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Roberta Miranda: ‘Sertanejo era o nicho mais machista da música’

Cantora diz que sente orgulho de ver nomes como Paula Fernandes, Marília Mendonça e Simone & Simaria ocupando um espaço que costumava ser só de homens

Por Mabi Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 jul 2017, 15h44

Roberta Miranda não se sente mais sozinha no universo sertanejo — e ela agradece. A cantora surgiu no cenário musical na década de 1980, quando o sertanejo era dominado pelas duplas masculinas “bota e chapéu”, como ela mesma define. Nos últimos anos, porém, nomes como como Paula Fernandes, Marília Mendonça, Simone & Simaria e Maiara e Maraisa, a quem Roberta apelidou de “sementinhas”, reivindicaram o gênero musical para si e vêm fazendo barulho por onde passam.

A veterana garante que não há competição entre elas e que sente orgulho de ver as novinhas ocupando espaço. “O sertanejo sempre foi o nicho mais machista da música. Nós temos muitos exemplos femininos no samba, na MPB, mas antes de mim, e agora das meninas, tínhamos poucos nomes de mulheres que fizeram carreira no sertanejo, como Inezita Barroso e Nalva Aguiar. Tenho orgulho de ver as novas cantoras ocuparem um espaço tão grande hoje”, diz a VEJA.

A cantora, agora, celebra o lançamento do DVD Os Tempos Mudaram, que conta com canções originais e parcerias com novos nomes da música sertaneja.

Confira a entrevista completa com Roberta Miranda:

A respeito do título do DVD, Os Tempos Mudaram, quais tempos mudaram? Tudo mudou. Quando comecei na música, aos 18 anos, era inconcebível uma mulher nordestina ser consagrada pelo povo como rainha de música sertaneja, que até então era dominada pelas duplas “bota e chapéu”. Hoje temos uma onda de meninas no sertanejo, minhas sementinhas, como eu gosto de chamá-las.

Como era no início da sua carreira? Sempre fui muito disciplinada, não deixei o preconceito me derrubar. Brinco que envergo, mas não quebro. Algumas pessoas sugeriram parcerias para gravar minhas composições. Respondi: “Não, querido, a música é minha! Eu posso não ter dinheiro nem para comer, mas quero meu nome rodando por aí”. Mostrei meu valor pelo meu trabalho. Também ouvi bobagens, como “O que essa mulher está fazendo aqui?”, até de músicos da minha banda. Cheguei a mandar gente embora por causa disso.

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Como é sua relação com as “novatas” do sertanejo? Elas te procuram quando precisam de ajuda? Tenho muito carinho e amor por cada uma delas. Elas têm consciência de tudo que fiz pelas mulheres nesse mercado, o quanto lutei, falei e insisti que faltavam vozes femininas no sertanejo. Elas podem contar comigo, e sabem disso. Aqui não tem concorrência, aqui tem uma mãe de braços abertos e orgulhosa por deixar um legado para elas. 

Se por feminismo entende-se lutar pelo espaço de mulher, buscar o respeito e tratamento igualitário, então sim, sou feminista. Mas não sou a favor de colocar os homens para baixo, de magoá-los ou fazer com eles o que eles fizeram com a mulher.

Roberta Miranda

Muitos não consideram o “feminejo” como sertanejo, e até inventaram um novo nome para ele: “popnejo”. A que você atribui essa comparação? A influência da música pop no sertanejo não é de hoje. Existe um lado pop nos arranjos de baixo, guitarra e bateria de muitos nomes do gênero atuais, como Luan Santana. No final, tudo é uma ramificação da música raiz. Chitãozinho e Xororó cantavam música raiz, então veio minha geração com o sertanejo, as minhas sementinhas com o feminejo, e quem sabe as filhinhas delas façam o popnejo.

Roberta Miranda no DVD "Os Tempos Mudaram"

Você se considera feminista? Se por feminismo entende-se lutar pelo espaço de mulher, buscar o respeito e tratamento igualitário, então sim, sou feminista. Mas não sou a favor de colocar os homens para baixo, de magoá-los ou fazer com eles o que eles fizeram com a mulher. O sertanejo sempre foi o nicho mais machista da música. Nós temos muitos exemplos femininos no samba, na MPB, mas antes de mim, e agora das meninas, tínhamos poucos nomes de mulheres que fizeram carreira no sertanejo, como Inezita Barroso e Nalva Aguiar. Tenho muito orgulho de ver as novas cantoras ocuparem um espaço tão grande hoje. Olho e penso: “Eu consegui”. Mas esse movimento de empoderamento feminino não é exclusivo da música, a mulher tem descoberto seu poder em diversas áreas da vida. O homem precisa ficar antenado, a mulher não depende mais do dito cujo nem para fazer filho (risos).

Vou repetir: não sou heterossexual, não sou homossexual, não sou bi, sou tri! Já passei da fase de rótulos. Quem come de tudo não passa vontade.

Roberta Miranda
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Por manter uma vida pessoal discreta surgiram rumores quanto à sua sexualidade. Isso te incomoda? Não, nunca me incomodou. Venho de uma família bastante polida, brava, minha mãe, meu pai e meus irmãos sempre ficaram em cima de mim para tudo. Bem no começo da minha carreira, jurei sob o leito da minha mãe que minha vida pessoal caberia apenas a mim, e cumpri. Até hoje não dou detalhes quanto às minhas particularidades, vez ou outra comento alguma coisinha. Quanto à minha sexualidade, um dia a Hebe Camargo perguntou se eu era homossexual, respondi: “Hebe, sou o que vocês desejam que eu seja”. Não tenho nada contra nada. Vou repetir: não sou heterossexual, não sou homossexual, não sou bi, sou tri! Já passei da fase de rótulos. Quem come de tudo não passa vontade.

Muitos artistas brasileiros estão se destacando no cenário internacional, como a Anitta e até a Gretchen, que participou do clipe da Katy Perry. Como você vê esse momento para os artistas brasileiros? Achei maravilhoso o lyric video da Gretchen, ri muito! As pessoas precisam se atualizar, senão o trem atropela. Mas mesmo antes delas, eu já tinha uma carreira internacional muito bonita, fiz shows em lugares que nenhum brasileiro fez, como na África Ocidental.  

Existe alguém no cenário musical atual com quem você gostaria de trabalhar? Só o Roberto Carlos, meu ídolo, meu amor. Robertinho tem que cantar com a Robertinha.

Quais seus planos futuros? Fui convidada para ser embaixatriz da escola Dragões da Real no próximo Carnaval, eles vão fazer um carro em homenagem a mim e à minha contribuição para a música. Também estão em produção um filme e um livro sobre mim. Há dois anos, apontei alguns nomes para o escritor procurar e entrevistar, para o livro ficar mais divertido, pitoresco. Agora falta o meu.

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