Ferreira Gullar é enterrado em mausoléu da ABL, no Rio
Poeta morreu neste domingo, aos 86 anos, em decorrência de uma pneumonia
O corpo do poeta Ferreira Gullar foi enterrado na tarde desta segunda-feira no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro. O poeta morreu neste domingo, aos 86 anos, em decorrência de uma pneumonia.
O túmulo de Gullar fica ao lado da sepultura do poeta Ivan Junqueira, a quem Gullar sucedeu na ABL quando da sua morte, em 2014, e abaixo da do poeta João Cabral de Melo Neto. Amigos e parentes cantaram O Trenzinho do Capirinha, letra de Gullar para a música de Heitor Villa-Lobos, e aplaudiram quando o caixão baixou a sepultura.
O amigo e curador de arte Leonel Kaz fez um discurso emocionado em que ressaltou a “temperança” e “honestidade absoluta” de Gullar. “Ele dizia que a vida é uma invenção e ele talvez tenha sido uma grande invenção de si mesmo, uma invenção comovidamente brasileira”, disse Kaz, que conviveu com o poeta por 45 anos. Ele também leu o poema de Gullar “Uma pedra é uma pedra”, que termina com os versos “e assim / o homem tenta / livrar-se do fim / que o atormenta / e se inventa”.
O corpo do escritor foi velado na noite de domingo na Biblioteca Nacional, no centro do Rio, e, durante a manhã, no prédio da Academia Brasileira de Letras. Gullar tomou posse como acadêmico na casa há dois anos. Colegas ressaltam sua alegria ao participar das atividades da ABL, na qual resistiu a entrar por mais de 20 anos, por considerar que não tinha o perfil adequado.
“Ele tinha uma visão estereotipada da academia, que é muito mais que um grupo de velhinhos tomando chá. Gullar foi da estirpe de Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira. Aqui é o seu lugar”, enalteceu o presidente da ABL, Domício Proença Filho. “Foi o acadêmico perfeito. Aderiu 100% à academia, uma conquista extraordinária para nós. Pena que foram apenas dois anos”, disse o acadêmico Arnaldo Niskier.
A viúva Claudia Ahimsa contou que Gullar manteve-se lúcido e produzindo até os momentos finais. Ele deixou prontas três crônicas inéditas que ainda sairão no jornal Folha de S.Paulo. Uma era sobre a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e outra sobre arte. Numa terceira, ele reviu um texto antigo. “Não deu tempo de ele escrever sobre a morte de Fidel Castro. Gullar foi um passarinho que cansou de voar”, contou Claudia.
Além de acadêmicos, estavam presentes no velório amigos de longa data, como o poeta Armando Freitas Filho, o canto Fagner, o ex-deputado Fernando Gabeira, a cantora Adriana Calcanhoto e também funcionários de uma biblioteca comunitária em Xerém, na Baixada Fluminense, que leva o nome do poeta. “Ele adorava ir lá, no aniversário da biblioteca ou no aniversário dele, fazer leituras para adultos e crianças. Ele se sentia muito à vontade”, relatou a professora Nilcelene Dias, voluntária da biblioteca.
(Com Estadão Conteúdo)