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Anti-heróis competitivos resgatam fórmula original — e popularidade — do ‘BBB’

Intrigas, fofocas e a presença carismática da controversa Ana Paula fizeram com que o reality show, em sua 16ª edição, recuperasse o fôlego perdido

Por Heloísa Noronha
28 mar 2016, 10h25

“Eu desci nessa Terra pra ser protagonista.” Premonitória – ou apenas resultado de uma boa autoestima -, a frase foi proferida por Ana Paula Renault, 34 anos, durante sua terceira semana de confinamento na 16ª edição do Big Brother Brasil. Até então, a moça ainda calcava seu caminho para o tal protagonismo no reality exibido pela rede Globo – que viu sua audiência e popularidade voltar a crescer, graças ao elenco diverso, com destaque para a anti-heroína carismática e visceral. Todos os picos no Ibope desta edição, até o momento, foram relacionados à moça.

O retorno de Ana Paula do paredão fake atingiu a marca de 35 pontos no Rio de Janeiro, onde cada um representa 43.000 domicílios. Já o programa que mostrou detalhes da expulsão da mineira por agressão, no último dia 5, repetiu o recorde, com 35 pontos na capital carioca, e 31 pontos em São Paulo. Detalhe: num sábado, dia em que a audiência míngua para todos. E o paredão com a eliminação de Renan, principal antagonista de Ana Paula, somou 92 milhões de votos. Os números se destacam quando comparados às edições mais recentes, que desde o BBB12 não superava a média geral de 28 pontos. Tanto que, no caminho da ladeira, o BBB16 começou com clima de velório, com 24 pontos em São Paulo na audiência consolidada – o pior número para uma estreia na história do reality.

O jogo virou quando a loira e seus companheiros mostraram a que vieram. Os 14 escolhidos pouco tinham das velhas características antes prezadas pelos espectadores. Da senhora simpática e de cabelo branco até a jovem com cara de inocente, todos se viram entre o rótulo de mocinho e bandido ao longo dos dias de reclusão. Em um passado não muito distante, quando um concorrente combinava voto, era espinafrado pela plateia. Agora, o público se viu sem opção. Todos os participantes são atentos jogadores. E o BBB16 acabou marcado como um dos mais ambíguos no que diz respeito ao caráter de seus concorrentes.

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“O ser humano é movido a fofoca, a identificações e projeções. O público transfere para as atitudes dos jogadores temas arquetípicos como competição, conchavo, mecanismo do bode expiatório, sadismo, compaixão, competição, luta do bem contra o mal, envolvimento erótico, traição, rejeição, narcisismo ferido”, observa Roberto Rosas Fernandes, representante da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA).

Wesley Carlo Fernandes Elago, especializado em Rádio e TV, docente da Escola de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) concorda. “Esta edição resgatou componentes importantes da fórmula original, que é mostrar como as pessoas agem numa situação de pressão para receber um prêmio. Ou seja, fofocas, estratégias, manipulação e embates baseados em inveja, raiva e disputa por poder. Além, é claro, dos conflitos envolvendo amor e traição”, explica.

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O sujo e o mal lavado – O poder de sedução de um reality show reside em exibir dramas reais, com reações humanas, em vez das tramas previamente arquitetadas e muitas vezes previsíveis da ficção. A desistência de Alan por causa da saúde frágil do pai, as acusações feitas a Laércio, as picuinhas de Adélia, a verborragia sem filtro de Geralda, as fofocas de Matheus, a luta de Renan contra os próprios impulsos libidinosos, a malemolência lasciva de Munik e até mesmo o choro incessante de Maria Claudia, entre outros momentos memoráveis, compuseram um painel dramático melhor que as recentes novelas de horário nobre da emissora.

Que o diga a musa principal da atração. Ana Paula é uma mulher desbocada, excessivamente sincera, expressiva e que chegou a extrapolar os limites razoáveis de civilidade. Não à toa se tornou a primeira participante a ser expulsa do programa por agressão física. Apesar do jeito tempestuoso, o público a idolatra. Comparada a Carminha, a vilã da novela Avenida Brasil, interpretada por Adriana Esteves, a moça, mesmo fora da casa, fez com que seu grupo, formado por Ronan, Munik e Geralda, se tornasse favorito ao prêmio. Se ainda estivesse lá, Ana poderia até mesmo embolsar 1,5 milhão de reais. Aqui fora, já está empregada pela Globo e comanda um quadro no Vídeo Show.

Como disse em algum discurso pomposo o apresentador Pedro Bial, o programa tem o poder de refletir as transformações morais da sociedade. E ele acertou. “Nesse momento político do Brasil, o público aprecia quem tem atitude e é claro em suas ações, independentemente de ser ou não um vilão”, comenta o psicólogo clínico Marcelo Lábaki Agostinho, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP).

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Realidade? – A divisão entre bem e mal se tornou a grande aposta da produção do programa após o BBB5, edição que bateu recorde de audiência e coroou a dupla Jean Wyllys e Grazi Massafera, com o primeiro e segundo lugar, respectivamente. Mais tarde, a apelação para o sexo ganhou espaço com participantes que pareciam eleitos em salas de academia pelo Brasil.

Em 2014, o BBB atingiu o que, até agora, parece ser seu auge de boçalidade. Com um elenco formado apenas por homens e mulheres jovens e atraentes, ancorado na cultura das periguetes, o programa falhou em conquistar e terminou com a pior média no Ibope do reality até então, com 21 pontos em São Paulo, índice 10% menor que a média geral do BBB13.

A partir do ano seguinte, a Globo mudou o caminho e abraçou o que outros BBBs fazem ao redor do mundo ao escolher um elenco mais diverso, com faixa etária ampla e a pegada “gente como a gente”. A virada funcionou. A edição atual não só traz histórias instigantes em torno das pessoas selecionadas, mas deixa rolar solta a união ou discórdia entre os grupos oponentes.

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“É comum ouvir de quem acompanha o Big Brother frases como ‘queria ser desse jeito’ ou ‘adorei, faria o mesmo’. Ana Paula, por exemplo, não teve medo de ser verdadeira nem de se expor. Isso, no âmbito do inconsciente, é prazer puro para quem vê. É o que qualquer ser humano gostaria de ser ou poder fazer”, diz Armando Colognese Jr., professor do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, na capital paulista.

No caso da Ana Paula, até o conceito de vilania ficou pulverizado. “Muitos consideraram sua expulsão uma injustiça, já que ela também apresentou qualidades como a generosidade com os amigos. Talvez o público se reconheça nas virtudes dela, mas muitos se identificaram com a punição pelo o que ela fez de errado”, diz Marcelo. “O programa ainda lança luz em aspectos que a pessoa não quer reconhecer em si mesma, mas para viver de forma confortável com isso atribui aos outros”, observa Tatiana Paranaguá, psicóloga e docente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

A sinceridade foi tanta que até com a Rede Globo Ana Paula brigou, quando ameaçou deixar o programa, pela falta de bebida em uma festa. A mineira foi chamada ao confessionário, onde deve ter levado uma bronca em particular. Apesar da relação conturbada com a loira, a emissora tem muita a agradecer. Nessa semana, foi veiculada a notícia de que o canal já negocia junto à produtora holandesa a renovação dos direitos do Big Brother Brasil. O contrato terminaria em 2018. Olha ele.

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