Biografia e site marcam 70 anos de Elis Regina
Site oficial da artista, idealizado por seu filho mais velho, João Marcelo Bôscoli, reúne material da exposição 'Viva Elis', discografia da cantora, fotos e vídeos
Se estivesse viva, a cantora Elis Regina completaria 70 anos nesta terça-feira, 17. Para comemorar a data, entra no ar o site oficial da artista, idealizado pelo filho mais velho de Elis, João Marcelo Bôscoli, empresário e produtor musical. A página traz o material da exposição Viva Elis, que passou por algumas cidades brasileiras em 2013. Também estão disponíveis toda a discografia da cantora, incluindo compactos e álbuns póstumos, além de várias fotos e vídeos. Boa parte desse material era desconhecido do público. Para completar, é possível fazer download gratuito da biografia Viva Elis, de Allen Guimarães.
A data também marca o lançamento de outra biografia, intitulada Nada Será Como Antes (Master Books), escrita pelo jornalista Julio Maria. Entre os destaques da obra estão as parcerias artísticas e românticas de Elis. A lista, longa, começa como Ronaldo Bôscoli, César Camargo Mariano e Samuel MacDowell, entre os fixos, e por rápidos romances com Nelson Motta, Guilherme Arantes, Fábio Jr. (com quem quis gravar; sabiamente, ele se recusou), até mergulhar em uma companhia letal, a cocaína, em seus últimos dez meses de vida.
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Entre os episódios narrados no livro estão dois emblemáticos encontros musicais de Elis nos anos 1970, um com Tom Jobim, parceria que resultou no mais incensado álbum da música popular brasileira, Elis & Tom, e outro com Hermeto Pascoal, ao final de um show da cantora no Festival de Jazz de Montreux na Suíça. O bruxo albino improvisou como nunca ao acompanhá-la em três canções que ela conhecia bem demais, Corcovado, Garota de Ipanema e Asa Branca. Os acordes de passagem, as modulações inesperadas, as bruscas “viagens” sonoras fora do script a deixaram em pânico. Em compensação, nas gravações em Los Angeles de Elis & Tom, o casal Elis-César adentrou o estúdio pela porta dos fundos diante do grande compositor. No final, quem os reverenciou foi Tom.
Em ambos os episódios, salta à vista aquela que é possivelmente a característica mais constante da personalidade da cantora: uma insegurança atroz, no nível pessoal e afetivo, que se esparramava pelos palcos e estúdios. Isso fazia dela uma pessoa difícil. Para muitos, mau-caráter; para os próximos, apenas insegura, incapaz de aceitar uma rejeição, por menor que fosse. “Por trás da artista livre e senhora de seus atos, por mais inconsequentes que parecessem, havia uma mulher que começava a se perder dentro de si”, escreve Julio Maria na biografia.
Vídeo: Elis Regina em alta definição
Apesar desse desequilíbrio, Elis conseguiu construir uma obra artística sem paralelo. Desenvolveu um faro incrível para descobrir novos compositores, detectar já na primeira audição que uma canção era essencial, como no caso de As Aparências Enganam, de Tunai, quando, para colocá-la no disco no último minuto, descartou uma de seu querido amigo Paulo César Pinheiro. Tecnicamente, era outro milagre. A afinação espetacular, as transmutações que sabia operar no timbre de sua poderosa voz de contralto, o fraseado impecável, as dinâmicas sutis. Tamanhos apetrechos técnicos fizeram com que, até meados de sua carreira, parecesse mais uma Ella Fitzgerald; a última década, porém, a dos shows conceituais como Falso Brilhante e Saudade do Brasil, viu emergir uma Billie Holiday brasileira, por sua intensidade visceral.
A certa altura, Julio diz que Elis era para iniciados e Roberto Carlos para principiantes: “O grau de dificuldade que procurava nas composições lhe daria vitórias entre os entendidos e derrotas entre os iniciantes. Gostar de Elis não era tão simples quanto se apaixonar por Roberto Carlos”. No livro, o jornalista destaca também a saga da MPB, em tempos que a televisão e o rádio eram ocupados por artistas do quilate de Elis, com canções como Upa Neguinho, O Bêbado e a Equilibrista ou Alô, Alô Marciano. Um momento tão brilhante, na música brasileira, quanto a do período de ouro da música americana entre as décadas de 1920 e 1950.
Para completar as homenagens no aniversário da cantora, João Marcelo Bôscoli organiza o show Elis, 70 anos, que será realizado em 23 e 24 de maio no Palácio das Convenções do Anhembi, com uma banda tocando os sucessos da cantora.
(Da redação com Estadão Conteúdo)