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Leandro Hassum fala sobre pai traficante: ‘Página dolorida’

Humorista descobriu, quando jovem, que o pai estava envolvido com negócios ilícitos. Agora, ele quer contar a história da sua família ao grande público

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 out 2016, 19h17 - Publicado em 28 out 2016, 14h51

Quando tinha 21 anos, Leandro Hassum viu seu pai, Carlos Alberto da Costa Moreira, ser preso por tráfico internacional de drogas. A história, ainda que seja uma “página dolorida” da biografia do humorista, como o próprio diz, será relembrada por ele em um projeto ainda não definido – pode ser um filme, livro ou série. “Quero falar sobre esse assunto e, inclusive, de forma carinhosa, se é que é possível. Eu não quero que seja mais uma história de tráfico de drogas, mas sim sobre família.”

Ao site de VEJA, o comediante falou sobre a carreira, a família e a cirurgia bariátrica feita por ele em 2014. Abaixo, na primeira parte da entrevista, que terá a segunda e última publicada neste sábado, ele fala sobre o projeto, sobre a sua família e sobre o seu emagrecimento.

 

Grande parte do seu público descobriu sobre a história da sua família, sobre seu pai, quando você deu entrevista para a Marilia Gabriela. Foi difícil falar sobre esse assunto? Foi a primeira vez em que me senti à vontade para falar, porque achava que a Marília não ia tratar com sensacionalismo. É uma história particular minha e da minha família, incomoda a minha mãe, é uma página muito dolorida das nossas vidas. Mas alguns sites já tinham tocado nesse assunto, a imprensa já tinha vazado, até contando a história de uma forma errada e tudo mais. Meu pai estava vivo na época, eu não me achava no direito de falar sobre ele e magoá-lo, até porque nós tínhamos uma relação distante. Mas, quando eu fui à Marília, meu pai já tinha falecido havia pouco mais de um ano e, como eu estava criando um projeto sobre essa história, me senti à vontade para falar. Depois, muitas pessoas vieram me procurar querendo informações, mas são informações que eu não tenho para dar agora, porque tenho planos para essa história. Talvez vire um filme, um livro, uma série, um documentário, não sei o que vai ser ainda, mas quero falar sobre esse assunto e quero, inclusive, falar de forma carinhosa, se é que é possível. Eu não quero que seja mais uma história de tráfico de drogas, mas sim sobre família. O tráfico de que meu pai fazia parte vai costurar o enredo, obviamente, mas não é só isso, é sobre as relações familiares.

Como era seu pai no trato pessoal? Foi um grande pai para mim. Mas é uma história controversa, eu fiquei chocado exatamente por isso quando descobri aos 21 anos a verdadeira profissão do meu pai. Ele era família, amoroso, nós tínhamos as nossas diferenças por ele ser um cara rude, bronco, não concordar com a minha profissão, mas era um pai muito presente, emotivo. É um pouco sobre esses dois universos que eu quero falar. Eu até respeito isso, o fato de ele ter conseguido esconder por 21 anos uma realidade que para ele era monstruosa. De certa forma, ele tentou me preservar o máximo que pôde. Quando descobri, eu me senti traído, enganado, o que é uma reação normal de um filho que acha que viveu uma mentira, mas, graças a muita análise que eu faço, fiz e farei para o resto da minha vida, eu consegui entender que eu vivi uma verdade. Tenho muito amor por ele, muito respeito e muito carinho. E essa história vai ser contada de forma muito respeitosa.

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Oficialmente seu pai era comerciante, é isso? Ele tinha uma concessionária de veículos e uma importadora. Meu pai foi comerciante a vida toda. Eu me lembro dele como um grande comerciante e administrador. Mas, infelizmente, isso maquiava outra realidade. Para ele, ele vendia um produto. Ele não fazia essa conta de que o que ele vendia afetava famílias. Foi durante muito tempo nosso ponto de discussão, eu era contra e ele não entendia minha revolta.

Como era o contato que você tinha com ele quando ele morreu, em 2014? Eu tinha uma relação cordial com ele. A gente não estava próximo, mas estava em paz. Eu tenho certeza de que, quando meu pai se foi, eu não tinha peso nenhum na consciência porque a gente já tinha colocado todas as nossas diferenças na mesa e resolvido muita coisa. Se faltou alguma coisa, uma hora a gente se encontra para resolver.

Como anda o projeto baseado na sua história? Eu me associei aos Gullane, com quem trabalhei muitas vezes. A gente está em um momento em que eu tenho gravado depoimentos, um amigo vem aqui em casa e eu fico contando as histórias. Quando a gente estiver com o material completo, eu vou entregar isso na mão de um roteirista. Aí, a gente vai ver o que isso pode se tornar. Mas eu não tenho pressa, quero fazer com carinho. Vou fazer no meu tempo.

Como é a sua relação com o seu irmão? Não falo sobre esse imbecil. Pode pular essa pergunta. Não falo sobre esse cara, é uma parte da minha vida que eu apaguei.

Por que decidiu fazer a cirurgia bariátrica? Não emagreci pela vaidade nem pela saúde. Eu estava muito saudável, gosto de deixar isso claro, porque tem gente que acha que eu estava morrendo. Sempre fui um gordo saudável, mas eu já estava com 40 anos e, depois dessa idade, precisamos nos preocupar com a nossa velhice e com a nossa longevidade. Tenho uma filha linda por quem sou apaixonado, vivo em um casamento maravilhoso, quero estar perto dessa família, tenho projetos. Além disso, trabalho muito com o corpo, faço muita comédia corporal, e comecei a sentir dores musculares, ficava cansado. Com dieta, eu não conseguia mais emagrecer porque meu metabolismo era afetado. A cirurgia foi o último recurso.

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Ficou mais vaidoso depois disso? Obviamente, depois que você emagrece como eu emagreci, a vaidade vem junto. Você começa a cuidar mais do corpo, da alimentação. Até porque é uma cirurgia muito séria para você pensar: “Alterei, agora está tudo certo, posso comer o que eu quiser, beber o que quiser”. Muita gente faz a cirurgia bariátrica e acha que está tudo resolvido, mas não está, se você não cuidar, a barriga volta, tem que ter disciplina para o resto da vida. Eu fiquei extremamente vaidoso, apesar de, antes, ter sido um gordo que se preocupava muito com a aparência também – sempre fui elogiado por ser cheiroso e bem vestido. Eu sempre me preocupei e me achava lindo gordo. Agora posso ousar em outras coisas, usar uma calça ou uma camisa mais justas, malhar mais. Hoje quero que meu bíceps apareça. Pratico esportes que tinha dificuldade de fazer por ser gordo, como o surfe, que era um sonho de criança e eu consegui realizar agora porque é mais fácil ficar em pé na prancha. Tenho prazer em ir para a academia. Quando não malho, fico p*, pensando que queria ter me divertido malhando. Eu faço exercícios todo dia, entre uma hora e uma hora e meia. Faço aeróbico, funcional e musculação.

Está satisfeito com o seu corpo atual? Muito, mas sempre tem como melhorar. Estou com 85 quilos, o peso que eu desejava ter. Agora estou em busca de uma definição e massa magra.

Depois da operação, houve quem dissesse que você perdeu a graça. Como vê esse tipo de comentário? Isso irrita em alguns momentos. Eu não tenho a menor dúvida de que sou um comediante superior à minha barriga e ao meu peso. Mas, há dias e dias. Às vezes, estou disposto a ouvir, em outros momentos, não. É um pensamento coletivo babaca… Meus pais, por exemplo, não me deixavam andar de táxi sozinho, dizendo que taxista era estuprador, porque, quando eu era adolescente, teve um caso de um taxista que estuprou um rapaz. O público coloca na conta que quando o Jô emagreceu ele perdeu a graça – coisa com a qual eu não concordo, para mim, ele sempre foi engraçado – então, acham que isso acontece com todo gordo. Eu não vou ficar brigando contra um coletivo que acha isso, eu cag* para isso, porque, se fosse verdade, não haveria comediante magro. Eu não estou nem aí, porque as pessoas são muito mal educadas. Outro dia, eu estava no aeroporto de Porto Alegre e uma senhora me parou e disse: “Você não é aquele cara da televisão? Tá feio, hem?”. Eu virei para ela e disse: “A senhora também é muito feia”. Ela ainda ficou p* comigo. Por que a pessoa acha que está no direito de falar isso para mim e não receber uma resposta? Isso é um absurdo. Isso não se fala para ninguém, pode ser até uma opinião sua, você pode pensar isso, mas não dizer. Nas redes sociais, é pior. Se não gosta, para de me seguir, não vou ficar magoado.

Sentia preconceito antes de emagrecer? Preconceito nunca senti, mas a gente vive em uma sociedade que tem uma política da magreza. Eu sofri bullying no colégio, ouvi muita gracinha na rua, pessoas me chamando de “gordão”. Mas desenvolvi outras coisas na minha personalidade que me tornavam interessante, eu tinha um bom papo para convencer a mulher, para ela esquecer que eu tinha corpo do pescoço para baixo. E eu era mais paquerado quando era gordo. As mulheres ficavam doidas, me chamavam de gordinho gostoso. Eu sou casado há dezenove anos, mas já ouvi coisas que você nem pode imaginar. Não só mulheres como homens, tem uma parada de gays “ursos”, como são chamados os gordinhos barbudos, e eu era tipo o ícone do site deles. Eu nunca tive problema com isso, eu me olhava no espelho e achava bonito. Porque o seu tipo físico é importante para o mundo também, para a diversidade. Outra coisa que as pessoas têm que colocar na cabeça é que gordo não é assim por falta de vergonha, ele tem dificuldade para emagrecer, metabolismo fraco, problema de tireoide. O gordo não é a pessoa que não se importa com nada, um sem vergonha, isso é uma mentira.

Tinha medo da operação? Tinha muito medo, pensei em desistir umas cinco vezes. Mas hoje sei que foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida, depois da minha filha e do meu casamento.

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