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Vida longa à rainha – que nem pensa em entregar a coroa

Todo mundo adora o novo casal real. Na Grã-Bretanha, porém, ninguém mais fala em sucessão. E Elizabeth II, 85 anos, só pensa no futuro de seu reinado

Por Giancarlo Lepiani, de Londres
20 jun 2011, 08h04

Se no passado comentava-se sobre a possibilidade de abdicação, hoje acredita-se que essa hipótese é tão provável quanto o príncipe Charles virar símbolo sexual das britânicas

Passados quase dois meses desde o casamento real de William e Catherine, quem visita a Abadia de Westminster, o palco do matrimônio, é pego de surpresa pela ausência de um dos mais preciosos tesouros do local, centro espiritual da realeza britânica. A cadeira de coroação, onde foram ungidos quase todos os reis e rainhas desde 1308, não está no seu lugar de costume, atrás do grande altar. Foi transferida para uma pequena câmara, no lado direito da nave central, onde é submetida a um delicado trabalho de restauração. Na Torre de Londres, outra parada obrigatória para quem vai à capital britânica, uma placa informa que as Joias da Coroa, que incluem as peças usadas pelos novos monarcas na coroação e nas procissões que ocorrem depois da cerimônia, ficarão temporariamente fora de exibição dentro de alguns meses. Seriam sinais de que a monarquia mais importante do planeta prepara-se para uma sucessão no trono? Muito pelo contrário. Quem cuida desses símbolos reais sabe bem que terá tempo de sobra para preservar a cadeira e reformar o local onde as joias são expostas (ele será renovado até 2012). Elizabeth II, afinal, não parece estar disposta a dar qualquer chance aos herdeiros. Com a popularidade em alta e a saúde em dia, a rainha nem pensa em sucessão. Só quer saber do futuro de seu reinado, que tem tudo para se transformar no mais longevo de toda a história.

A passagem da coroa, evidentemente, está sujeita à mais imprevisível das certezas da vida. Elizabeth, no entanto, está em ótima forma – como mostrou no mês passado, quando sua concorrida agenda conciliou uma histórica viagem à Irlanda e a aguardada visita de estado do presidente americano Barack Obama. Há pouco mais de uma semana, comemorou seus 85 anos, sorridente e sacudida. Já se vão cinco anos desde a última vez em que os súditos levaram um susto com a saúde da rainha. Em outubro de 2006, ela faltou à inauguração do Estádio Emirates. Estava com dores musculares. Dois meses depois, apareceu com uma bandagem na mão direita. Algum problema mais grave? Nada disso: tinha levado uma mordida ao tentar apartar uma briga entre dois de seus amados cães da raça corgis. A genética também está ao seu lado – a rainha-mãe Elizabeth viveu até os 101 anos. Em maio último, Elizabeth II transformou-se na segunda monarca há mais tempo no trono britânico (está atrás apenas da rainha Vitória, que reinou de 1837 a 1901). Para quebrar o recorde, terá de reinar até setembro de 2015. Se chegará até lá, ninguém sabe. Mas em uma coisa todos os especialistas nos assuntos da realeza concordam: isso depende apenas de sua saúde. Se no passado comentava-se sobre uma possível abdicação, hoje acredita-se que a hipótese é tão provável quanto o príncipe Charles virar símbolo sexual das britânicas.

Crise familiar – Acontecimento raríssimo na monarquia (o último a renunciar à coroa foi Eduardo VIII, por causa de seu escandaloso romance com a americana divorciada Wallis Simpson, em 1936), a abdicação, processo extremamente complicado, tem de passar pela aprovação dos Parlamentos de todas as nações da Comunidade Britânica. No longo reinado de Elizabeth II, nunca chegou ao ponto de ser uma alternativa discutida a sério – principalmente por ela, que sempre soube que o dever real está à frente de qualquer desejo pessoal. Em pelo menos duas ocasiões, contudo, surgiu com força no imaginário da opinião pública, que passou a discutir se a sucessão voluntária não seria um instrumento válido para oxigenar e fortalecer a coroa. O primeiro acontecimento que colocou a abdicação em pauta nas mesas dos pubs britânicos foi a crise provocada pela separação de Charles e Diana. Para alguns analistas, entregar o trono ao príncipe de Gales mudaria radicalmente a relação dele com os súditos, impedindo que, ao ser coroado no futuro, virasse um rei desmoralizado, cuja fragilidade ameaçaria a própria existência da realeza. Bobagem: Elizabeth contornou a crise familiar, aguentou o terremoto da morte de Diana e, aos poucos, restaurou a normalidade à monarquia. O segundo desdobramento que fez despertar o debate sobre a abdicação de Elizabeth foi a ascensão de William como nova referência popular da realeza – fenômeno que o noivado com a lindíssima Catherine só fez multiplicar.

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Apesar da imagem altamente positiva do novo casal real e da transformação do duque e da duquesa de Cambridge em celebridades de alcance planetário, nem deu tempo para que William e Catherine fossem incensados como a salvação da monarquia – que, aliás, nem precisa ser salva. Afinal, por causa de Elizabeth II, a realeza vive um momento historicamente incomum, de absoluta solidez e estabilidade. A façanha da rainha torna-se ainda maior diante do fato de que o regime monárquico se baseia em valores, ritos, costumes e ideias cada vez mais fora de compasso com a vida moderna. Ainda assim, a Grã-Bretanha, um dos países mais desenvolvidos e avançados do globo, não manifesta qualquer desconforto com a manutenção de tradições milenares no coração do poder e da fé (a rainha, vale lembrar, é também a governante suprema da Igreja Anglicana). Ainda traumatizada pela campanha de terror do IRA, que abalou o reino durante uma boa parte do século passado, a população britânica seguiu com enorme atenção a visita de Elizabeth à Irlanda, a primeira de um ocupante do trono desde a independência do país. Foi um sucesso estrondoso de público e crítica. Em artigo publicado no jornal The Times, o ex-primeiro-ministro John Major disse que a visita “dissipa uma velha sombra e prepara o terreno para um futuro fértil”. Escrevendo para o Daily Telegraph, a jornalista irlandesa Sarah Carey resumiu a repercussão da passagem da rainha entre seus compatriotas da seguinte forma: “Ficamos encantados, emocionados, surpresos e impressionados”.

Sutileza e elegância – A viagem acabou revelando também que a missão da rainha, mesmo que num momento de calmaria, vai muito além de simplesmente manter o navio no prumo antes que a próxima tempestade se aproxime. Usar o termo “rainha da Inglaterra” ao se referir a alguém que não tem real poder é, no mínimo, um erro. A influência de Elizabeth II é verdadeira e inescapável. Ainda que não possa manifestar opiniões pessoais sobre questões de governo, ela já está calejada o bastante para saber como sinalizar com sutileza e elegância seus temores e apreensões. Em uma recente reunião com o primeiro-ministro David Cameron, por exemplo, deu pistas de sua preocupação com a fragmentação de seu reino através de um possível referendo sobre a independência escocesa. Elizabeth não quer ser a última rainha do país que surgiu da união entre Inglaterra e Escócia, em 1707. Mas o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, já tratou de exibir sua admiração pela rainha, falando publicamente de sua afeição pela figura de Elizabeth e da importância de seu papel simbólico. Enquanto lida com questões delicadas como essas, a rainha começa a se preparar para a próxima grande festa da monarquia. Com William e Catherine de volta da lua de mel e a rotina dos Windsor reconduzida ao ritmo normal, Elizabeth II começou a contagem regressiva de um ano para seu Jubileu de Diamante, em junho de 2012. Até lá, acredita-se que a restauração da cadeira de coroação de Westminster esteja concluída – não para receber um novo monarca, mas para ser admirada pelas multidões que irão a Londres para a celebração dos 60 anos de reinado.

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