia.

Hoje, André consegue rir da fase mais complicada, a adolescência, quando encarou o preconceito dos colegas. “Muitas vezes eu era motivo de chacota, era o último a ser escolhido no futebol”, conta o torcedor do Vasco da Gama, que também praticou judô, handebol, tae kwon do e basquete, até focar a natação. Ele diz ser grato aos professores de educação física que nunca o separaram dos outros garotos por causa da deficiência — tanto em casa como fora, sempre dispensou tratamento diferenciado.
André Brasil deu suas primeiras braçadas aos 9 anos e moldou toda a sua personalidade dentro das piscinas. “O esporte foi transformador. Não imaginava ser atleta, só queria condições melhores de locomoção. Os médicos disseram que eu poderia não andar ou ter problemas mentais.” Pensando em disputar os Jogos de Tóquio 2020, ele não tem planos para quando se aposentar, mas sabe que continuará trabalhando na área. “Foi o esporte que me deu a chance de me transformar física e socialmente. Sigo a passos claudicantes e mancos, mas sempre em frente.”

O desempenho do ídolo Clodoaldo Silva nos Jogos de Atenas 2004 (seis medalhas de ouro e uma de prata) foi o estopim: André Brasil queria ser o novo ídolo da natação paralímpica e começou a carreira batendo recordes. Mas em 2005 viveu sua maior frustração ao ser considerado inelegível para o esporte paralímpico. “Foi o pior momento da minha vida, porque me privaram do que eu mais gostava. Eu morri por sete meses, catorze dias e algumas horas.” André passou por uma série de avaliações com médicos, fisioterapeutas e educadores físicos até conseguir provar que sua deficiência lhe trazia prejuízos na piscina. Desde então, tornou-se uma referência na categoria S10, que inclui atletas com deficiências variadas.

Continua após a publicidade

Sem cerimônia, André admite que as diferenças anatômicas entre os atletas jogam contra o esporte. Ele explica, por exemplo, os efeitos de competir contra adversários amputados. “Eu tenho o membro inteiro e, apesar de ele não se movimentar de maneira ideal, me dá vantagem em provas de velocidade. Mas numa prova de peito, por exemplo, o amputado leva vantagem, porque ele tem um peso a menos.” O nadador brasileiro torce para que o desenvolvimento do esporte paralímpico traga condições de maior igualdade no futuro. “Ainda é o que temos de mais justo por enquanto.”

Em 2014, ele descobriu hérnias cervicais que o deixaram um semestre afastado das raias, mas retornou a tempo de disputar o Mundial de Glasgow, na Escócia, em 2015: conquistou mais três medalhas de ouro e duas de prata. “Estou feliz e é assim que podemos produzir coisas extraordinárias. Minha meta: pelo menos cinco medalhas.” Ele competirá em oito provas e confessa que os 100 metros nado livre – sua melhor marca é 50s87 – são seu desafio predileto.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.