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Negociações não avançam e tensão cresce nos EUA

Governo americano segue com duas propostas à mão: a do senador democrata Harry Reid, e a do deputado republicano John Boehner; impasse permanece

Por Carolina Guerra
26 jul 2011, 21h55
contagem regressiva para o estouro do teto da dívida americana
contagem regressiva para o estouro do teto da dívida americana (VEJA)

Desde o discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em rede nacional de televisão na noite de segunda-feira, quase não houve avanço nas negociações sobre a elevação do teto da dívida americana. Enquanto os partidos (republicano e democrata) e a presidência não chegam a um acordo, o país aproxima-se perigosamente da data-limite de 2 de agosto – a partir de quando o governo não poderá emitir novas dívidas e ficará sem dinheiro para cobrir despesas. Tamanha proximidade mexe com os humores, não só dos mercados financeiros, mas também dos cidadãos americanos.

Nesta terça-feira, a tensão cresceu ainda mais graças a uma notícia vinda de Washington. A Casa Branca, em uma mostra de que pretende endurecer sua postura, divulgou um comunicado em que afirma abertamente que, sem o aumento do teto da dívida, haverá moratória. De acordo com a presidência, os Estados Unidos não possuem “espaço de manobra” para evitar o default (calote).

Confira as novas propostas do Congresso para quadro fiscal americano

O Tesouro estima que, após 2 de agosto, ou seja, daqui a uma semana, o limite da dívida, atualmente em 14,2 trilhões de dólares, será atingido. A partir disso, o governo ficará sem recursos suficientes para cobrir os gastos. Especialistas estimam que serão necessários cortes imediatos da ordem de 45% do Orçamento e a Casa Branca não será capaz de honrar seus compromissos financeiros com os juros dos títulos da dívida – pagos a credores como China e Brasil, por exemplo.

Em vista disso, instituições financeiras de peso começam a duvidar que o acordo sairá a tempo. “É possível que este drama do Orçamento se estenda até o meio de agosto, quando o Tesouro será de fato incapaz de cumprir com suas obrigações de pagamentos”, aponta um relatório divulgado pelo banco britânico HSBC. É que, diferentemente do que afirma a Casa Branca, a instituição financeira avalia que o Tesouro conseguiria evitar o calote por mais alguns dias. O órgão, na visão do HSBC, poderia vender alguns ativos antes de ver seus recursos se esvaírem por completo.

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Desgaste político – Independentemente da data correta da moratória (se em 2 ou em 15 de agosto), a tensão já é grande entre os americanos. Pesquisa da Reuters/Ipsos, divulgada nesta terça-feira, revelou que 83% dos entrevistados disseram estar preocupados com um fracasso das negociações sobre a dívida, sendo que 54% afirmaram estar muito apreensivos.

Os partidos têm dificuldade de fechar um acordo graças à crescente politização, que já beira à irresponsabilidade, do debate. A preocupação é com a corrida eleitoral de 2012. O tiro, contudo, pode sair pela culatra. O estudo aponta que 31% das pessoas culpariam os republicanos por uma moratória da dívida soberana. O presidente seria apontado como responsável por 21% dos cidadãos. Já os políticos democratas têm a imagem menos prejudicada: apenas 9% veriam neles a culpa por um calote.

Planos – Neste ambiente de visível desgaste político, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, passou o dia insistindo num plano que prevê cortes da ordem de 3 trilhões de dólares e impõe limites a gastos futuros. As chances de o projeto decolar, contudo, são mínimas. A proposta enfrenta críticas dentro de seu próprio partido, especialmente do “Clube do Crescimento” – um grupo de senadores contrário ao aumento de impostos. Para eles, a proposta de Boehner não oferece soluções – entendam-se cortes – suficientes para a questão fiscal. Além disso, um estudo do Departamento de Orçamento do Congresso (CBO, em inglês) dos EUA anunciou que o plano de redução do déficit público apoiado pelo Partido Republicano diminuiria em ‘apenas’ 850 bilhões de dólares o buraco nas contas do governo federal ao longo dos próximos 10 anos – ou 350 bilhões de dólares a menos do que previam os membros do partido. Por conta disso, o deputado Boehner já estaria trabalhando em uma reformulação do plano.

Novas propostas em discussão nos Estados Unidos para lidar com problemas fiscais
Novas propostas em discussão nos Estados Unidos para lidar com problemas fiscais (VEJA)

Do lado democrata, há a opção apresentada pelo senador Harry Reid (veja quadro), que tende a ser endossada por Obama. O projeto prevê aumento do teto da dívida em 2,7 trilhões de dólares até 2012 e cortes com o mesmo valor, ou seja, da ordem de 2,7 trilhões de dólares. A proposta, que ainda não foi colocada em votação, atende a duas demandas dos republicanos. Em primeiro lugar, não contempla a elevação dos impostos e, em segundo, o valor do corte é pelo menos equivalente ao valor do acréscimo no teto da dívida.

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O senador republicano Mitch McConell – o mesmo que chegou a traçar um plano que daria poderes excepcionais ao presidente Obama para que pudesse aumentar o teto sozinho – chamou, mais uma vez, os políticos ao consenso. “Não há como chegar a uma solução perfeita, partindo do ponto de vista que controlamos apenas a Câmara dos Representante. Por isso estou preparado para aceitar algo menos que perfeito”, afirmou o senador, conforme informou a CNN.

Nervosismo – Por conta desta indefinição, e da possibilidade de moratória, além da revisão da nota de classificação de risco americana, a cotação do dólar caiu no mundo todo. No Brasil, os efeitos também foram sentidos. O valor do dólar à vista fechou a 1,5388 real para venda, com baixa de 0,35%. Na mínima do dia, a divisa chegou a ter declínio de cerca de 1%, para 1,5284 real.

As bolsas também sentiram. Em São Paulo, o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) fechou com queda de 1,05%, a 59.339 pontos. Já o Dow Jones mostrou um decréscimo de 0,73%. Investidores em geral venderam ações e dólares e compraram ouro e petróleo. Ironicamente, subiram também os preços dos títulos do Tesouro dos EUA – provável reflexo da falta de opções para investimentos ‘seguros’.

Até a nova chefe do Fundo Monetário Internacional, a francesa Christine Lagarde, resolveu interferir. De acordo com ela, os líderes americanos devem mostrar a mesma ‘coragem política’ que os líderes europeus mostraram no caso grego.

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