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Anthony Hopkins estreia ‘Westworld’ sem ver TV: ‘Caixa do medo’

Série, que discute o que é ser humano, tem mistérios e atores de peso, como Anthony Hopkins, que fala a VEJA: ‘Nossa agonia é querer ter certeza’

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
2 out 2016, 09h15

Com Game of Thrones em sua penúltima temporada, a televisão em geral e a HBO, especificamente, estão à cata de uma substituta à altura. A principal candidata é Westworld, que estreia neste domingo, às 23h. Baseada em um roteiro e filme escrito e dirigido por Michael Crichton em 1973, a série traz Anthony Hopkins no papel do cientista Robert Ford, criador dos robôs que são os anfitriões do parque temático virtual Westworld, como Dolores (Evan Rachel Wood), uma jovem inocente que cuida do pai, e Maeve (Thandie Newton), prostituta no bordel da cidade. Ed Harris é o Homem de Preto, um visitante que só quer matar tantas pessoas quanto puder – pessoas, no caso, são os androides, pois não é permitido assassinar outros seres humanos.

Produzida por Jonathan Nolan (irmão de Christopher Nolan, diretor de Interestelar) em parceria com sua mulher, a roteirista Lisa Joy Nolan, e J.J. Abrams (Lost, Star Wars, Star Trek), a série coloca uma série de temas em discussão. “Desde que começamos a criar vida artificial inteligente, não paramos para pensar”, diz Nolan, em entrevista concedida a VEJA em Los Angeles. “Acho que foi isso que motivou Stephen Hawking a se pronunciar sobre o assunto, a dizer que precisamos parar para pensar. Porque estamos mergulhando de cabeça, com quantidades gigantescas de dinheiro investidas nisso.”

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Na série, as coisas ficam mais complicadas quando os robôs começam a ganhar consciência, o que gera discussões sobre o que é ou não humano, e também sobre o nosso fascínio pela violência. “É uma série com um número enorme de personagens e de enredos que se cruzam”, afirmou Nolan. “Como em tudo o que faço, sempre há muitas camadas e elementos que se escondem à luz do dia. A narrativa é tremendamente ambiciosa. Queremos contar a história dessa nova espécie no planeta. E queremos contar a história completa: como seria no começo e como se desenrolaria.” É o tipo de série que deve colocar os espectadores em debates sobre o que de fato está acontecendo e estimular a criação de teorias mirabolantes, um sonho para qualquer produtor e canal. Foi o que aconteceu com boa parte do elenco – e Evan Rachel Wood foi uma das que desvendaram alguns dos seus mistérios.

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Mas não a Anthony Hopkins. O veterano ator, que completa 79 anos em dezembro, diz ser um ferrenho adepto do “deixe a vida me levar”, o que contrasta tremendamente com a imagem passada em personagens como Hannibal Lecter, de O Silêncio dos Inocentes (1991), pelo qual ganhou um Oscar. “Temos de abraçar a incerteza e o caos, porque no fim nada faz sentido”, diz o ator, que afirma não assistir a televisão nem para ver o noticiário.

 

A série é baseada num filme de Michael Crichton, que era influenciado pelas obras de Mary Shelley. Quais os pontos de ligação entre as obras? Eu não vi o filme original até começar a filmar. Mary Shelley apareceu algumas vezes nas conversas com o produtor Jonathan Nolan sobre Frankenstein. Mas nunca pensei muito sobre utopias e distopias. No fim, é tudo sobre o controle. O que não faz sentido, porque tudo é incerteza. Nossa agonia é querer a certeza desesperadamente, mas ela não existe. Nós votamos para políticos nos darem controle, mas isso é inútil! Como já vimos no passado.

A atração oferecida por este mundo de Westworld é uma vida autêntica, uma experiência autêntica. É disso que se trata? Não sei. É o slogan.

Acha que está faltando autenticidade na nossa sociedade? Não sei. Não estou escapando da resposta, só não tenho conhecimento suficiente. Tenho minhas pequenas teorias de que nos alienamos do mundo. Assistimos a televisão o tempo inteiro, recebemos informação o tempo todo. Então, parei de assistir. Não quero saber. Não porque deseje viver na ignorância, mas porque sei que não tenho controle. E é uma caixa que vende o medo para as massas. Você vê os canais de notícias, eles perguntam: Quanto deveríamos nos preocupar com isso? E a resposta é sempre: muito! É tudo besteira.

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Você só assiste séries então? Não assisto nada.

Então, onde se informa? Por que preciso de informação? Ela vai chegar até mim de qualquer maneira. É como uma doença. Todo mundo fica procurando respostas. E não existem respostas!

Por que quis fazer uma série de televisão, então? Nunca tinha feito. Quer dizer, não fazia havia anos. A HBO tem uma ótima reputação. Era um papel interessante de interpretar. Estranhamente, para um homem que não acredita em controle e certeza, sempre me dão papéis de controladores. É um paradoxo. Acho que sei passar a ideia de um maluco por controle. Mas na minha vida, conscientemente, eu procuro não ter controle de nada nem de ninguém. Especialmente de mim mesmo. Não tem nada a ver com falta de disciplina. Ao remover seu ego, sua vida fica bem mais pacífica. Não levo nada a sério demais. Faço meu trabalho porque gosto, me pagam direito, apareço, sou feliz. Não me levo a sério demais.

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Nos alienamos do mundo. Assistimos a televisão o tempo inteiro, recebemos informação o tempo todo. Então, parei de assistir. Não quero saber. É uma caixa que vende o medo para as massas

 

Seu personagem acha que é uma espécie de deus, não? Sinceramente, não sei. Era tanto segredo! Eu perguntava: ‘O que acontece com esse cara?’ E a resposta era: ‘Não posso contar’. A gente recebia só algumas páginas do roteiro. Eu entendo, as pessoas levam as coisas muito a sério hoje em dia, você não pode saber de nada para não estragar a surpresa. É divertido para mim porque gosto de ser um pouco travesso. Ficava falando que não queria fazer de determinada maneira… (risos) Mas era só provocação.

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Na televisão, não dá para saber para onde vai seu personagem. Já que não se preocupa em ter o controle, lida bem com isso? Sim! A gente vai descobrir um dia! É como não assistir às notícias, você acaba descobrindo um dia. Não gosto de ser muito específico nas coisas. Não gosto de ficar preso a ideias e opiniões. Talvez por não ser muito inteligente. Tento levar as coisas com leveza. Às vezes, me perguntam algo, e eu digo: ‘Não sei’. ‘Como assim não sabe?’ ‘Não tenho ideia!’ (risos) ‘Mas você tem de saber!’ Por quê? Sei que vou morrer um dia, como todos vamos. Temos de abraçar a incerteza e o caos, porque no fim nada faz sentido.

Acha que as pessoas têm uma impressão errada de você? Porque realmente você fez muitos homens controladores, Hannibal Lecter, por exemplo. Pois é, na minha vida eu toco piano, pinto… Isso foi inesperado. Minha mulher viu alguns desenhos e me sugeriu pintar quadros. Antes de nos casarmos, ela disse que queria que eu fizesse pinturas para nossos convidados. Perguntei quantas. Ela: ’75’. Disse que não podia. E ela: ‘Por quê? Vão te colocar na cadeia se você não conseguir?’ Então, pintei. E ainda pinto. Estou com várias exposições por aí.

O que inspira suas pinturas? Nada, na verdade (risos).

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Você vai voltar a Thor também, não? Sim. Vou trabalhar com Cate Blanchett, então, estou empolgado, nunca a encontrei.

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