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Arquitetos fazem carta em repúdio a projeto de Silvio Santos

Cinco instituições se unem em texto contra os planos do empresário de construir torres residenciais em torno do Teatro Oficina

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 nov 2017, 18h48 - Publicado em 8 nov 2017, 12h21

A construção das torres nesse terreno descaracterizará de forma violenta e irreversível o bem tombado, que, pela enorme importância que tem para a cultura nacional, foi protegido pelo instituto do tombamento pelas três instâncias governamentais.” Assim cinco instituições ligadas à arquitetura e à preservação do patrimônio histórico repudiam o projeto do empresário e apresentador Silvio Santos de construir torres residenciais de mais de 100 metros de altura no entorno do Teatro Oficina, no Bexiga, região central de São Paulo.

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos Brasil), a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (Anparq), a seção brasileira do Comitê Internacional para Documentação e Conservação de Edifícios, Sítios e Bairros do Movimento Moderno (Docomomo Brasil) e o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi se uniram em um texto que é contrário aos planos do dono do SBT e também à decisão do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), que acatou recurso da construtora Sisan, do Grupo Silvio Santos, de reversão da decisão do ano passado, que reprovava a construção de torres residenciais em terreno vago contíguo ao teatro.

O prefeito João Doria Jr. entrou na história para tentar mediar o conflito de interesses entre as partes. Houve uma reunião em agosto, na sede do SBT, que terminou sem acordo, e uma nova está marcada para a próxima segunda-feira, 13 de novembro.

A intenção da companhia teatral é dar continuidade ao projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, que morreu antes de concluí-lo, de criar um parque cultural público em volta do Oficina. E também de preservar as características da reforma feita pela ítalo-brasileira entre os anos 1980 e 1990, reforma que levou o teatro a ser eleito o “melhor e mais intenso do mundo” pelo crítico de arquitetura do jornal britânico The Guardian.

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“O Teatro Oficina ultrapassa os limites das suas paredes externas, através da abertura proporcionada pelo seu teto móvel e pelo ‘janelão’ que permite que a ambiência urbana do Bixiga invada o seu espaço interno, estabelecendo uma relação singular entre o teatro e a cidade”, diz o texto de repúdio ao projeto de Silvio Santos. “Neste sentido, o vazio existente ao lado do ‘janelão’, no terreno lindeiro, é parte indissociável do valor arquitetônico do teatro, ao permitir que o mesmo funcione como concebido, constituindo, assim, um dos seus atributos centrais.”

Confira abaixo, na íntegra, a carta aberta contra o projeto das torres residenciais da Sisan: 

 

PELA PRESERVAÇÃO DO TEATRO OFICINA E DE SEU ENTORNO 

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos Brasil), a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (Anparq), a seção brasileira do Comitê Internacional para Documentação e Conservação de Edifícios, Sítios e Bairros do Movimento Moderno (Docomomo Brasil) e o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi registram grande preocupação com a notícia, recentemente divulgada pela imprensa, da aprovação pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) de um projeto de construção de um conjunto de torres no entorno imediato do Teatro Oficina, situado no bairro do Bixiga, na cidade de São Paulo. 

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O edifício do Teatro Oficina é resultado de sucessivas intervenções realizadas por prestigiados arquitetos brasileiros, como Lina Bo Bardi, Edson Elito, Joaquim Guedes, Flávio Império e Rodrigo Lefebvre. Os dois primeiros foram os responsáveis pela última grande intervenção, concluída em 1993 e que contou com concepção cênica do ator e diretor José Celso Martinez Corrêa.

Considerado pelo diário inglês The Guardian “o melhor e mais intenso teatro do mundo”, o Teatro Oficina ultrapassa os limites das suas paredes externas, através da abertura proporcionada pelo seu teto móvel e pelo “janelão” que permite que a ambiência urbana do Bixiga invada o seu espaço interno, estabelecendo uma relação singular entre o teatro e a cidade. Neste sentido, o vazio existente ao lado do “janelão”, no terreno lindeiro, é parte indissociável do valor arquitetônico do teatro, ao permitir que o mesmo funcione como concebido, constituindo, assim, um dos seus atributos centrais.

O reconhecimento dos valores culturais do edifício levou ao seu tombamento nas três esferas de governo: municipal, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico – Conpresp (Res. 05/91 e 22/02 da Bela Vista); estadual, pelo Condephaat, que o considerou “elemento de suma importância para a documentação do surto de pesquisas de linguagem teatral que influencia até hoje o teatro moderno no Brasil” (Resolução 06/1983); e federal, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, que o inscreveu nos Livros de Tombo Histórico e das Belas Artes. 

Na sua última reunião, realizada no dia 23 de outubro, o Condephaat acatou o recurso da construtora Sisan de reversão da decisão anterior do mesmo Conselho, que havia reprovado o projeto de construção de duas torres residenciais em um terreno vago contíguo ao teatro.

A construção das torres nesse terreno descaracterizará de forma violenta e irreversível o bem tombado, que, pela enorme importância que tem para a cultura nacional, foi protegido pelo instituto do tombamento pelas três instâncias governamentais. 

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Esperamos que o Iphan, que ainda analisará o projeto em questão, compreenda o impacto que essas construções terão no bem tombado, prejudicando a singular relação entre o teatro e seu entorno. Neste sentido, solicitamos que este caso, pela sua importância e caráter exemplar, seja encaminhado para a apreciação do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan.”

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