Nacional ‘Tô Ryca!’ copia comédia americana da ‘Sessão da Tarde’
Longa estrelado por Samantha Schmütz, e último trabalho de Marilia Pera, usa a mesma trama de ‘Chuva de Milhões’
O cinema nacional é repleto de histórias de um pobretão que enriquece do nada e precisa aprender a lidar com uma vida de gastança com a qual não está acostumado. Os filmes Até que a Sorte Nos Separe (2012) – que tem duas sequências – e Um Suburbano Sortudo (2016) são apenas alguns exemplos recentes. Na mesma linha, segue Tô Ryca!, que estreia nesta semana no país. Porém, o filme protagonizado por Samantha Schmütz é apenas uma versão nacional de Chuva de Milhões, uma comédia americana de 1985, já transmitida muitas vezes na Sessão da Tarde.
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Em conversa com o site de VEJA, Samantha Schmütz falou sobre o tema repetido à exaustão no cinema, e disse não ver problema nisso, pois enriquecer seria algo com que todos os brasileiros sonham. “Todo mundo quer ter dinheiro, né, amor. Até quem tem muito quer ter mais. É um assunto que agrada, porque as pessoas se identificam. Tem gente que não deseja ficar milionário, mas um pouquinho a mais não faz mal.”
Chuva de Milhões também não é nenhuma história original, pois se baseia no livro Brewster’s Millions, escrito por George Barr McCutcheon em 1902. Mas é do filme estrelado por Richard Pryor que Tô Ryca! copia mais elementos. O roteiro da produção nacional acompanha a carioca Selminha (Samantha Schmütz) que trabalha em um posto de gasolina com a amiga Luane (Katiuscia Canoro), até que um dia descobre que um tio distante deixou 300 milhões de reais para ela em seu testamento. Mas a suburbana só pode embolsar a fortuna se completar o desafio de gastar 30 milhões de reais em 30 dias, com a condição de que não compre nada para si mesma, nem distribua mais que 5% da quantia.
Obviamente, Selminha surta com o desafio e logo arrasta a colega Luane para uma aventura desenfreada de festas, hotéis e restaurantes a fim de torrar tudo o que sempre sonhou e nunca pôde gastar. Mas o desafio não é tão fácil quanto parece e em poucos dias ela descobre que seus esforços de ostentação não são suficientes. A nova rica então tem uma sacada de gênio e resolve se candidatar à prefeitura do Rio de Janeiro – um truque já visto em Chuva de Milhões, mas em Nova York.
Com um bom timing de lançamento, a corrida eleitoral se torna o momento de maior graça do filme com várias críticas à propaganda política e frases polêmicas de candidatos. O grande adversário de Selminha é Falacio Fausto (Marcelo Adnet), um candidato preocupado com a moral e os bons costumes, que lembra muitos políticos reais. “Ele tem Bolsonaro, Pedro Paulo, uma mistura de alguns políticos. Adnet pegou a essência de um pensamento e transformou brilhantemente num personagem”, descreveu Samantha, que disse que, se precisasse, votaria em Selminha com certeza. “Se fosse voto de papel ainda, o nome dela iria aparecer com certeza. O povo precisa de uma Selminha. A política brasileira não parece nem comédia, mas sim uma tragédia grega”, completa.
O filme possui um time consagrado de comediantes, mas o único que consegue brilhar mesmo é Samantha, que se apropriou bem da personagem e sabe fazer as mil caricaturas por que passa ao longo das mudanças em sua vida, e conquista a todos, inclusive à esnobe estilista vivida por Marília Pêra – o último papel da atriz no cinema. Katiuscia Canoro vive o oposto de Lady Kate, a nova rica que a alçou ao estrelato no Zorra Total, e por isso é quem traz a protagonista de volta à realidade, o que apaga um pouco as habilidades humorísticas da atriz. Marcus Majella e Fabiana Karla atuam como bons coadjuvantes, mas seus personagens têm tão pouco peso no roteiro que não saem do fundo do cenário.
Apesar de algumas sequências engraçadas –principalmente a que mostra um debate eleitoral –, Tô Ryca! não tem nada de original e é apenas mais uma comédia nacional sobre alguém que bamburra do nada. Assim como Chuva de Milhões, o destino do longa provavelmente será o catálogo da Sessão da Tarde, onde poderá divertir alguns telespectadores despretensiosos.