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‘A Floresta que se Move’: um retorno ambicioso para Ana Paula Arósio

Filme merece crédito por querer ser uma opção inteligente de entretenimento, e não mais uma comédia rasa, para as massas. Mas o projeto não se realiza em toda a sua ambição

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 nov 2015, 14h37

Ana Paula Arósio tomou para si o filme A Floresta que se Move, de Vinicius Coimbra, que estreia nesta quinta-feira no país. Não porque seu talento ofusque o dos colegas de elenco ou porque sua personagem seja onipresente em cena, mas por um motivo de raiz bastante mundana. Afastada da atuação desde 2011, quando abandonou o elenco da novela Insensato Coração, da Globo, a atriz chocou o público ao dar as costas para aquilo que todos consideram imperdível: um papel de protagonista na trama das nove na maior emissora do país e a fama que essa vitrine proporciona. Quatro anos depois, o anúncio de sua escalação para o projeto de Coimbra, outro nome ligado à Globo, causou uma repercussão tão grande que A Floresta que se Move, em vez de ser chamado de adaptação de Shakespeare, o que ele de fato é, passou a ser definido como “o filme da Ana Paula Arósio”. Ela tomou o filme para si. Com toda a ambição que ele carrega.

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Coimbra nega ter convidado a atriz de olho na reverberação que teria, mas admite que ela é ótima “para o marketing” do filme. O que o diretor de novelas como Celebridade e Lado a Lado diz querer é levar entretenimento inteligente para as massas. Não à toa, seu primeiro longa foi a adaptação de outro grande nome da literatura – uma versão do conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. “Ninguém lê mais”, diz ele. “Por isso, quero levar essas histórias às pessoas.” A Floresta que se Move merece crédito por pretender ser uma opção inteligente de entretenimento, e não mais uma comédia rasa, para as massas. Mas o projeto não se realiza em toda a sua ambição.

Tradução para os dias atuais de Macbeth, de Shakespeare, A Floresta que se Move traz Ana Paula como Clara (Lady Macbeth), a mulher ambiciosa que convence o marido, Elias (Macbeth, vivido no filme por Gabriel Braga Nunes), a matar o todo-poderoso da história, o banqueiro Heitor (rei Duncan, papel de Nelson Xavier, “pela primeira vez na pele de um personagem rico”), para assumir o seu lugar. O general Banquo, parceiro de Macbeth, é substituído no filme por César (Ângelo Antônio), amigo de Elias que também dá expediente como executivo no banco e passa a desconfiar do ex-colega de faculdade após a morte de Heitor.

A trama, por si só – ou por Shakespeare, para sermos justos – é forte e capaz de reter a atenção do espectador. A bela locação e o tom escolhidos por Coimbra, com traço teatral, se encaixam bem no filme e justificam os excessos do elenco, especialmente os de Braga Nunes e de Ana Paula, que por vezes parecem estar sobre um palco, e não no cinema, que exige atuação mais contida.

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O problema são os exageros do próprio longa – do roteiro e da direção. Coimbra poderia mergulhar mais na loucura do casal principal, que é, afinal, o eixo da história. Em vez disso, abre muito espaço para a investigação policial que se segue ao assassinato de Heitor e para figuras que ficam deslocadas na história. É o caso da bordadeira que toma o lugar das três bruxas com poder divinatório que, no início do texto do bardo britânico, predizem o destino de Macbeth – ocultando o que ele tem de monstruoso. Elias e César acabam de voltar de uma viagem de trabalho e, no caminho para a sede do banco, cruzam com uma bordadeira que leva no colo, em um de seus trabalhos, o nome do protagonista. Ao se aproximar, ele a ouve dizer: “Elias. Hoje, vice-presidente. Amanhã, presidente do banco”. Substituir as três bruxas é de fato necessário, mas de onde Coimbra e Manuela Dias, que divide com ele o roteiro, tiraram que uma bordadeira seria algo do século XXI?

Mais esquisita ainda é a figura alcoolizado do porteiro de Macbeth, aqui convertido em um faxineiro do banco que abre a porta da sala de Elias para César, quando ele quer vasculhar e investigar as gavetas do amigo. A personagem não apenas é dispensável, como estranha: seu texto é um decalque do que diz o porteiro da peça, ao abrir a porta da residência de Macbeth para o nobre Macduff. “Isso sim é que é bater! Quem fosse porteiro no inferno não faria outra coisa senão virar a chave. Bate, bate, bate, quem está aí, em nome de Belzebu? Eis que chega um lavrador que se enforcou, na expectativa de uma boa colheita”, diz o porteiro e, de modo muito semelhante, o faxineiro bêbado. Uma citação desnecessária, que, em vez de dar verniz, arranha o projeto.

É mesmo muito bom ver um diretor que quer oferecer mais do que uma comédia rasa, como as tantas que há por aí, para as massas. É só uma pena que A Floresta que se Move não se realize em toda a sua ambição.

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