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Tudo é excesso no ‘Chatô’ de Guilherme Fontes

O filme mais notório do cinema naciona foi concluído, quem diria. Ele tem nexo e não mostra remendos. Filmado em estilo maximalista, é um ‘Cidadão Kane’ antropofágico

Por Isabela Boscov
20 nov 2015, 07h49

Não será exagero dizer que Chatô – finalmente em cartaz no país – é o filme mais notório do cinema nacional: já são vinte anos desde que Guilherme Fontes, então um galã da Globo que nunca estivera do lado de lá de uma câmera, venceu a parada pelos direitos de adaptação do best-seller homônimo de Fernando Morais e deu a partida em um imbróglio sem precedentes. Desde 1997, ano em que Fontes de fato começou a rodar seu filme com verba captada por meio das leis de incentivo, as denúncias, acusações, suspeitas e apurações se emaranham de tal forma que se dava como certo que Chatô nunca seria lançado. Aliás, cogitava-se que nem material suficiente para compor uma narrativa haveria. Dois fatos, portanto, surpreendem: primeiro, Fontes fez um filme com nexo e sem remendos. Segundo, a produção é verdadeiramente esmerada. Se a prestação de contas realmente bate com ela é, ainda, assunto do Tribunal de Contas da União (o órgão estabeleceu a dívida atual de Fontes em mais de 80 milhões de reais, mas o cineasta recorreu da decisão). Já o prazer, ou não, do filme é assunto para cada espectador decidir conforme suas inclinações: Chatô é benfeito, mas é também exaltado, excessivo – é cinema maximalista, digamos assim.

O paraibano Francisco de Assis Chateaubriand (1892-1968), é verdade, tinha uma veia forte de excesso: um legítimo self-made man, entre as décadas de 30 e 60 ele influiu em quase todas as esferas da vida brasileira. Comandou um império de imprensa, circulou nos altos da política (teve uma complicada aliança com Getúlio Vargas), e em 1950, ao fundar a TV Tupi, trouxe a televisão para o Brasil. Foi ainda senador, “imortal” da Academia Brasileira de Letras, cofundador do Masp com Pietro Maria Bardi e, sobretudo, figura altamente folclórica – e folclorizada. O paralelo com William Randolph Hearst (1863-1951), o magnata do mesmo ramo que Orson Welles mitologizou em Cidadão Kane, quase que se oferece voluntariamente. E Fontes aceita de bom grado a oferta: Chatô é um Cidadão Kane antropofágico, no qual o protagonista, paralisado pela trombose que o acometeu em 1960, rememora sua trajetória como um julgamento, ou um programa de auditório, ou às vezes um delírio. É nítida aí também a influência de All That Jazz, de Bob Fosse. E mais ainda a do teatro hiperbólico de José Celso Martinez Corrêa, não só na narrativa, mas também na interpretação de Marco Ricca.

Nesse sentido, Chatô curiosamente se beneficia do longuíssimo trajeto até seu lançamento. Tivesse sido concluído no fim dos anos 1990 ou início dos 2000, sofreria muito na comparação com, por exemplo, a liberdade neorrealista de Central do Brasil (1998) ou o arrojo narrativo de Cidade de Deus (2002). Agora, despontando quase solitário no meio de um soterramento de comédias popularescas que passam no cinema mas nem cinema propriamente são, sua superioridade é incontestável.

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