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O inverno está chegando na HBO

Canal de TV paga exibe neste domingo o primeiro episódio da série 'Game of Thrones'. Sexo, violência e traição sem reservas. O gênero da fantasia acaba de ser reinventado na televisão

Por Marco Túlio Pires
6 Maio 2011, 23h40

A HBO faz questão de mostrar que o mundo de Game of Thrones não é um de contos de fadas

Não há bandidos e mocinhos, nem diferença entre bem e mau. Ao fim do primeiro episódio, o espectador já está imerso num mundo em que não há vencedores ou perdedores, apenas mortos e sobreviventes.

Quando a rede de TV americana HBO decide produzir uma série de televisão, os telespectadores não costumam se decepcionar. A rede é aclamada pela crítica internacional por reinventar os gêneros que aborda. Os exemplos de sucesso são muitos. Ela tratou com excelência os temas históricos de Roma (2005), deu nova cara ao desgastado faroeste com Deadwood (2006) e amadureceu o vampirismo adolescente com a perversa True Blood (2008). Sempre em busca de títulos para oxigenar sua grade de programação – e, como de costume, sem se preocupar com o tamanho dos gastos -, a emissora traz ao Brasil Game of Thrones, a fiel – e sombria – adaptação do primeiro livro de Crônicas de Gelo e Fogo: Guerra dos Tronos (Editora Leya, tradução de Jorge Candeias, 592 páginas, 49,90 reais), do autor americano George R. R. Martin. Para se ter ideia da dimensão da produção de Game of Thrones, só o primeiro episódio, que vai ao ar no domingo, teve um custo de 10 milhões de dólares, o equivalente ao que foi gasto com ‘Tropa de Elite 2’, um dos filmes de maior sucesso na história do cinema brasileiro.

Prólogo – Faz frio no extremo norte do continente imaginário de Westeros e um inverno tenebroso está chegando. Não o inverno a que estamos acostumados na Terra, mas uma estação congelante que pode durar décadas. É que no mundo criado por George R. R. Martin, que recebeu o nobre epípeto de ‘o Tolkien americano’ pela revista Time em 2005 (John R. R. Tolkien é o autor da série O Senhor dos Anéis), as estações podem se estender por gerações. Lentamente, uma ameaça sobrenatural começa a se esgueirar no limiar do mundo civilizado, aterrorizando os bravos membros da Patrulha da Noite, uma força combatente que faz constante vigília na Muralha – um muro de gelo com 700 metros de altura que corta o continente no posto mais avançado dos Sete Reinos. A barreira foi construída há milênios para proteger os homens da ameaça dos Andarilhos Brancos, uma raça de guerreiros gelados capazes de transformar animais e humanos em mortos-vivos. Os Andarilhos, no entantos, são tidos como extintos a há milhares de anos. Começa assim o primeiro episódio de Game of Thrones.

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Leia os primeiros capítulos dos dois primeiros livros de As Crônicas de Gelo e Fogo

Os 15 primeiros minutos de “O inverno está chegando” – nome do piloto da série – dão o tom aos 10 episódios que formam a primeira temporada e o primeiro livro de Martin. Três guardiões da Patrulha da Noite vasculham a Floresta Sombria, que fica além da Muralha, em busca de um bando de selvagens, quando são surpreendidos por um grupo de Andarilhos Brancos. Um guardião tem a cabeça cortada. O outro é transformado em morto-vivo. O último é poupado e consegue fugir.

Dura realidade – Descrente da existência de tais seres fantásticos, Eddard “Ned” Stark (Sean Bean, o Boromir no filme Senhor dos Anéis), senhor de Winterfell, fortaleza das terras do norte, condena o sobrevivente do grupo de patrulheiros à decapitação por deserção. No mundo protegido pelo gigantesco e milenar muro de gelo, o sobrenatural tornou-se folclore. Os eventos inexplicáveis recebem o mesmo status que lhes é dado pela ciência em nosso mundo – não são dignos de crédito sem provas contundentes. O filho mais novo de Ned, o menino Bran (Isaac Hempstead-Wright, estreante), de apenas 10 anos, é obrigado a presenciar a decapitação, sob o pretexto de que ‘não será um menino para sempre’. Essa é a tradição do norte.

A HBO faz questão de mostrar que o mundo de Game of Thrones não é um contos de fadas. Em uma época em que a traição separa cabeças de corpos, nenhum detalhe passa despercebido. A cena em que Ned Stark degola o patrulheiro dá arrepios pela crueza. A partir daí, a ameaça sobrenatural do norte é esquecida para dar lugar às intrigas palacianas, ao sexo – e algumas vezes incestuoso -, à violência, a todos os desvarios humanos. Game of Thrones põe em destaque, e com muita naturalidade, a natureza do ser humano em todas as suas facetas, pervertidas ou não.

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Intrigas palacianas – O inverno pode estar chegando para os habitantes de Westeros, mas o verão já é um pesadelo. Winterfell recebe a corte do rei Robert Baratheon (Mark Addy, Robin Hood), amigo de infância de Ned. Tal visita se deve ao fato de que o braço direito de Robert e padrasto dos dois amigos, Jon Arryn, morreu por causa de uma febre fulminante inexplicável. Ned é chamado para substitui-lo enquanto uma carta da viúva de Arryn chega avisando à família Stark de que o falecido marido teria sido assassinado pela família de Cersei Lannister (Lena Headey, 300), a rainha. Abarrotados de recursos e dinheiro, os Lannisters são uma família implacável, capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer. Cersei chegou ao poder porque seu irmão gêmeo e membro da guarda real, Jaime (Nikolaj Coster-Waldau, Cruzada), apunhalou o último rei pelas costas, contribuindo para que Robert assumisse o Trono de Ferro.

Do outro lado do mar estreito que separa Westeros de Essos, o outro continente do mundo imaginário, estão exilados os dois últimos sobreviventes da dinastia Targaryen, destronada pelas forças de Robert Baratheon há 17 anos. Cego pelo ódio e pela vingança, o inexperiente Viscerys Targaryen (Harry Lloyd, David Copperfield) pretende vender a belíssima e jovem irmã, Daenerys (Emilia Clarke, Doctors), em um casamento arranjado com Khal Drogo (Jason Momoa, Stargate Atlantis), líder de uma tribo de senhores de cavalos. O objetivo de Viscerys é conseguir 40.000 soldados como moeda de troca para tentar reaver o trono de seu pai, o rei morto por Jaime Lannister. Tamanha é a vontade de vingar o falecido rei Targaryen, que Viscerys afirma à irmã que irá conseguir o exército de Khal Drogo mesmo que para isso ela tenha que fazer sexo com toda a tropa do líder, inclusive os cavalos. Daenerys cede…

Jogatina dos tronos – O telespectador não deve se intimidar pela imensa quantidade de personagens apresentados no primeiro espisódio da série. É verdade que a densidade das relações entre os diversos participantes do jogo dos tronos se perdeu com a adaptação do livro para as telas, mas esse é o preço que se paga para ter uma adaptação de tanto esmero visual. Contudo, os produtores da HBO tomaram o cuidado necessário para agradar a maior parte dos interessados, sejam novos ou antigos fãs.

Em Game of Thrones o poder, como sugere o nome da série, é apenas um jogo. Não há bandidos e mocinhos, nem diferença entre bem e mau. Ninguém espera viver o bastante para ver o que vai acontecer. Pessoas morrem por razões banais ou por decisões mal pensadas. A honra e a glória há muito foram esquecidas e não são ferramentas aptas a manter um homem vivo. Ao fim do primeiro episódio, o espectador já está imerso num mundo em que não há vencedores ou perdedores, apenas mortos e sobreviventes.

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