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Melissa McCarthy: ‘Caça-Fantasmas’ é engraçado, e não feminino

'Não existe filme de mulher. Paul Feig só quer ser divertido. O fato de sermos mulheres não importa', diz a atriz em entrevista exclusiva ao site de VEJA

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 23 jul 2016, 09h09 - Publicado em 23 jul 2016, 09h09

Em 1984, Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson correram Nova York inteira atrás de ectoplasmas em Os Caça-Fantasmas. Dirigido por Ivan Reitman, o longa se tornaria um clássico para muita gente despreocupada com a imagem de intelectual e ganharia sequência em 1989, mas o terceiro da série nunca saiu do papel – até agora. Caça-Fantasmas, de Paul Feig, abdicou do artigo porque, na verdade, os caça-fantasmas tornaram-se “as”. Apedrejado desde que foi anunciado pelo diretor, o longa vem enfrentando dificuldades nos cinemas, que tanto podem se dever ao conservadorismo – alguns diriam machismo – de fãs aferrados à versão original do filme quanto às férias escolares. Afinal, o novo Caça-Fantasmas vem perdendo para animações que fazem a alegria da garotada. 

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‘Caça-Fantasmas’ honra espírito(s) dos filmes originais

Melissa McCarthy, que trabalha pela quarta vez com Paul Feig, depois de Missão: Madrinha de Casamento, As Bem-Armadas e A Espiã que Sabia de Menos, procura dissipar a discussão em torno do fato de a produção ser chefiada por mulheres – e de ter um homem na posição, em geral reservada para elas, de secretário intelectualmente limitado. “Acho importante dizer que Paul Feig não está tentando fazer ‘filmes de mulheres'”, diz ao site de VEJA. “Isso não existe, inclusive. Ele contrata pessoas engraçadas. O fato de sermos mulheres não importa.” 

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Melissa, para muitos conhecida pelas séries Gilmore Girls (Tal Mãe, Tal Filha) e Mike & Molly, interpreta Abby, personagem que sempre acreditou em fantasmas e nunca teve a sua convicção abalada, mesmo quando eles teimavam em não aparecer. Fiel à sua crença, Abby mantém, numa universidade obscura, um laboratório de pesquisa e produção de instrumentos de detecção, combate e captura de fantasmas com a maluca e genial Jillian (Kate McKinnon). A relação de Abby com os fantasmas não para por aí. No passado, ela escreveu um livro sobre o assunto com a amiga de infância Erin (Kristen Wiig), que, agora uma física respeitada na Columbia University, renega a obra. É por isso a contragosto que Erin reencontra Abby em uma mansão nova-iorquina, onde, diz o relato que recebem, teria aparecido uma assombração. E é lá que, depois de receber um belo “slime” de geleca verde, Erin volta a acreditar e se torna apta a embarcar na aventura com Abby. Pouco depois, o time é completado por Patty (Leslie Jones), uma funcionária do metrô que tem um contato imediato com um dos espíritos da cidade. Juntas, as quatro descobrem uma conspiração para libertar as almas-penadas de Nova York, incluindo as figuras mais queridas do original, como o comilão Geleia e o Homem de Marshmallow. 

Embora perca o fôlego em dado momento, Caça-Fantasmas mantém o espírito do filme de 1984 e ainda traz quatro comediantes no auge da forma – com o bônus de mostrar que Chris Hemsworth é, além de tudo (de tudo!), muito engraçado. Os três caça-fantasmas originais sobreviventes (Harold Ramis morreu em 2014) fazem pontas para a alegria dos fãs – e só por isso, já que são completamente supérfluas.

Leia a seguir outros trechos da entrevista da atriz: 

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Missão: Madrinha de Casamento, que você fez com Paul Feig, reiniciou a discussão da presença feminina no cinema. Era uma comédia protagonizada por mulheres que fez muito sucesso. Caça-Fantasmas, com um elenco principal feminino, também vai fazer parte do debate. Sente alguma forma de pressão? Queria que essa conversa acabasse. Se fosse o contrário, a história original fosse só com mulheres, e agora viesse um filme só com homens, as pessoas iam achar que era uma sacada. Como é o contrário, vira essa coisa.

Você abriu espaço para várias mulheres na comédia e venceu num mundo predominantemente masculino. Foi difícil chegar onde está hoje? Talvez esteja alucinando, mas nunca pensei nisso. Sempre procurei por personagens, nunca a fama. Meu grande papel foi em Missão: Madrinha de Casamento, que Paul (Feig) me deixou fazer. Pensei: só preciso interpretar o personagem. Nada mais importa.

Sempre foi assim engraçada? Acho que sim. Meus pais são bem engraçados. Nas refeições, a gente sempre tentava contar histórias divertidas e fazer os outros rirem. Era uma coisa legal. Quando disse que ia tentar ser comediante, eles falaram: Bem, dê o máximo de si. Vá fundo ou não faça. É o que tento fazer.

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É seu quarto trabalho com com o diretor Paul Feig. É meio óbvio que vocês sempre vão filmar juntos? Não! Ele me convidou. Acabo voltando a ele por uma razão simples: ele sabe fazer. Fora que promove dias maravilhosos no set. É feliz, alegre, cheio de ideias malucas e sempre está disposto a testar uma das minhas ideias malucas. É o maior animador de torcida, mas com bom senso estético. Sabe o que é bom para a história e para o visual, então está sempre disposto a tentar algo, desde que não atrapalhe nenhuma das duas coisas. É impossível cair no ridículo com Paul. E olha que eu tento! (risos) 

O elenco feminino está mais do que acostumado com os ritmos da comédia – você é uma comediante consagrada, e Kristen Wiig, Kate McKinnon e Leslie Jones saíram do programa Saturday Night Live. Como foi ter Chris Hemsworth no set? Ele é um improvisador incrível. Eu o colocaria no meu top 5, e olha que trabalhei com gente excelente nesse quesito. Foi uma surpresa. Sabia que ele ia ser um querido, porque é o que todo o mundo diz, mas Chris é excepcional no improviso. É engraçadíssimo. Isso que é legal do Paul Feig, ele nunca coloca as pessoas em escaninhos. As mulheres não são apenas uma coisa. Um herói de ação não têm de ser assim ou assado. Ele vê as pessoas como elas realmente são. 

Acredita em fantasmas? Sim! Acho que todo o mundo já sentiu um tipo de energia… Você entra em determinado lugar e não se sente exatamente sozinho. 

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Já encontrou um fantasma? Sim! Morei numa casa em Boulder, no Colorado. Eu e um monte de amigas, ainda na faculdade, fomos as primeiras que não eram da família a viver numa casa de mais de cem anos. Peguei o quarto no sótão. Mas lá também vivia uma energia absoluta, muito palpável. Todo o mundo sabia, todo o mundo sentia. Sabia que não era perigoso, tinha essa percepção. Não tinha medo. Uma vez, eu e meu amigo Brian estávamos no andar de baixo assistindo a um filme. A porta da cozinha, que era muito pesada, abriu com força, bateu no armário e fechou novamente. Fomos checar e não dava para abrir se não fosse levantando um pouco e empurrando com o quadril. Não estava ventando nem nada. E a gente: OK! (risos)

Então não tem medo? Não me senti ameaçada, claro que fiquei assustada, é uma energia. Sempre acho que meus ancestrais estão por perto, sempre converso com eles no carro. E acho que me ouvem! Eu acredito em tudo isso. 

Em filmes desse tipo, normalmente é preciso contracenar com o nada, num estúdio forrado de tecido verde, que depois abre espaço para os efeitos visuais. Já tinha trabalhado nessas condições? Uma coisa aqui, outra ali, nada deste tamanho. Mas, quando estávamos lidando com um fantasma, havia um ator lá, com figurino e horas de maquiagem. Foi ótimo, muito melhor do que contracenar com uma bola de tênis. Houve momentos em que Paul Feig usava uma caneta de luz para nos mostrar algo, e a gente corria atrás da luz, como se fôssemos gatinhos (risos). 

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Em Caça-Fantasmas, você sofre vários “slimes” (banho de geleca verde). Do que é feito? Adoraria saber! (risos) Eles dizem que é comestível, mas sempre estão usando máscaras. “É totalmente seguro!”, dizem (Melissa coloca a mão sobre a boca como se fosse uma máscara). E eu fico pensando: por que esse cara está de máscara, enquanto eu estou comendo esse negócio? (risos) 

Vai deixar suas filhas assistirem ao filme? Sim! Elas viram o original – tem uma parte que a gente precisa avançar. Mas elas estão acostumadas com isso. Ben, meu marido, deixa elas assistirem a O Senhor dos Anéis. Em alguns momentos, ele grita: “Agora!”. E elas fecham os olhos e tapam os ouvidos. Aí ele avisa quando está tudo bem. Mas elas amam o original. Assistiram muitas vezes. E não me viram fazer este aqui. Minha filha mais velha estava assistindo de novo, um dia desses, e grita, brava, para a televisão: “Estou falando que os fantasmas estão vindo! Esse cara não me ouve”. Vivian amou. Quando disse que eu ia ser uma caça-fantasmas, minha pequena falou: “Você vai ser um fantasma?”. Eu disse que não, que era uma caça-fantasma. E ela, toda desanimada: “Ah, não vai ser um fantasma?”. Poxa, não vai me tirar isso! (risos) Mas as duas são fãs. 

Muita gente acha que as caça-fantasmas são um time de super-heróis. Qual você gostaria de interpretar no cinema? Adoraria interpretar uma super-heroína! Acho que o filme tem algo assim, até mais, porque são pessoas reais que acabam agindo como super-heróis. Adoro a história de um pária, de uma pessoa comum colocada numa situação tão maluca que precisa se tornar extraordinária. Mas, se pudesse escolher, não sei… Sempre gostei do laço e das botas da Mulher Maravilha. Mas não sei sobre aquela roupa de Lycra. 

Você está numa posição privilegiada em Hollywood e é o maior nome da comédia hoje em dia. O que isso proporciona? Poder escolher o que faço. Tento ser verdadeira com essas mulheres que interpreto. Luto para que sejam cheias de falhas, para que sejam reais. Me recuso a deixar a pessoa muito polida, muito limpinha. Não quero que suas falhas sejam escondidas. Porque acredito que você se apaixona pelas pessoas quando vê suas falhas, suas dificuldades. Tento manter isso nas minhas mulheres.

 

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