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Cerca de metade dos estudantes brasileiros não aprende o que deveria durante ciclo de alfabetização

Prova ABC mostra que problema se concentra em escolas públicas e nas regiões Norte e Nordeste. Especialista diz que resultado é uma 'tragédia'

Por Nathalia Goulart
25 ago 2011, 12h00

Ao fim do terceiro ano do ensino fundamental, números e letras ainda são um mistério para cerca de metade das crianças brasileiras. É o que revela pesquisa divulgada nesta quinta-feira: aqueles estudantes não dominam as competências básicas de leitura, escrita e matemática. O problema se concentra nas escolas públicas nacionais, em especial nas unidades das regiões Norte e Nordeste.

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A pesquisa está baseada nos resultados da inédita Avaliação Brasileira do Final do Ciclo da Alfabetização, batizada Prova ABC, parceria entre o movimento independente Todos Pela Educação, o Instituto Paulo Montenegro/Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC). A avaliação foi feita no início deste ano letivo com 6.000 alunos do quarto ano de 250 escolas de todas as regiões do Brasil, medindo, portanto, os conhecimentos adquiridos na série anterior.

Os dados mostram que, em média, 43,9% desses estudantes deixam o ciclo de alfabetização sem aprender o que deveriam em leitura. Na lanterna, estão as escolas públicas do Nordeste, onde a taxa chega a 63,5%. Em matéria de escrita, 46,6% não têm o desempenho esperado, sendo que nas unidades dos governos nordestinos apenas uma em cada quatro crianças domina a competência. Em matemática, os números são ainda piores: 57,2% dos estudantes do país não conseguem fazer contas elementares de soma e subtração. Nas escolas públicas da região Norte, três em cada quatro crianças falham na tarefa.

Tragédia. É assim que a especialista em educação Elvira Souza e Lima classifica os resultados da pesquisa. “Se a criança não aprende a ler e a escrever apropriadamente nessa etapa da vida, seu desenvolvimento escolar fica comprometido”, afirma a especialista. E esse atraso acarretará prejuízos também a outras disciplinas. “Ler e escrever são habilidades essenciais: sem elas, a criança não consegue aprender outras matérias, inclusive matemática.”

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As revelações da pesquisa ajudam a explicar outras medições da má qualidade do ensino. Segundo levantamento divulgado no final do ano passado pelo Todos Pela Educação, apenas 11% dos estudantes deixam o ensino médio com o conhecimento apropriado em matemática e 28% sabem o que deveriam sobre língua portuguesa.

“Segundo o que mostra a nova pesquisa, com o aprendizado que as crianças obtêm no ciclo de alfabetização, é praticamente impossível obter sucesso acadêmico mais adiante”, afirma Elvira Souza e Lima. A explicação está na neurociência, garante a especialista. “Apos os oito anos de idade, o cérebro começa a se transformar e as condições já não são tão propícias à alfabetização. Sem um projeto pedagógico específico, não é possível ensinar a uma criança de 9 ou 10 anos o que se ensina a uma de 6 ou 7.”

Outra questão já conhecida dos brasileiros foi também reforçada pelos resultados da Prova ABC: a superioridade do ensino nas escolas privadas diante das instituições públicas. No quesito leitura, por exemplo, 97,7% estudantes das escolas particulares do Sudeste aprendem o que se espera, enquanto que apenas 53,8% dos alunos de unidades dos governos da mesma área geográfica obtiveram desempenho similar.

Outros indicadores já haviam indicado a mesma desigualdade. Na avaliação internacional do Pisa, feita pela OCDE (organização que reúne os países desenvolvidos), os alunos brasileiros da rede privada atingiram 502 pontos, enquanto os estudantes do setor público ficaram com apenas 387. Segundo os especialistas, é como se os alunos das escolas particulares estivessem três séries à frente de seus colegas das instituições públicas.

“Os alunos das escolas particulares em geral possuem uma formação mais sólida do que os estudantes da rede pública – o que facilita a alfabetização na educação fundamental. Isso explica em parte a diferença entre as redes”, explica João Horta, pesquisador do Inep, um dos responsáveis pela avaliação.

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