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Novos Baianos em São Paulo: tinindo, trincando

Show une diversas gerações de fãs – e agrada a todas

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 ago 2016, 12h00

Sim, ficou tudo lindo. A segunda apresentação dos Novos Baianos em São Paulo foi um momento especial, que uniu diversas gerações. Havia as que conheceram o grupo à época de seu surgimento, no início dos anos 70, aqueles que (como eu) eram jovens demais para entender sua importância, mas que depois foram seduzidos por discos como Acabou Chorare (1972) e Novos Baianos F.C. (1973), e os netos e filhos destes, que passaram um bom tempo escutando histórias sobre o violão sambístico de Moraes Moreira, o rebolado serelepe de Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), a voz de veludo de Paulinho Boca de Cantor e o virtuosismo de Pepeu Gomes na guitarra. Nenhum desses três grupos saiu decepcionado. Se avôs e pais tiveram naquela noite a oportunidade de rever velhos amigos e canções que marcaram importantes momentos de sua existência, os jovens ali presentes (ainda que em número menor o que a turma de cabelos brancos) tiveram a chance de assistir a um grupo tinindo e trincando. Ainda que a voz de Moreira e a saúde de Luiz Galvão, letrista e mentor do grupo, estejam longe de seus melhores dias.

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Os Novos Baianos surgiram do encontro de Moreira e Galvão numa pensão em Salvador. Na biografia que escreveu sobre o grupo, o letrista narra que essa união nasceu de uma sugestão de Tom Zé, para que os dois dessem continuidade à revolução musical provocada pelo tropicalismo. O grupo depois receberia a adesão dos baianos Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor e da carioca Baby Consuelo. O molho rítmico seria posteriormente formado pelo baterista Jorge Gomes, pelo baixista Dadi Carvalho – depois substituído por Didi Gomes – e pelos percussionistas Bola e Baixinho. Com exceção dos percussionistas, já falecidos (coube a Gil Oliveira, filho de Paulinho, cobrir essa função) foi essa formação que se apresentou no palco do Citibank. Em alguns momentos, Dadi, uma espécie de Dorian Gray novo baiano (mas sem a perversão sexual, diga-se) assumiu a guitarra para Didi brilhasse sozinho no baixo. Em outros momentos, os dois iam para o baixo, criando uma parede sonora perfeita para as evoluções e solos de guitarra de Pepeu Gomes. Que, diga-se, é um dos maiores guitar heros brasileiros.

O marco da carreira discográfica dos Novos Baianos chama-se Acabou Chorare. Lançado em 1972, ele representou a catequização dos roqueiros ao mundo do samba, após um encontro deles com João Gilberto – que no show foi homenageado com uma versão de Chega de Saudade. No álbum, os Novos Baianos criaram um formato de rock com elementos brasileiros que hoje serve de modelo para todo e qualquer artista nacional que decida colocar uma “brasilidade” à sua música. Acabou Chorare foi tocado na íntegra na apresentação de sábado e a ele foi dado a grandeza merecida: o hit Preta Pretinha (que Moreira, sabiamente, usando a estratégia Tim Maia, jogou para o público cantar), Besta é Tu, A Menina Dança e Tinindo Trincando, de Baby, e que traz as melhores intervenções guitarrísticas de Pepeu – aliás, desde já está lançado o pedido de canonização de Baby. A riqueza instrumental do grupo é realçada no chorinho Um Bilhete para Didi, onde Jorge Gomes (um baterista soberbo, que vai do samba ao forró e rock num simples revirar de baquetas) assume o cavaquinho. Boca de Cantor é um crooner perfeito, que dá o tom de interpretação certa aos sucessos Mistério do Planeta e Swing do Campo Grande. Brasil Pandeiro, canção de Assis Valente, que foi esnobada por Carmen Miranda só para brilhar na abertura de Acabou Chorare, foi interpretada no bis.

Os Novos Baianos surgiram na ditadura militar, um período Barra Lúcifer. Seus cabelos grandes e sua atitude paz e amor eram um antídoto perante à repressão daquele período. Hoje não vivemos numa ditadura, ainda que uns celerados da plateia tenha puxado o coro “Fora, Temer” no final de Colégio de Aplicação, cantada por Pepeu, e que ganhou um poema entoado por Moreira numa interpretação digna de declamador de literatura de cordel. As manifestações políticas não subiram para o palco. E coube a Baby lembrar carinhosamente que se tratava de uma celebração à música e o amor. Embora Acabou Chorare tenha sido o norte da apresentação dos Novos Baianos, o grupo também colocou no set list outras belezas de seu repertório. Duas saíram de Infinito Circular, álbum de 1997 e que marcou o penúltimo retorno dessa rapaziada que não marca touca – Anos 70 e a própria Infinito Circular. Mas teve Dê um Rolê, na voz Boca de Cantor, que também interpretou Isso Aqui o que é, e Ary Barroso. Gomes homenageou Barroso também na versão eletrificada de Na Baixa do Sapateiro – “que João Gilberto me ensinou por telefone”, disse o guitarrista. E Baby, ah, Baby, que cantora memorável… A ela coube ir da delicadeza de Farol da Barra, do disco homônimo de 1978, ao virtuosismo vocal de Brasileirinho. E tudo embalado por um cenário espetacular, criado por Gringo Cardia. Os Novos Baianos fazem mais duas apresentações, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Entra nessa que é boa.

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