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Risco de apagão no Sul e Sudeste já supera 20%, aponta estudo

Segundo levantamento da consultoria Excelência Energética feito com base nos dados do ONS, risco de racionamento também está bem acima do ideal — em mais de 5%

Por Naiara Infante Bertão
5 fev 2014, 06h30

O risco de faltar energia para abastecer todo o sistema elétrico do Sudeste e Centro-Oeste, responsável por quase 70% do fornecimento de energia no Brasil, nas próximas semanas é de 20,20%. Para o Sul, essa probabilidade é de 20,75%. Os números foram levantados pela consultoria Excelência Energética a pedido do site de VEJA e são calculados com base nos dados do sistema do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A consultoria leva em conta a relação entre o regime de chuvas previstas, a demanda futura e a capacidade de geração do sistema (já incluindo as usinas termelétricas).

O estudo aponta ainda que o risco de racionamento é de 5,90% para o Sudeste e Centro-Oeste e 5,35% para o Sul. Segundo Erik Rego, da Excelência Energética, o ideal é que o risco de apagão esteja em menos de 5% e o de racionamento abaixo de 0,5%. “Os níveis de hoje são parecidos com os vistos em janeiro do ano passado. O problema hoje é que todos os geradores, transmissores e distribuidores estão sobrecarregados, sendo que já deveríamos estar diante de um cenário mais confortável em relação às chuvas. Todas as apostas são nas águas de março”, disse.

Nesta tarde de terça-feira houve um corte de energia elétrica em onze Estados (Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná). Segundo o ONS, problemas no Sistema Interligado Nacional causaram a interrupção do fornecimento de energia para os locais por cerca de 40 minutos. Em algumas cidades do Rio de Janeiro, o apagão durou duas horas. Para o governo, que convocou coletiva para explicar o ocorrido, não se trata de um blecaute devido à sobrecarga – mas os técnicos tampouco souberam explicar qual seria a outra razão da queda. Segundo Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, incidentes do tipo podem ser causados por queda de torres, queimadas ou problemas na proteção do sistema – mas não quis apostar em nenhuma das alternativas.

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Estima-se que 6 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelas falhas �- entre elas o consultor de energia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), cuja reunião foi interrompida quatro vezes na tarde de terça, em São Paulo. “Vivemos uma fórmula difícil. Muito calor, poucas chuvas, recordes de consumo de energia e térmicas já ligadas”, explica, acrescentando que a política de preço baixo da presidente Dilma, aliada ao estímulo ao consumo doméstico também ajudou a agravar a situação.

“A probabilidade de termos apagões ano que vem é muito grande porque as perspectivas para chuvas não são das melhores e os reservatórios (das hidrelétricas) não têm grande capacidade para armazenar água”, disse Pires. Ele acredita que falta um programa de eficiência energética que eduque o consumidor ao uso racional da energia, ao mesmo tempo em que incentive o uso do gás para algumas situações – chuveiro e sistema de refrigeração de casas e indústrias, por exemplo.

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A situação dos reservatórios das grandes cidades também já está em nível distante do ideal. O sistema Cantareira, que abastece 8 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, chegou a 21,7% da capacidade nos reservatórios nesta semana, a pior situação dos últimos 10 anos. Isso motivou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a propor um desconto de 30% na conta para quem economizar água.

Consequências – No quadro atual, os projetos de irrigação de hortifrútis que abastecem grandes centros urbanos com frutas e legumes já começam a ter problemas de fornecimento de água. O mesmo tem ocorrido com algumas indústrias (cimenteiras, siderúrgicas e de papel e celulose) que, aproveitando o alto preço da energia no mercado livre, deixam de produzir para vender essa capacidade de geração para o sistema elétrico – e acabam lucrando mais.

Nesta semana, o valor do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que é a taxa usada como referência nos contratos de energia do mercado livre, passou de 476 reais por megawatt-hora (MWh) para 822,83 reais – patamar não visto nem na época do racionamento, em 2001. O valor só não subiu ainda mais, segundo analistas, porque esse teto foi estabelecido por lei para o ano todo. “Esse momento é terrível para todo mundo. Não tem vencedor nesse jogo. É ruim para o mercado livre, porque ninguém se anima a firmar contratos com o preço no patamar atual; é ruim para as distribuidoras que precisam arcar com essa conta (de aumento de custos de geração); é ruim para o consumidor que vai ter de pagar essa conta em algum momento”, afirma Walter Froes, da CMU Energia.

Apesar do que afirmam especialistas do setor, o governo não dá sinais de preocupação. Na segunda-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi enfático ao afirmar que “não há risco de desabastecimento no país”. Ele disse também que o governo está trabalhando para que o nível dos reservatórios seja elevado, sem mencionar quais medidas estão sendo tomadas. A “dança da chuva”, talvez, seja uma opção.

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