Marcelo Adnet: ‘Não sou um carreirista do humor’
Humorista opina sobre a TV, a geração conectada e a política
Está em seus planos virar um novo Jô Soares? Não penso nisso, e não devo me comparar aos outros. Ninguém nunca vai alcançar o Jô, porque o Jô é o Jô. Estar na TV é uma aventura. Meu trabalho tem de ser lúdico, leve e prazeroso. No dia em que não for mais feliz, vou partir para outra. Não sou um carreirista do humor.
Você é um trunfo da Globo para atingir a geração conectada. Qual o segredo disso? A galera da internet se expressa de um jeito muito pessoal. Toda vez que você se exibe na TV de maneira mais solta, menos institucional, a turma da internet se sente agraciada. Quando você quebra o formato previsível das coisas, eles vibram. É por aí. Mas essa coisa de que a TV morreu, a TV acabou, não vejo de jeito nenhum.
Na crise política, Danilo Gentili se queixou de que muitos colegas não estavam fazendo humor contra o poder. Qual sua visão sobre o tema? Se o Danilo tem uma opinião formada, ele está certo em fazer esse humor político que diz que faz. Agora, se a pessoa tem uma opinião nebulosa e quer ser mais cuidadosa, é um direito dela. Se eu tivesse convicção de algo, iria fundo. Mas, se você não se sente à vontade, para que falar? Tomo cuidado para não transformar o humor em panfleto político. Não dá para ser leviano e levantar um bandeirão, dizer que o impeachment é um absurdo ou que o impeachment é corretíssimo. É complexo.
Sua paródia de Chico Buarque com letras de direita tinha como alvo a polarização política. O que o motivou? No Brasil, mais que compreender a política, há uma mania de tratá-la como disputa de futebol. É guerra de torcidas. Ao tratar de futebol, aliás, a gente tem mais cuidado do que com a política. É um chamando o outro de petralha, coxinha, Rouanet. Graças a Deus, nunca recebi um centavo da Lei Rouanet. Mas pediram até boicote ao Adnet.
É mesmo? Sim, houve uma caça às bruxas. Fui chamado de comunista. Não esperava essa reação, mas tudo bem. Três anos atrás, Chico Buarque era um grande compositor brasileiro. Hoje, é um petralha. A opinião política do Chico não me interessa. Não é por causa disso que ele deixará de ser um músico maravilhoso. Nós, brasileiros, ficamos nos derrubando o tempo todo. O brasileiro é um golpista contra o próprio brasileiro.
Paparazzi já o flagraram em cenas de carinho com garotas. Em casa, isso rende briga ou piada? A gente fica perplexo. Da última vez, o cara me fotografou dando um abraço e disse que eu tinha beijado todo mundo. Poxa, é óbvio que não beijei ninguém. Mas sigo minha vida com tranquilidade. A sorte do fotógrafo é que trabalho tanto que não tenho tempo de ir a um advogado.
O mau humor com a política já passou? Ainda não, mas acho que o fundo do poço ficou para trás. O momento é de retomada do bom humor. Esse climão pesado aos poucos se dissipará. Nós, humoristas, estamos aí para ajudar.