Está na hora de trocar os técnicos do ‘The Voice’
Se o frescor do formato já não é o mesmo, a renovação do elenco é mais do que necessária
A cada novo episódio das audições às cegas do The Voice da Globo, em qualquer temporada, o telespectador pode ter algumas certezas:
– Dificilmente algum dos quatro primeiros participantes a entrar em cena será gongado.
– Claudia Leitte vai caprichar no decote e manter a animação incansável de cheerleader até o fim.
– Michel Teló, o bom moço da turma, vai cantarolar a música com sorriso no rosto, especialmente quando não estiver a fim de virar a cadeira.
– Lulu Santos sempre terá algo a dizer, mas nunca o fará do jeito mais simples possível.Alguns dos calouros serão recepcionados nos bastidores como um “E aí, como foi?” por atrizes que fazem muitas inaugurações de loja e poucas novelas.
Em sua quinta temporada, o show segue bem no Ibope: 23 pontos na Grande São Paulo, na última edição, da quinta-feira (20). Quando estreou, em 2012, o formato trouxe frescor às disputas com calouros, consagradas em tantos quadros quase idênticos ao longo de décadas. O sistema em que os julgadores ficam de costas e só viram sua cadeira se aprovarem o candidato renova os elementos de tensão, regojizo e crueldade tão caros a programas de auditório (a muralha de poltronas imóveis, que resvala no desrespeito, é o novo troféu abacaxi).
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Passados alguns anos, porém, a sensação de “mais do mesmo” persiste. Cada novo ajayô de Carlinhos Brown lembra a todos que, depois de tanta disputa e choradeira, nenhum dos vencedores do reality se tornou uma estrela. A virada das cadeiras ainda funciona, mas se afasta o sabor de novidade. Os talentos, matéria-prima da atração, se repetem demais: melismas, vibratos e trejeitos que aproximam o formato importado de um programa de Raul Gil. Repertório idem, com pérolas do karaokê como Coleção, de Cassiano.
O grande déjà-vu, porém, recai sobre o elenco de jurados. Nenhum dos convocados até hoje se saiu muito mal. Na única troca feita até agora, Michel Teló sucedeu a Daniel com algum acréscimo de brilho e propriedade. Está na hora de trocar os outros. Difícil ser convencido pela cara de deslumbramento do velho trio ao deparar com uma nova voz espetacular – que, sendo fiel ao histórico, dificilmente emplacará na carreira.
Não é uma sucessão fácil. Ter star quality não basta. É necessário possuir um telhado um pouco mais firme para julgar quem está no palco, o que elimina boa parte dos nomes nas paradas de sucesso. Ou, pela via inversa, no caso da vaga de Lulu Santos, a relevância musical precisa estar ligada a algum apelo pop. Renovar, porém, é preciso. Só mesmo uma cheerleader da ponta de pirâmide conseguiria ter ânimo para mais uma temporada dos gritos de Claudia Leitte.