Deu pau na máquina do tempo de ‘A Lei do Amor’
Flashback que mostrou relação entre os vilões Tião Bezerra e Magnólia só rejuvenesceu um dos dois – e bagunçou ainda mais a já confusa escalação da novela
Há um parafuso solto na engenhoca responsável por escalar o elenco de A Lei do Amor, a trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari que substituiu Velho Chico na faixa das 9 da Globo. Depois de saltar 20 anos no tempo e fazer Tarcísio Meira e Vera Holtz se transformarem em… bem, Tarcísio Meira e Vera Holtz, enquanto a personagem de Gabriela Duarte amadurecia mais que as outras e ressurgia na pele da mãe, Regina, no capítulo da sexta-feira, 14, o folhetim promoveu um confuso primeiro encontro entre os vilões Tião Bezerra (Thiago Martins / José Mayer) e Magnólia. No flashback, a personagem vivida por Vera Holtz nas duas fases da trama foi interpretada por Ana Carolina Godoy, 36, que é da mesma faixa etária de Thiago Martins, 28.
A estranheza vem daí. Em A Lei do Amor, Tião seria vários anos mais novo que Magnólia. Ao menos, a se tomar a primeira fase, quando, representado por um Thiago Martins de bigodinho, o vilão conheceu e seduziu Helô (então Isabelle Drummond, agora Claudia Abreu). O flashback ignorou a diferença de idade entre Tião e Magnólia e jogou um nos braços do outro, em uma sequência que seria marcada pela perfídia da nefasta vilã, uma personagem digna de dramalhão – perfídia que, ao que tudo indica, é fonte de um ódio que não apenas move o ambicioso Tião nos negócios, mas pode levá-lo a executar um plano de vingança pessoal contra a megera.
Explica-se. Na sequência exibida na sexta, 14, descobriu-se que Tião trabalhou como operário na olaria da família de Magnólia. Sim: a mesma que mantinha trabalhadores em condições análogas às de escravos, o que não impediu o personagem de se apaixonar pela filha do patrão. Em uma festa, Magnólia se deixou laçar por Tião, mas, depois de uma noitada de fogo e paixão, resolveu varrê-lo do mapa. Literalmente: mandou um trator remover seu barraco, instalado próximo à olaria, maldade que provocou um infarto no pai do personagem. Órfão, Tião foi tirar satisfação de Magnólia, que provou ser feita do pior DNA mexicano: jogou o empregado no chão e o marcou com um ferro em brasa.
Outro problema é que, na fase atual do folhetim, Tião e Magnólia também parecem emparelhados na idade. Afinal, tanto José Mayer como Vera Holtz estão na faixa dos 60 anos — mais exatamente, ele tem 67, e ela, 63. Uma outra torção na linha do tempo dos personagens que só a física particular de A Lei do Tempo é capaz de executar. Mas que é difícil de engolir.
Melodramas, é verdade, não dão muita bola para falhas. Outro erro ruidoso que escapa nessa bagunça toda é, que ironia, o fato de Tião Bezerra reconhecer a ex-patroa Magnólia, apesar da metamorfose da personagem, mas a sagaz Mág, como é chamada pelos íntimos, não ver no hoje rico empresário os traços do homem que a seduziu quando jovem. Haja boa vontade do espectador para deglutir tanta aresta.