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Festival de Berlim tem George Clooney sarcástico e perguntas absurdas em coletiva

O astro, que está em 'Ave, César!, esperto filme de abertura do 66º Festival de Berlim, foi irônico em coletiva bizarra e depois se irritou ao ser cobrado por jornalista a se envolver com a questão dos refugiados

Por Mariane Morisawa, de Berlim
11 fev 2016, 17h47

Os irmãos Joel e Ethan Coen olham com carinho para o passado de Hollywood em Ave, César!, que abriu oficialmente o 66º Festival de Berlim, fora de competição, nesta quinta-feira. Mas nem por isso abdicam de sua ironia e sarcasmo, apontando coisas inacreditáveis que aconteciam nos estúdios em 1951, quando os bastidores das produções pareciam tão saborosos quanto as histórias contadas nas telas. Com o mesmo espírito, os diretores e alguns membros do elenco presentes – George Clooney, Tilda Swinton, Josh Brolin e Channing Tatum – participaram de uma coletiva de imprensa igualmente inacreditável após a exibição do filme para jornalistas, no começo da tarde.

Numa das primeiras intervenções, uma jornalista disse que queria “fazer amor com o filme”, o que inspirou risadas sem graça na mesa. Houve também uma repórter que perguntou se Clooney era comunista, motivando uma resposta bem-humorada do ator: “Recuso-me a responder isso com base na Quinta Emenda”, reagiu, invocando o direito garantido na lei americana de permanecer em silêncio para não se incriminar. Depois, ele cortou uma jornalista que perguntava algo relacionado a almôndegas de peru, indagando, bem-humorado, se ela estava flertando com ele.

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Outro jornalista, dizendo ter acabado de voltar da ilha de Lesbos, onde milhares de refugiados do Oriente Médio chegaram nos últimos meses, pediu ao sempre engajado Clooney fazer Syriana 2, numa referência ao filme de Stephen Gaghan sobre a indústria do petróleo. “É complicado fazer Syriana 2“, respondeu o ator, com seriedade. “Evidentemente muita coisa deu errado desde aquela época. Mas nós da indústria cinematográfica reagimos mais do que lideramos o caminho, porque demora um tempo para escrever um roteiro que não seja uma causa. Vou me encontrar com Angela Merkel (chanceler da Alemanha) amanhã para ver o que podemos fazer. Agradeço a sugestão e posso dizer que seu apelo foi ouvido.”

Um pouco adiante, no entanto, ele perdeu a paciência quando uma outra jornalista, que parece não ter ouvido sua resposta, indagou o que ele e os Coen pretendiam fazer em relação aos refugiados que entraram aos milhares no país e na Europa. “Como disse, vou me encontrar com Angela Merkel e com um grupo de refugiados amanhã. Mas me deixe perguntar: o que você faz por eles? Porque me parece estranho você me perguntar uma coisa dessas com esse tom acusatório.” Joel Coen também se posicionou. “Claro que a questão é importante. Também quero ver longas sobre isso. Dheepan, o filme que ganhou a Palma de Ouro no ano passado (quando o diretor e seu irmão Ethan foram presidentes do júri), trata disso. Mas é absurdo dizer que toda figura pública tem obrigação de fazer algo. É uma questão estranha essa.”

Ave, César – No fim, Ave, César! fala justamente de liberdade artística. Na era de ouro de Hollywood, os atores eram contratados e controlados pelos estúdios, assim como os diretores e roteiristas. O ritmo era industrial. Da linha de produção saltavam musicais, romances, comédias, filmes noir, capa e espada, bíblicos, faroestes grandes e pequenos. Quase como milagre, saíam também obras-primas.

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Os Coen alinhavam um passeio solto pelos estúdios em que eram produzidas tantas coisas diferentes ao mesmo tempo com uma trama em que Baird Whitlock (George Clooney), o astro do filme bíblico do título, é sequestrado por roteiristas comunistas – na época, o macarthismo colocava na lista negra todo o mundo que se colocava mais à esquerda.

Mas o verdadeiro protagonista e elemento condutor é Eddie Mannix (Josh Brolin, excelente), o pobre chefe de produção de um grande estúdio. Ele precisa dar uma olhada no que foi filmado no dia, resolver pepinos de escalação de elenco e cuidar, como uma babá, de astros e estrelas mal comportados – por exemplo, arrumando uma adoção falsa para encobrir a gravidez de DeeAnna Moran (Scarlett Johansson), a estrela solteira de filmes de balé aquático, como os de Esther Williams. Importante: ele faz de tudo para manter essas informações longe de colunistas como a vivida por Tilda Swinton. De chapéu enterrado na cabeça, olhos apertados, Mannix é o próprio protagonista de filme noir, um tipo meio gângster quando necessário. Mas também sofre ao mentir para a mulher e, católico, vai ao confessionário todos os dias.

Há personagens muito semelhantes àqueles da vida real – Carlotta Valdez (Veronica Osorio) é claramente Carmen Miranda, enquanto Burt Gurney (Channing Tatum) tem um quê de Gene Kelly. Tatum, aliás, arrasa no número musical bem filmado pelos Coen. Quem rouba a cena, no entanto, é Alden Ehrenreich, descoberto por Steven Spielberg num vídeo de bat mitzvah e que trabalhou com Francis Ford Coppola em Tetro (2009). Aqui, ele faz um caubói cantor transformado em ator (meio como Roy Rogers) que, escalado às pressas num papel romântico, sente dificuldades e leva à loucura o refinado diretor Laurence Laurentz (Ralph Fiennes, excelente).

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