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Nem Porta dos Fundos salva a abilolada ‘Festa da Salsicha’

Tudo é bem apelativo, e muitas piadas parecem ter sido escritas por um adolescente em sua explosão de hormônios

Por Rafael Aloi Atualizado em 7 out 2016, 13h56 - Publicado em 7 out 2016, 13h52

Uma salsicha que sonha com o dia em que vai abrir e penetrar uma bisnaga: este é o protagonista de Festa da Salsicha, animação proibida para os pequenos (a classificação indicativa é de 16 anos no Brasil) que estreia agora no país. Como o casal de heróis já indica, o longa criado pelo comediante Seth Rogen — e vertido para o português do Brasil pelo Porta dos Fundos — tem um tom sexual apelativo, e se tornou uma sensação quando teve seu primeiro trailer divulgado. Era uma espécie de pegadinha, no entanto, sabemos agora. O vídeo prometia um filme de piadas adultas e inteligentes, mas o que se vê no cinema é um longa ancorado em um roteiro mais fraco que o de muitas tramas infantis, e que se afasta dos menores apenas por estar cheio de palavrões, sexo e drogas.

Os seres inanimados que ganham vida em Festa da Salsicha são os produtos que habitam as prateleiras de um supermercado. Todos os dias, as comidas amanhecem cantando para os deuses (os consumidores), que os levarão ao Paraíso. Mas, depois de um pote de mostarda ser devolvido, ele revela que na verdade o destino de todos ali é uma morte horrível, desfazendo a fantasia que enaltece os humanos.

A salsicha Frank e a bisnaga (ou pão de cachorro quente) Brenda são os únicos que escutam o desespero da mostarda e tentam salvá-la do suicídio, mas acabam apenas se perdendo de seus pacotes no meio dos corredores intermináveis do supermercado. Enquanto o embutido tenta descobrir a verdade sobre os deuses, a pãozinha cheia de curvas e boca sugestiva vomita um discurso puritano, em que alega que eles estão sendo castigados por se tocarem antes de saírem das embalagens.

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Os diálogos do filme são repletos de duplo sentido e palavrões. Para tentar não perder tanto da graça, o Porta dos Fundos foi convocado para traduzir e dublar o roteiro, e assim os personagens ganharam piadas e trocadilhos mais brasileiros, e um desfile interminável de palavrões — que nem os mais boca-suja diriam em tão curto período de tempo.

A trama de Festa da Salsicha não foge muito da linha das animações infantis, com uma aventurazinha sobre amizade, aceitação e amor. Mas a ideia dos criadores é colocar, dentro desse enredo fofinho, tudo aquilo que faz os pais tirarem as crianças da sala o mais depressa possível. Não há censura nenhuma com violência (apesar de as comidas não sangrarem), drogas e principalmente sexo. Tudo é bem apelativo, e muitas piadas parecem ter sido escritas por um adolescente em sua explosão de hormônios, como o desespero de uma camisinha usada jogada no chão, ou o vilão que é uma ducha íntima.

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A falta de censura às vezes parece se confundir com a falta de noção, como quando os roteiristas inserem muitas piadas sobre judeus e árabes, ou sobre o Holocausto. Mesmo com uso de objetos inanimados, a animação consegue estereotipar latinos e indígenas. Estas piadas nada inteligentes, preguiçosas e ultrapassadas incomodam mais do que divertem.

Apesar de todos os pormenores, é possível rir com o filme. Rir do ridículo e de trocadilhos infames, já que esta é a especialidade de outras produções de Seth Rogen, como Vizinhos e É o Fim. Mas comédia é sempre algo subjetivo: enquanto alguns podem gargalhar de certas piadas, outros passarão incólumes, e é aí que está a grande graça do humor. Afinal, assim como comida, há gosto para tudo.

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