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Choque de versões na guerra da comida no Rock in Rio

A chef Roberta Sudbtack e a comandante da Vigilância Municipal comentam o episódio que marcou a primeira noite do evento

Por Maria Clara Vieira 
Atualizado em 16 set 2017, 18h38 - Publicado em 16 set 2017, 17h24

O fechamento da operação da chef Roberta Sudbrack  na Gourmet Square marcou a primeira noite do Rock in Rio. Uma ação da Vigilância Sanitária do município descartou ontem mais de 160kg de queijo e linguiça do estande da renomada cozinheira, que relatou o episódio nas redes sociais. Roberta, que chefiou a cozinha do Palácio Alvorada durante todo o governo FHC, se revoltou contra a decisão e entrou com uma liminar na justiça para evitar o descarte de todo o seu estoque. Em seu texto, alegou os alimentos estavam dentro da validade e, portanto, não deveriam ter sido descartados.

A vigilância sanitária, entretanto, afirma que os produtos não se encaixavam com a legislação federal e representavam um risco à saúde do público. Em nota divulgada hoje, o órgão reitera que todos os fornecedores estavam cientes da regra. VEJA foi ouvir os dois lados da história. Confira as versões para o episódio:

Roberta Sudbrack, chef

A vigilância sanitária afirma que seus produtos não tinham o selo federal e que você estava ciente da legislação. Isso procede?

Procede. Eu trabalho com pequenos produtores e sei que nem todos eles têm absolutamente todos os selos requeridos. É quase impossível um produto artesanal  ter todos os certificados. Isso demanda uma imensa burocracia. Sabendo disso, enviei as especificações técnicas de todos os meus produtos para os organizadores e para a vigilância sanitária, e recebi a autorização para participar. Não estou enfrentando a decisão da vigilância. Se eu não posso participar do evento, tudo bem. O descarte dos alimentos é que não é nenhum pouco razoável. Uma funcionária minha, que já passou fome, chorou compulsivamente quando viu a comida no lixo. Quero ao menos ter o direito de alimentar quem precisa.

Mesmo assim, servir alimentos sem o certificado não é colocar a saúde das pessoas em risco?

Eu utilizo esses produtos em meu negócio há 20 anos e já passei por inúmeras vistorias. Meu nome e minha marca não têm o respeito que têm sem motivo. Uma agente já me disse que seria capaz de comer no chão do meu restaurante, de tão limpo que é. Aliás, o pior da ação de ontem foi a forma como os alimentos foram jogados fora. Os agentes puseram tudo em contêineres e jogaram produtos químicos em cima. Um gari que passou para recolher quase levou para casa. Fui eu quem o avisou que estava contaminado. Se alguém colocou a saúde do público em risco, foi a própria vigilância.

Você relatou que os agentes “invadiram” seu estande. Houve truculência?

Não vejo necessidade em ter 15 agentes da vigilância entrando no meu estande para averiguar os produtos que já tinham sido aprovados pelo evento. Infelizmente, o que aconteceu não foi nada novo. Eu tenho 25 anos de carreira e sei que isso é normal na culinária brasileira. Você faz seu trabalho com dedicação e é tratado como bandido.

Qual foi seu prejuízo com a ação? Você pretende tomar alguma iniciativa para reduzi-lo?

Tive um prejuízo de pelo menos 200.000 reais. Eu poderia comprar produtos industrializados, voltar a cozinhar e diminuir as perdas, mas não é assim que eu trabalho. Não é por acaso que meu estande no Rock in Rio estava localizado na Gourmet Square. Entende-se que é um lugar no qual você paga um pouco mais caro para ter acesso a um produto especial. Os organizadores do evento, inclusive, me pediram para ficar, mas eu me recusei.

Márcia Rolim, chefe da Vigilância Sanitária

Por que toda a comida teve que ser descartada?

Porque os produtos não se enquadravam na legislação que rege o comércio de alimentos no município e, portanto, não havia segurança alimentar. A lei determina que todos os alimentos de origem animal devem ser certificados pelo estado do Rio de Janeiro ou pelo Ministério da Agricultura. Os queijos e linguiças comercializados no estande não tinham este selo e, por isso, foram inutilizados.

Em seu texto, Roberta diz que os produtos eram certificados por seu estado de origem. Isso não basta?

Não é suficiente porque perdemos a rastreabilidade do produto. Não sabemos em que condições foram feitos o transporte e armazenamento. Quando o fornecedor tem o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal), sabemos que o governo federal acompanhou todo a cadeia produtiva. Quando o selo é do estado, acompanhamos por aqui. Por isso exigimos um dos dois. Se não, como vou garantir para a minha população que o produto tem qualidade? Estamos falando de saúde alimentar, é muito grave.

Como é possível obter este selo?

O próprio empreendedor deve se registrar no Ministério da Agricultura e aí os técnicos do ministério vão ao local acompanhar toda a  produção para liberar o registro federal.

Se a vigilância pré-aprovou o estande, por que a ação aconteceu agora?

Antes do evento, nós só explicamos as regras. Fizemos ao menos três reuniões com todos os fornecedores – inclusive com a Roberta – e todos estavam cientes da legislação. A partir do momento em que o alimento vai para o varejo é que a vigilância sanitária pode, efetivamente, averiguar o selo. Nós sabíamos que eles não tinham e avisamos desde março que isto seria cobrado no festival.

Mesmo assim, não é errado jogar tanta comida fora?

A vigilância sanitária não pode ter esse raciocínio. Não é porque tem gente passando fome que vamos permitir a comercialização de comida de origem duvidosa.

Mas a Roberta afirma que eram fornecedores dela há mais de 20 anos…

Por mais que sejam fornecedores de confiança dela, eu não posso partir do pressuposto de que está tudo certo com eles. Hoje, quem regula a comercialização de alimentos entre estados é o Ministério da Agricultura e eles não têm este selo de qualidade. Eu não sei qual é a amostragem dela. Aqui, no evento, estamos falando de um público de 100 mil pessoas. Não posso arriscar a saúde de ninguém.

Roberta relatou que os agentes “invadiram” o estande. Isso aconteceu?

Eu não entendi essa frase dela. Tenho muito respeito pela Roberta e pelo trabalho dela e tenho certeza de que meus técnicos jamais “invadiriam” um estabelecimento. Todos são da área médica e de saúde. Além disso, eu estava presente na operação e tudo correu com tranquilidade. Nós checamos toda a área gourmet, ela não foi a única a passar pelo processo.
Como foi feito o descarte dos alimentos?

Nós jogamos cloro e detergente para que não pudessem ser consumidos e os  descartamos em contêineres específicos da Comlurb, que é a empresa responsável pela retirada dos resíduos – tal como prevê o regulamento.

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