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Estupro, casamento e identidade conduzem ‘O Silêncio do Céu’

Com Carolina Dieckmann no elenco, drama transita entre sutilezas e cenas extremas, enquanto contorna a reconstrução de um relacionamento

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 set 2016, 18h12 - Publicado em 22 set 2016, 16h28

Existe uma pedra em cima da mesa. Pouco menor do que um melão, a rocha permanece ali ao longo de todo o filme O Silêncio do Céu. Apesar do tamanho, que faz dela algo grande o suficiente para ser notado, e do local equivocado, ninguém fala a respeito da pedra, nem a remove dali. Esta é uma das muitas sutilezas da produção brasileira que estreia agora, com cenas filmadas no Uruguai sob a direção de Marco Dutra (do terror Quando Eu Era Vivo).

A rocha foi colocada na mesa pelas mãos de Mario (personagem do argentino Leonardo Sbaraglia) em um momento de tensão. Ao chegar em casa mais cedo, ele escuta barulhos estranhos que o levam até a janela de seu quarto, pelo lado de fora. Através do vidro, Mario enxerga a esposa Diana (Carolina Dieckmann) ser violentada por dois homens. Atormentado pela cena, procura a melhor maneira de reagir sem que a mulher seja morta. Ele então pega a pedra no  jardim e entra em casa, mas, percebe que não teve uma boa ideia, deixa a rocha na mesa de trabalho da esposa, enquanto procura uma tesoura. Ao longo do processo, os agressores terminam e fogem, sem perceber que eram testemunhados pelo marido.

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Mario sai no encalço dos homens e só é interrompido por uma ligação da esposa, que pede, com calma, que ele busque as crianças na escola. Ele atende ao pedido e, quando retorna, Diana não fala sobre a agressão. Como acontece com a tal pedra, ninguém conversa sobre o ocorrido.

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O silêncio entre o casal é perturbador, mas logo aplacado pela narrativa de Mario, que revela seu casamento e a si mesmo. Atormentado por dezenas de fobias, ele lança mão de sua habilidade para criar personagens — Mario é roteirista — e desenvolve um para si mesmo. É com essa ideia de um homem destemido que ele sai em uma caçada perigosa pelos estupradores.

Enquanto na rua veste a carapuça do corajoso, em casa, sob o olhar de Diana, Mario tem dificuldades de esconder quem realmente é e os medos que o engessam. Após um longo casamento, dois filhos, e dois anos separados, o casal tenta a reconciliação — período em que se passa o roteiro do filme. Mario acaba de retornar para casa. Contar que ele viu a cena de violência contra a esposa sem reagir colocaria um fim na relação. Mesmo pensamento que parece passar pela cabeça de Diana.

Marco Dutra faz um trabalho primoroso na filmagem da trama, adaptação do livro Era el Cielo, do argentino Sergio Bizzio, um dos roteiristas do longa. Os enquadramentos escolhidos, a paleta de cores da fotografia e a áspera trilha sonora, sempre pronta a criar a tensão ideal, andam de mãos dadas com o bom trabalho do elenco. Não bastasse o pacote, a trama ainda reserva reviravoltas, que selam a presença de Silêncio do Céu entre os bons exemplares do cinema brasileiro.

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