’12 Horas para Sobreviver’ faz campanha sangrenta por Hillary
Terceiro filme da série ‘Uma Noite de Crime’ aproveita momento político para falar sobre extremos
Se a campanha eleitoral de Hillary Clinton fosse assinada pelo cineasta James DeMonaco, o resultado seria bem próximo do filme 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição. As associações entre o roteiro da distopia e a realidade são elevadas aos extremos — mas não deixam de ser críveis. Na trama, a loira senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell, de Lost) concorre à presidência dos Estados Unidos. Sua principal promessa de campanha é o fim da noite do expurgo. Enquanto seu concorrente, o religioso Edwidge Owens (Kyle Secor), reforça o partido ultraconservador que planeja manter o caminho de radicalismo que o país segue.
Pausa para falar sobre a tal noite de expurgo. Em um futuro não muito distante, os Estados Unidos aprovaram em sua legislação uma pausa de 12 horas na Justiça: uma janela de liberdade para a prática de crimes. Até homicídios são liberados. A polícia e os hospitais interrompem suas atividades durante o período. O discurso oficial diz que o ser humano é naturalmente violento, e que condensar em apenas uma noite todos os atos ilícitos faz com que, no geral, a criminalidade diminua. Simbolismos como o da grandeza da América e sua purificação também estão associados à lei. Nos bastidores, comenta-se que os assassinatos atingem principalmente pobres e negros, servindo assim como uma limpeza social e étnica do país, que fica cada vez mais branco e rico.
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O longa, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, é o terceiro da série assinada por DeMonaco, que antes fez Uma Noite de Crime (2013) e Uma Noite de Crime: Anarquia (2014). Assim como seus antecessores, o novo capítulo é violento e intenso — e não deve ser lido com leviandade.
Não é coincidência que o filme tenha sido lançado no mesmo ano em que Donald Trump caminha para ser tornar um dos políticos americanos mais controvertidos da história. O candidato à presidência americana, que conseguiu dividir até o Partido Republicano, se encaixa, assustadoramente, no perfil exibido pelo filme de terror e baixo orçamento. Porte de armas, xenofobia e racismo são temáticas da produção.
Em determinado momento, quando foge do atentado que tenta tirá-la da corrida presidencial, Charlie, a candidata loira — e exageradamente boa —, observa as atrocidades cometidas nas ruas durante o expurgo e se questiona: “como viemos parar aqui?”. Questão fácil de ser respondida sob a ótica de quem acompanha a política mundial de 2016.