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Os sete pilares de Star Wars

Hoje nas mãos da Disney, a grande criação de George Lucas é uma marca de sucesso, um universo mitológico singular e um objeto de devoção quase religiosa. Aqui estão algumas razões de seu fascínio irresistível

Por Jerônimo Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 dez 2015, 20h35

Para os apreciadores de Star Wars, parecerá quase indecoroso afirmar que a franquia inaugurada em 1977 – e pelo quarto episódio da história – é um produto de massas. Sim, a popularidade e a rentabilidade da série alcançam escalas para lá de industriais. Especulações de mercado calculam que O Despertar da Força, que custou cerca de 200 milhões de dólares, terá uma bilheteria superior a 2 bilhões, e essa nem é a principal fonte de lucro para a marca: vendas em merchandising desde o primeiro filme estão estimadas em 32 bilhões. No entanto, para além dos números avassaladores, algo mais intangível destaca Star Wars de outros blockbusters. Os fãs são multidão, mas a relação que cada um deles nutre com o universo criado por George Lucas é tingida de notas individuais de nostalgia, afeto e devoção. O mesmo poderia ser dito de Harry Potter, mas essa série não nasceu nas telas – os fãs foram conduzidos ao cinema pelos livros de J.K. Rowling. Além disso, Harry Potter ainda não se provou tão longevo: o primeiro livro foi publicado em 1997, vinte anos depois de Luke Skywalker, Leia e Han Solo terem mudado a história do cinema, e o primeiro filme do bruxo estreou em 2001, dois anos depois de A Ameaça Fantasma mostrar a infância infeliz de Anakin, o futuro Darth Vader. A paixão pela saga espacial atravessa gerações, inoculada nos filhos pelos pais – como atestam os fãs exemplares retratados nesta reportagem. Há quem vá mais longe e batize o filho com o nome de algum personagem da saga. Um levantamento da proScore, empresa especializada na análise do cadastro do CPF, revela que no país há pelo menos 107 Lukes, 21 Jedis, doze Skywalkers e sete Anakins.

Como explicar o irredutível encantamento de Star Wars? Várias razões para o fenômeno têm sido aventadas. Aqui, são apresentadas sete – apenas porque, até esta data, a franquia conta com sete filmes. A soma delas talvez chegue perto de uma explicação abrangente. Mas é bem provável que você, leitor e fã de Star Wars, tenha razões pessoais que não caibam nem aqui, nem em nenhuma outra lista.

I) A MITOLOGIA – Sejamos francos: para os padrões de hoje, muita coisa parece capenga na primeira trilogia, lançada entre 1977 e 1983, e as correções e adições digitais que George Lucas fez anos mais tarde não ajudaram muito. Diálogos e direção de atores, sobretudo em Uma Nova Esperança, são sofríveis; os efeitos especiais, embora inovadores para o período, têm suas falhas; e há uma profusão de alienígenas com inexpressivas feições plásticas. Mas, do meio dessa precariedade, emerge uma história que concentra de forma simples e eficiente certo arcabouço mítico ancestral. A luta do Bem contra o Mal, o rito de passagem do jovem Luke Skywalker sob orientação do mestre Yoda, a redenção de Darth Vader: isoladamente, nenhum desses elementos é original, mas, em conjunto, eles têm a qualidade mágica de construir o universo autossuficiente de Star Wars.

II) RELIGIÃO – Pasme: há gente no planeta Terra que declara professar a religião Jedi. No último censo da Inglaterra, cujos resultados foram divulgados em 2012, eram pouco mais de 170 000 fiéis. Fanáticos que acreditam mesmo na Força são obviamente uma minoria extremada entre os espectadores. Mas o misticismo dos cavaleiros Jedi, com seus tons remotamente budistas, responde por muito do fascínio dos filmes. Em Como Star Wars Conquistou o Universo, o jornalista Chris Taylor observa que a crença Jedi, justamente por ser teologicamente pobre, tem a medida certa para o nosso tempo: é uma fé vaga, sob medida para sociedades seculares.

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III) MERCHANDISINGStar Wars inovou a indústria ao desbravar fontes de receita além da bilheteria, no licenciamento da marca para a venda de brinquedos e badulaques variados. No Brasil, de acordo com a Disney, dona da marca, há hoje 150 empresas produzindo cerca de 1 500 itens de Star Wars. Uma grande rede de lojas de brinquedos projeta fechar o ano com um crescimento de 700% nas vendas de produtos do filme. A máquina promocional tem seu peso na força de Star Wars. Mas cumpre lembrar que os filmes movem a indústria, não o contrário. E outros filmes fracassam a despeito dos mais caros esforços publicitários de seus estúdios – é o caso de John Carter e O Cavaleiro Solitário, ambos da Disney.

IV) APELO ADOLESCENTE – Em uma entrevista que concedeu com evidente má vontade na première de O Despertar da Força, George Lucas diz que, a princípio, pensou em fazer Star Wars para tratar de certas “correntes subterrâneas psicológicas” de quem passa pela adolescência. Luke, o herói da primeira trilogia, começa a história como um adolescente entediado em um planeta modorrento. Não deixa de ser revelador que a figura do adulto nerd com fixações imaturas em Estrelas da Morte e sabres de luz tenha se tornado um clichê de comédias (por exemplo, na sitcom How I Met Your Mother). Star Wars faz parte de uma cultura da adolescência prolongada.

V) REBELDIA – No filme de 1977, os mocinhos eram os rebeldes que lutavam contra o Império; em O Despertar da Força, eles formam a Resistência, que enfrenta a Primeira Ordem. A luta contra o poder totalitário é parte fundamental da franquia. Há até elementos visuais que lembram os comícios nazistas de Nuremberg. Mas tudo se passa há muito tempo em uma galáxia muito distante: sejam quais forem as afiliações ideológicas do espectador, ele pode colocar a máscara do vilão – Darth Vader ou Kylo Ren – em qualquer político que inspire seu desprezo.

VI) DRAMA FAMILIAR – Tal como a rebeldia, este item reforça o apelo às angústias adolescentes: os jovens heróis têm de acertar contas com um passado familiar que muitas vezes desconhecem. O centro vital de toda a série ainda está no episódio V, O Império Contra-Ataca: em meio a um renhido duelo de sabres de luz, Darth Vader faz a revelação chocante a Luke: “Eu sou seu pai”. Não se pode revelar muito, mas vale dizer que há elementos igualmente psicanalíticos em O Despertar da Força.

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VII) FANTASIA – “É tudo verdade”, diz Han Solo quando os inexperientes Rey e Finn perguntam sobre a antiga ordem dos Jedi. Na voz de Harrison Ford, a frase entrou no trailer de O Despertar da Força como uma promessa para velhos fãs e espectadores neófitos. Promessa cumprida: ao longo dos 135 minutos do filme, todos acreditamos que existe uma galáxia distante na qual a guerra separa, com inegociável simplicidade moral, os bons de um lado e os maus de outro. Todos os elementos anteriores convergem para este número sete: a grande história. Star Wars é uma fantasia tão inacreditável em sua exuberância que só nos permite concluir: é tudo verdade.

Com reportagem de Bruno Meier

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