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Ranking dos estados aponta o destino dos investimentos

A segunda edição do Ranking de Gestão dos Estados mostra quais deles são mais atrativos para empresas e investidores estrangeiros

Por Otávio Cabral
1 dez 2012, 08h53

A crise econômica internacional ampliou a possibilidade de atração de investimentos estrangeiros para o Brasil, que já estava no centro das atenções em razão da proximidade da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada do Rio, em 2016. Sem perspectivas de negócios nos países desenvolvidos, as grandes corporações voltaram seus olhos para as nações emergentes. Não é dinheiro fácil, ressalve-se. Apenas os estados que conseguem reduzir os obstáculos que afugentam os investidores, como a burocracia, a deficiência da mão de obra, as falhas na infraestrutura e a instabilidade das regras econômicas, é que estão se capacitando para receber tais recursos. Essas são as principais conclusões do segundo Ranking de Gestão dos Estados Brasileiros, divulgado na semana passada em São Paulo pelo Centro de Liderança Pública. O levantamento, elaborado pela Unidade de Inteligência do grupo inglês Economist, mostra pelo segundo ano seguido que somente seis estados apresentam ambiente de negócios adequado para quem pretende atuar no setor produtivo brasileiro: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Os catarinenses foram o destaque do ranking, ao ultrapassar o Distrito Federal e chegar à sexta colocação, graças aos investimentos em inovação e infraestrutura. São Paulo segue na liderança do levantamento, apesar de sua complexa estrutura tributária, que fez o estado perder pontos em relação a 2011.

“O ponto alto do ranking é que, entre os estados mais bem colocados, o ambiente político melhorou”, diz Luiz Felipe d’Avila, diretor-presidente do Centro de Liderança Pública. “Escândalos políticos à parte, a economia segue um ritmo previsível, sem mudanças bruscas de regras, o que dá segurança ao investidor.” A estabilidade permite parcerias entre a União e os estados, independentemente do partido dos governantes, em um avanço extraordinário. Essa saudável convivência pode ser vista em obras essenciais, como o Rodoanel, que interliga as principais estradas que cortam São Paulo, diminuindo os gastos com transportes e logística. A seminal obra é erguida com verbas dos governos federal (do PT), estadual (do PSDB) e municipal (do PSD). A meta de estudos desse tipo é fortalecer instituições e evitar o personalismo. Por isso, não é avaliado o desempenho dos governantes, mas sim o das políticas públicas implementadas por eles. “O sucesso de um país depende da força de suas instituições, e não do poder de seus governantes”, afirma d’Avila. “Nesse ponto o Brasil melhorou, enquanto o mundo piorou. A comparação com os vizinhos nos é muito favorável.” Claro sinal do sucesso são os 66 bilhões de dólares em investimento direto atraídos pelo Brasil em 2011, recorde histórico.

Dos oito quesitos analisados, houve evolução nos cenários de ambiente político, inovação e sustentabilidade. Na questão política, São Paulo e Rio Grande do Sul seguem à frente, apesar de terem situações distintas. No caso paulista, o mesmo grupo comanda o estado há dezesseis anos, o que permite uma invejável estabilidade. Já no Sul, a alternância de poder é constante – nos últimos doze anos, o estado foi governado por PT, PSDB e PMDB. Os principais projetos, contudo, são preservados, e o funcionalismo público qualificado é mantido, com poucas nomeações políticas. Um destaque foi o Piauí, que simplificou sua legislação e deu um salto do 19º para o 11º posto nessa categoria.

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Em inovação, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo estão entre os primeiros cinco colocados. Em comum, os três estados apresentam forte investimento em ensino técnico e universitário, o que reduz a dependência federal, frequente na maioria das unidades. Além disso, centros de pesquisa dos três locais disputam o título de “Vale do Silício” brasileiro: o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), o Sapiens Parque catarinense e o Parque Tecnológico do Rio. Todos têm instituições públicas de ensino que apoiam incubadoras de negócios, centros de pesquisa, laboratórios e empresas de referência em suas áreas de atuação. Já em sustentabilidade, destacaram-se no último ano dois estados historicamente apontados como campeões do desmatamento. O Pará deixou a rabeira do ranking para um honroso 12º lugar. Mato Grosso está na vice-liderança. Projetos de preservação em áreas historicamente devastadas, como Lucas do Rio Verde (MT) e Paragominas (PA), foram decisivos para o bom desempenho. Outro ponto fundamental, segundo d’Avila, foi a aprovação do Código Florestal pelo Congresso Nacional: ele deu ao setor regras mais claras, facilitando assim a fiscalização e a atração de capital produtivo.

Enquanto em alguns pontos o Brasil se aproxima dos países desenvolvidos, em outros segue no pré-capitalismo, afugentando capital. O marco regulatório ainda é caótico. Um estudo do Fórum Econômico Mundial mostrou que o ambiente de negócios brasileiro é o 48º entre 144 países analisados. Em dezenove estados, incluído São Paulo, houve mais de vinte decretos modificando a legislação tributária a cada mês. A burocracia é outro entrave. Abrir uma empresa no Brasil em 2011 levou em média 119 dias. Nos Estados Unidos, o prazo variou de uma semana a nove dias. A nossa carga tributária é a mais alta entre os países em desenvolvimento. Em dezenove unidades da federação, as estradas são consideradas ruins ou péssimas. Há alguns alentos na área de infraestrutura, como o pacote de privatizações anunciado pela presidente Dilma Rousseff. Mas os gargalos ainda dificultam o escoamento da produção e aumentam o custo dos produtos feitos no Brasil. Nesse cenário turvo, alguns estados conseguem ser ainda piores. É o caso do Maranhão, que deixou de receber um investimento de uma das maiores fabricantes de papel do mundo em decorrência da vergonhosa deficiência na infraestrutura e da dificuldade no registro de terra – era só a empresa interessar-se por uma área que quatro ou cinco proprietários apareciam com escrituras diferentes. Neste ano, um novo indicador foi acrescentado ao ranking: o de segurança pública, que também joga o Brasil para baixo – o país tem 27 homicídios por 100 000 habitantes, ante os 6,9 da média internacional.

Para os otimistas, o copo brasileiro está meio cheio. Para os pessimistas, meio vazio. O relatório, que é atualizado anualmente, apresenta números para as duas leituras. Levantamentos como esse são cruciais para ajudar os administradores públicos a aferir os problemas de sua gestão e buscar soluções que aumentem sua capacidade de atrair investimentos, sejam eles nacionais, sejam eles estrangeiros.

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