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Em novo estudo, o Wikipedia faz história

Pesquisa publicada em outubro nos EUA e ainda sem data de chegar ao Brasil propõe um método matemático, com base na enciclopédia virtual, para apontar as personalidades mais importantes da história do mundo

Por Da Redação
11 jan 2014, 12h47

Por muito tempo, o papel dos indivíduos na história foi uma questão que engajou filósofos e dividiu escolas. Houve aqueles que atribuíram um papel central aos grandes líderes. “A história do mundo nada mais é que a biografia dos grandes homens”, disse o escritor britânico Thomas Carlyle no século XIX. No mesmo século, o alemão Karl Marx, embora não chegasse ao ponto de dizer que os indivíduos são irrelevantes, preferiu ressaltar a força de processos econômicos que ninguém, sozinho, poderia deter ou alterar. Na era do big data, no entanto, discussões como essa podem vir a ser deixadas de lado. É o que sugere o livro Who’s Bigger? Where Historical Figures Really Rank (Cambridge University Press), lançado em outubro nos Estados Unidos e ainda sem previsão de chegar ao Brasil. Fruto do trabalho dos americanos Steven Skiena, professor de ciência da computação na universidade Stony Brook, em Nova York, e Charles Ward, engenheiro de software do Google, ele mostra o que o raciocínio guiado por números e estatísticas pode produzir quando aplicado a campos antes pouco afeitos a eles. A palavra ainda não ganhou grande circulação, mas esse novo tipo de abordagem já foi batizada em inglês de “culturomics” – o estudo do comportamento e da cultura por meio da análise de informações digitalizadas.

Como sugere o título do livro – em português, algo como Quem É o Maior? Como Ranquear Personagens Históricos – Skiena e Ward tomaram para si o desafio de comparar a importância histórica de Jesus à de Hitler ou Elvis Presley. Para isso, desenvolveram um algorítimo com diversas variáveis, mas que usa como base a enciclopédia virtual Wikipedia, em sua versão em inglês. A fórmula matemática contempla dados como o tamanho do verbete criado para determinada pessoa, o número de edições que esse verbete já teve, a quantidade de visitas recebidas pela página e o volume de links feitos para ela a partir de outros perfis do site. A análise considera ainda, com peso menor, dados de livros digitalizados e disponibilizados pelo Google Books. Tudo posto no computador, a conclusão foi que Jesus, Napoleão, Maomé, Shakespeare e Lincoln são, nesta ordem, as pessoas mais importantes da história.

A dupla apostou na Wikipedia como fonte para o levantamento pela vastidão de seu arquivo e por seu apelo popular, não apenas em termos de pesquisa, mas também de produção. “Um dos números que usamos no estudo foi o total de vezes em que um artigo do site foi editado”, explica o pesquisador. “Uma figura importante tem chance maior de ter o perfil editado por mais pessoas, e portanto mais vezes, porque mais gente conhece sua história e se importa com ela.”

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Por usar a enciclopédia em inglês, a lista da dupla privilegia figuras anglo-americanas, mas, para Skiena, não seria justo comparar líderes americanos a pessoas historicamente relevantes em outros países. A lista, assim, embora traga personalidades universais como Jesus, Napoleão e Maomé, tende a ter uma representação maior de nomes da história americana, como os ex-presidentes dos Estados Unidos Abraham Lincoln e George Washington.

Isso acontece também porque, como explica Skiena, o principal objetivo do trabalho era medir a força do “meme” de figuras históricas. Além do uso que ganhou na internet, de reprodução com toque de humor de alguma imagem ou fato em destaque em um determinado momento, a palavra meme, tal como registrada no dicionário Oxford, representa um elemento de uma cultura ou de um sistema de comportamento que é transmitido de pessoa para pessoa, por cópia, imitação ou outros meios. “O meme é como a ideia dessa pessoa está sendo propagada pela história e pelo tempo. Não estávamos tentando medir a fama de uma determinada personalidade hoje, mas sim o nível de importância que ela mantém através dos tempos.”

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Entre os grandes nomes da cultura, Shakespeare é o mais bem colocado na lista dos personagens mais influentes da história. Ele aparece em quarto lugar, seguido por Mozart (24º lugar) e Beethoven (27º). Já dentro do universo popular, o nome mais relevante da história, segundo a lista, é Elvis Presley. Ele aparece em 69º lugar. “Pode ter sido um pouco surpreendente vê-lo ali, mas eu achei ótimo”, fala o autor, fã do cantor. “Quando você escrever a história geral da música, a música popular e moderna vai ser uma parte importante dela, e começará com Elvis”, comemora. Dos artistas ainda vivos, o primeiro a aparecer é Madonna (121º lugar), a quem o autor, por outro lado, considera “super-valorizada”.

Mortos x vivos – Um dos maiores desafios do projeto foi igualar a importância de pessoas mortas milênios atrás com a de grandes celebridades contemporâneas. “É muito difícil comparar as pessoas importantes de hoje com as pessoas importantes da história. Tentamos fazer correções, mas é difícil quando se trata de celebridades, que são notícia sempre e recebem uma quantidade enorme de atenção.”

Para corrigir essas distorções, os autores buscaram amparo em outras fontes, como dados coletados em livros dos últimos 200 anos. “Descobrimos que leva cerca de 160 anos para a reputação de uma figura histórica se estabilizar. A maioria das pessoas é mais citada em livros quando tem, em média, 60 anos de idade. A partir daí, as citações começam a diminuir.” Com esses números, métodos de compensação foram incluídos no cálculo matemático para diminuir a importância de artistas populares da atualidade, tentando prever o que restará de sua fama daqui a um século.
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O método, apesar de inovador, ou exatamente por isso, levantou dúvidas. Para o historiador brasileiro Marco Antonio Villa, listar essas figuras em ordem de importância é um erro. “Nós temos outros instrumentos para tentar entender o papel desses personagens, e sem precisar ranqueá-los.” Em artigo para o site da revista New Scientist, o crítico de arte Jonathon Keats também criticou o livro, afirmando que não faz sentido comparar a importância histórica de pessoas de áreas tão diversas quanto arte, ciência e política e colocá-las em uma mesma lista. Já o professor da faculdade de direito de Harvard Cass R. Sunstein, em um artigo para o site da revista New Republic, objetou que não se deve confundir os interesses dos usuários do Wikipedia em inglês com os princípios e valores das pessoas de todo o mundo – afinal, nem todas participam da enciclopédia. Mas reconheceu: a lista é, no mínimo, divertida.

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