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Novo ‘Star Trek’ homenageia legado – para o bem e para o mal

Faz falta ao filme o escopo das duas aventuras anteriores: a troca dos genes televisivos pelo da ópera espacial

Por Isabela Boscov
Atualizado em 1 set 2016, 16h35 - Publicado em 1 set 2016, 11h59

A um só tempo, causa enlevo e uma pontinha de decepção o fato de Star Trek: Sem Fronteiras (Star Trek Beyond, Estados Unidos, 2016) ser tão parecido com um episódio do seriado original da década de 60: nas mãos do diretor Justin Lin, que na franquia Velozes e Furiosos se provou um excelente coordenador de elencos coletivos, este terceiro filme da série aciona todos os gatilhos afetivos dos fãs antigos e recentes — a dinâmica entre os tripulantes da nave Enterprise, as falhas mecânicas que só são resolvidas no último segundo, as escapadas por um triz no teletransporte e até a ambientação em um planeta remoto cuja paisagem referencia os desertos de estúdio e as cavernas de papelão em que William Shatner e Leonard Nimoy viviam suas peripécias semanais. É uma familiaridade acolhedora, que contorna os mecanismos racionais de apreciação da plateia para atingir diretamente os seus centros de prazer.

Por outro lado, faz falta ao filme que estreia nesta quinta-feira no país o escopo das duas aventuras anteriores: se o diretor J.J. Abrams teve tanto êxito em relançar a marca, foi porque soube extirpar de Star Trek os seus genes televisivos e trocá-los, nos temas e no visual, pelos da ópera espacial. Foram mantidos o charme e a graça que conquistaram tantos seguidores, mas passou-se da aleatoriedade episódica da “ameaça da semana” para uma estrutura de saga, que proporciona a sensação de que há um ponto de convergência, um clímax, para o qual tudo se encaminha. Sem Fronteiras não chega a retroceder nessa estrutura, mas abre nela um parêntese. A Enterprise, aqui, parece estar taxiada para balanço.

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O capitão Kirk (Chris Pine) anuncia esse estado de suspensão já no início: os anos seguidos no espaço, sem voltar ao porto de origem, desgastaram os relacionamentos. Spock (Zachary Quinto), abalado com a destruição de seu planeta natal, pôs o namoro com a tenente Uhura (Zoe Saldana) na geladeira: ele julga que seria seu dever procriar com uma vulcana como ele. O oficial mecânico Scotty (Simon Pegg, também coautor do roteiro) já se cansou de revisar os motores. O navegador Sulu (John Cho) sente falta do marido e da filha. O doutor McCoy (Karl Urban) já pegou no pé de todo mundo. A irritação é geral, e Kirk, de tão entediado, está considerando trocar a cadeira de capitão por uma escrivaninha no Almirantado.

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E, então, tudo se acelera de novo: a Enterprise vai atender a um pedido de socorro num confim da galáxia, é atacada e mortalmente avariada. Seus tripulantes se espalham, às duplas, pelo planeta inimigo — no qual encontram a carcaça de uma antiga nave da Federação e o sinistro vilão Krall (Idris Elba, tão maquiado que dele só se reconhece a voz). É a definição de “episódico”: um punhado de aventuras paralelas que só no final vão se reconectar. Justin Lin é hábil no manejo desses fios diversos, mas bem menos disciplinado nas cenas de ação, que não raro resultam confusas.

A troca de farpas entre Scotty e McCoy, porém, é deliciosa, um mérito não só dos diálogos bem escritos como também da afinação entre Pegg e Urban. É ótima também a adição de Sofia Boutella ao elenco: a atriz argelina, que fez uma assassina com próteses letais em Kingsman: Serviço Secreto, aqui tira sumo do papel de uma garota extraviada no planeta, tão competente na sobrevivência quanto ingênua a respeito dos costumes das galáxias mais modernas. No desfecho, percebe-se que Sem Fronteiras estava, sim, se encaminhando para um ponto de convergência — o rescaldo do que a Enterprise significa para cada um de seus tripulantes (além de uma homenagem a Leonard Nimoy, morto em 2015, e a Anton Yelchin, o oficial de comunicações Chekov, morto em junho, aos 27 anos). É caloroso e reconfortante, mas não muito ambicioso.

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